Artista Paul Blomkamp exibe retrato gigante de Mandela. Imagem do líder ganha as ruas e, em muitos casos, é usada por políticos| Foto: Mike Hutchings/ Reuters

Vantagem econômica

Familiares também tiram proveito do símbolo sul-africano

Em todo o país, o rosto de Mandela é uma visão comum, estampada em camisetas e nas novas notas emitidas pelo Banco Central. As pontes, os hospitais e as escolas carregam o nome do expresidente. E as estátuas dele estão por todo lado, incluindo uma de bronze em uma praça que leva o seu nome, em um bairro de classe média alta em Johannesburgo. O nome de Mandela também está sendo usado comercialmente por membros de sua família. Existe uma marca de vinhos chamada "Casa de Mandela" e duas de suas netas estrelam um reality show na televisão chamado "Como é ser uma Mandela". Além disso, alguns membros da família tentam excluir aliados antigos de Mandela do controle de duas empresas e a disputa já chegou ao Judiciário.

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US$ 111 milhões do dinheiro dos contribuintes sul-africanos foram perdidos para a corrupção somente no ano passado.

Nelson Mandela, idoso e frágil, vive recluso em sua casa em Johannesburgo. Do lado de fora dos altos muros da propriedade, a luta por sua imagem e pelo que ela representa já começou. O sentimento de possibilidade que Mandela incorporou está se dissipando na medida em que o buraco entre pobres e ricos se alarga no país.

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Apesar do acontecimento memorável de realizar eleições pacíficas após o apartheid, que levaram Mandela ao governo, o país agora lida com outras dificuldades. Além disso, muitos sul-africanos acreditam que seus líderes estão mais interessados em se ajudarem do que em ajudar a nação.

A população, preocupada com o alto desemprego e outros problemas, tende a comparar a atual liderança do país com o currículo de Mandela de defensor da liberdade e de primeiro negro a ser presidente da África do Sul. Portanto, não é surpresa que políticos usem essa imagem a seu próprio favor.

Reclusão

Mandela não fala mais em público. Ele se aposentou após um único mandato como presidente, que terminou em 1999, e em seguida se engajou na defesa da paz e no combate à aids e outras causas. Sua última aparição pública foi em um grande palco em 2010, quando a África do Sul sediou a Copa do Mundo.

Em abril, o presidente do país, Jacob Zuma, e outros líderes de seu partido – o Congresso Nacional Africano (ANC) – visitaram Mandela na casa do ex-presidente.

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Após o encontro, Zuma disse que Mandela, de 94 anos, estava "alegre e em bom estado". Mas um vídeo da visita veiculado pela televisão estatal mostrou Mandela em uma poltrona, com sua cabeça sobre um travesseiro e suas pernas estendidas e cobertas por um lençol, com aspecto sombrio e sério. Suas bochechas mostravam marcas do que parecia ser uma máscara de oxigênio, retirada recentemente.

No vídeo, Zuma faz piada e ri juntamente com duas autoridades do seu partido, familiares de Mandela e sua equipe médica, enquanto o ex-presidente olha em frente, sem qualquer tipo de reação. Zuma tenta segurar a mão de Mandela, mas, sem resposta, acaba cobrindo-a com sua própria mão.

Manobra

As imagens perturbaram algumas pessoas, que consideraram a visita uma manobra para melhorar a imagem de Zuma. Mas o partido do presidente insistiu que a visita não tem relação com as eleições do ano que vem e que o objetivo era somente mostrar respeito a um tesouro nacional.

Nobel da Paz critica partido de ex-líder

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O arcebispo anglicano aposentado Desmond Tutu, que, como Mandela, conquistou o Prêmio Nobel da Paz pelo combate ao apartheid, criticou o partido governista Congresso Nacional Africano (ANC) quando comentou o estado de saúde de Mandela no início de maio. "A melhor homenagem a Nelson Mandela seria uma democracia que realmente funcionasse, uma democracia na qual toda pessoa na África do Sul soubesse que ela importa e em que todos soubessem que cada pessoa importa", disse.

Tutu afirmou que a África do Sul precisa de uma mudança política e que as críticas ao ANC só não estão sendo expressadas porque os sul-africanos acreditam que seria um "tapa na cara de Mandela", que chegou a liderar o movimento que se tornou um partido político.

Os jovens do ANC rebateram os comentários de Tutu. "Os jovens, que constituem um grande bloco de eleitores do país, esperam que o arcebispo e outros líderes falem a verdade, ancorada em realidade e fatos, e não informações baseadas na criatividade e na imaginação", disseram, em comunicado.

O governo, no entanto, informou que o desemprego no primeiro trimestre deste ano superou 25%. Analistas afirmam que o alto nível de desemprego foi causado pelo fraco crescimento econômico e pelas demissões no setor de mineração e em outras indústrias que passam por dificuldades. Além disso, protestos contra a falta de água, energia e outros serviços do governo eclodem periodicamente em algumas comunidades sul-africanas.