Nelson Mandela, idoso e frágil, vive recluso em sua casa em Johannesburgo. Do lado de fora dos altos muros da propriedade, a luta por sua imagem e pelo que ela representa já começou. O sentimento de possibilidade que Mandela incorporou está se dissipando na medida em que o buraco entre pobres e ricos se alarga no país.
Apesar do acontecimento memorável de realizar eleições pacíficas após o apartheid, que levaram Mandela ao governo, o país agora lida com outras dificuldades. Além disso, muitos sul-africanos acreditam que seus líderes estão mais interessados em se ajudarem do que em ajudar a nação.
A população, preocupada com o alto desemprego e outros problemas, tende a comparar a atual liderança do país com o currículo de Mandela de defensor da liberdade e de primeiro negro a ser presidente da África do Sul. Portanto, não é surpresa que políticos usem essa imagem a seu próprio favor.
Reclusão
Mandela não fala mais em público. Ele se aposentou após um único mandato como presidente, que terminou em 1999, e em seguida se engajou na defesa da paz e no combate à aids e outras causas. Sua última aparição pública foi em um grande palco em 2010, quando a África do Sul sediou a Copa do Mundo.
Em abril, o presidente do país, Jacob Zuma, e outros líderes de seu partido o Congresso Nacional Africano (ANC) visitaram Mandela na casa do ex-presidente.
Após o encontro, Zuma disse que Mandela, de 94 anos, estava "alegre e em bom estado". Mas um vídeo da visita veiculado pela televisão estatal mostrou Mandela em uma poltrona, com sua cabeça sobre um travesseiro e suas pernas estendidas e cobertas por um lençol, com aspecto sombrio e sério. Suas bochechas mostravam marcas do que parecia ser uma máscara de oxigênio, retirada recentemente.
No vídeo, Zuma faz piada e ri juntamente com duas autoridades do seu partido, familiares de Mandela e sua equipe médica, enquanto o ex-presidente olha em frente, sem qualquer tipo de reação. Zuma tenta segurar a mão de Mandela, mas, sem resposta, acaba cobrindo-a com sua própria mão.
Manobra
As imagens perturbaram algumas pessoas, que consideraram a visita uma manobra para melhorar a imagem de Zuma. Mas o partido do presidente insistiu que a visita não tem relação com as eleições do ano que vem e que o objetivo era somente mostrar respeito a um tesouro nacional.
Nobel da Paz critica partido de ex-líder
O arcebispo anglicano aposentado Desmond Tutu, que, como Mandela, conquistou o Prêmio Nobel da Paz pelo combate ao apartheid, criticou o partido governista Congresso Nacional Africano (ANC) quando comentou o estado de saúde de Mandela no início de maio. "A melhor homenagem a Nelson Mandela seria uma democracia que realmente funcionasse, uma democracia na qual toda pessoa na África do Sul soubesse que ela importa e em que todos soubessem que cada pessoa importa", disse.
Tutu afirmou que a África do Sul precisa de uma mudança política e que as críticas ao ANC só não estão sendo expressadas porque os sul-africanos acreditam que seria um "tapa na cara de Mandela", que chegou a liderar o movimento que se tornou um partido político.
Os jovens do ANC rebateram os comentários de Tutu. "Os jovens, que constituem um grande bloco de eleitores do país, esperam que o arcebispo e outros líderes falem a verdade, ancorada em realidade e fatos, e não informações baseadas na criatividade e na imaginação", disseram, em comunicado.
O governo, no entanto, informou que o desemprego no primeiro trimestre deste ano superou 25%. Analistas afirmam que o alto nível de desemprego foi causado pelo fraco crescimento econômico e pelas demissões no setor de mineração e em outras indústrias que passam por dificuldades. Além disso, protestos contra a falta de água, energia e outros serviços do governo eclodem periodicamente em algumas comunidades sul-africanas.