Curitiba A morte do ex-espião russo Alexander Litvinenko por polônio 210, ocorrida em Londres no dia 23 de novembro, colocou os serviços secretos britânicos para trabalhar. O elemento radioativo polônio 210 nomeado em homenagem a sua descobridora, a polonesa Marie Curie, depois radicada na França é um dos mais raros da natureza. Há duas maneiras de conseguir a substância. Naturalmente, pela desintegração do urânio 238, ou artificialmente, fabricando-o em usinas nucleares por meio de um processo de bombardeamento de nêutrons. Como para cada tonelada de urânio no planeta, encontra-se apenas cem milésimos de grama do polônio, é muito mais provável que a porção encontrada no corpo de Litvinenko tenha sido produzida em algum reator. Mesmo o polônio fabricado, teoricamente controlado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), é tão raro que apenas cerca de cem gramas foram produzidos nos últimos anos. O bastante para muitas doses letais, porém.
Uma dose letal de polônio-210 precisa conter apenas 0,1 micrograma, o equivalente a uma partícula de um comprimido de vitamina C dividido em 10 milhões de porções iguais. "Se ingerido, o ataque inicial será no sistema digestivo, se for inalado, nos pulmões. Mas em ambos os casos eventualmente o corpo inteiro será atacado. A morte acontece normalmente devido à falta dos glóbulos brancos, que somem antes dos vermelhos", explica a professora do Departamento de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Carol Collins.
Radiação
Uma característica do polônio 210 o torna especialmente atrativo para fins de envenenamento. "A meia-vida (de 138 dias) é razoável para fins de envenenamento. Não é nem tão curta que não permita o transporte, nem tão longa, a ponto de levar anos para ter efeito", diz Carol.
Por fazer parte da categoria dos alfa-emissores (partículas grandes e pesadas), o polônio 210 não tem grande poder de penetração e pode ser contido, inclusive, com uma folha de papel (veja quadro ao lado). Uma pessoa que tenha apenas ficado próxima a alguém contaminado, portanto, não corre riscos de envenenamento. "Existe potencial de dano radiológico apenas para as pessoas que tenham ingerido ou inalado o fluído de alguém contaminado, como urina, fezes ou vômito", informa a agência britânica de proteção à saúde, a Health Protection Agency (HPA).
Para o professor de Física da Universidade Federal do Paraná, Cesar Cusatis, um ataque em massa com o polônio 210 é viável, mas o problema está na aquisição do elemento em grandes quantidades. "Seria muito letal e até é viável, mas o grande problema é onde conseguir uma quantidade tão grande do elemento?", diz.
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