O recém-publicado balanço de gastos militares de 2023 do think tank Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) trouxe um dado surpreendente: a Polônia, vizinha de dois países em guerra, a Ucrânia e a Rússia, quase dobrou suas despesas com defesa no ano passado.
Segundo o estudo, os gastos de Varsóvia no setor, que foram de US$ 13 bilhões em 2022, subiram para US$ 23,5 bilhões no ano seguinte.
Num momento em que os países da OTAN discutem a meta de gastar ao menos 2% do PIB em defesa, a Polônia chegou em 2023 a despesas na área que equivalem a 3,9% do total de riquezas produzidas no país. Foi o patamar mais elevado da aliança militar do Ocidente, pouco acima do segundo colocado, os Estados Unidos (3,49%).
A preocupação da Polônia não é infundada. Na entrevista ao jornalista americano Tucker Carlson este mês, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, negou ter intenção de invadir outros países da região, como Polônia e Letônia.
Entretanto, nas semanas anteriores à invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, o Kremlin também vinha negando que a concentração de tropas na fronteira tinha o objetivo de iniciar uma ofensiva militar contra a ex-república soviética.
A Ucrânia responde por parte do aumento do investimento polonês em defesa, já que muitos gastos de Varsóvia nesse setor nos últimos dois anos foram para repor equipamentos, armas e munição enviados para ajudar Kiev na guerra contra os russos.
Em setembro do ano passado, o partido Lei e Justiça anunciou o corte da ajuda militar à Ucrânia, alegando que pretendia concentrar investimentos em autodefesa.
Desde então, a oposição chegou ao poder, e o governo do novo premiê Donald Tusk afirmou que pretende aumentar a produção de munições e equipamentos para continuar ajudando Kiev.
Ainda assim, o gabinete do primeiro-ministro e a presidência da Polônia, ainda ocupada por Andrzej Duda, do Lei e Justiça, concordam que o país que tanto sofreu nas mãos dos russos no século XX precisa investir mais em autodefesa para se precaver contra a ameaça de Moscou.
Em entrevista no início do mês ao jornal Wieczorny Express, o ministro da Defesa, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, admitiu a possibilidade de um ataque russo a países da OTAN após uma eventual vitória de Putin sobre a Ucrânia.
“Considero todos os cenários e levo o pior deles muito a sério”, disse Kosiniak-Kamysz.
“A situação no mundo é muito grave. Não é só a Ucrânia. É também o Mar Vermelho e o oceano Pacífico. Precisamos estar preparados para qualquer cenário, por isso, estamos fazendo uma auditoria, tirando conclusões, preenchendo lacunas, por exemplo, em termos de armas”, afirmou o ministro.
Na última quarta-feira (14), Duda se reuniu com Jim Taiclet, CEO da empresa americana Lockheed Martin, gigante da indústria bélica, e o presidente polonês enfatizou “a importância de manter a continuidade dos investimentos na modernização do exército”, segundo comunicado do Departamento de Segurança Nacional.
Segundo a Associated Press, a Polônia está investindo dezenas de bilhões de dólares na compra de armas e equipamentos militares da Coreia do Sul e dos Estados Unidos, incluindo sistemas Himars, tanques Abrams e caças F-35. Com um vizinho como Putin, quem não o faria?