Na página de opinião do Wall Street Journal desta quarta-feira (24), o ex-secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo, junto com Miles Yu, seu principal conselheiro de política para a China, escreveram que "os laboratórios negligentes da China colocam o mundo em risco" e vão direto ao ponto de declarar abertamente que a pandemia de coronavírus é o resultado de um acidente no Instituto de Virologia de Wuhan (WIV).
Pompeo e Yu não apontam para nenhuma evidência nova ou definitiva, mas apontam para algumas evidências circunstanciais que não têm recebido muita atenção. Talvez mais notavelmente, a coluna de opinião declara: “Em janeiro de 2021, o Departamento de Estado confirmou que as pessoas adoeceram misteriosamente no WIV no outono de 2019 e que o WIV conduz pesquisas secretas de bioarmas com o PLA [exército chinês - Exército de Libertação Popular]”.
O artigo ecoa o informativo emitido pelo departamento, que começou com a nota de advertência de que o governo dos EUA não sabia como o vírus se espalhou pela primeira vez em humanos, mas depois continuou: “O governo dos EUA tem motivos para acreditar que vários pesquisadores dentro da WIV ficaram doentes no outono de 2019, antes do primeiro caso identificado do surto, com sintomas consistentes com Covid-19 e doenças sazonais comuns”.
No domingo passado, o ex-assessor de segurança nacional adjunto do presidente Trump, Matt Pottinger, disse no programa Face the Nation da CBS News:
"Temos motivos muito fortes para acreditar que os militares chineses estavam fazendo experimentos secretos com animais classificados naquele mesmo laboratório, desde pelo menos 2017. Temos bons motivos para acreditar que houve um surto de doença semelhante à gripe entre os pesquisadores trabalhando no Instituto de Virologia de Wuhan no outono de 2019 – imediatamente antes dos primeiros casos documentados virem à tona".
A China assinou a Convenção de Armas Biológicas (BWC, na sigla em inglês) em 1984, que proíbe o desenvolvimento, produção, aquisição, transferência, armazenamento e uso de armas biológicas.
A China afirma que está em total conformidade com o pacto; o governo dos EUA discorda. Em 2019, o relatório atualizado do Departamento de Estado dos EUA sobre o cumprimento dos acordos de controle de armas concluiu que:
"A República Popular da China envolveu-se durante o período do relatório em atividades biológicas com possível dupla aplicação [servindo tanto para uso civil quanto militar], o que levanta preocupações quanto à sua conformidade com o BWC. Além disso, os Estados Unidos não têm informações suficientes para determinar se a China eliminou seu programa de guerra biológica avaliado, conforme exigido pelo Artigo II da Convenção".
O relatório acrescentou que "as informações disponíveis sobre estudos de pesquisadores em instituições médicas militares chinesas frequentemente identificam atividades biológicas de natureza possivelmente anômala, uma vez que as apresentações discutem a identificação, caracterização e teste de numerosas toxinas com potenciais de dupla aplicação".
Não é surpreendente, incomum ou necessariamente uma violação do tratado que o governo chinês esteja particularmente interessado em pesquisar vírus potencialmente perigosos. O primeiro surto de SARS estourou na província de Guangdong em 2003 – cerca de 900 quilômetros de Wuhan. Mesmo depois que o surto inicial de SARS diminuiu, o perigo da doença para os cidadãos chineses persistiu. Em 2004, o SARS escapou do laboratório de pesquisa de Pequim dos Centros Chineses de Controle de Doenças. Duas vezes.
Em 2017, pesquisadores “identificaram uma única população de morcegos-de-ferradura que abriga cepas de vírus com todos os blocos de construção genéticos da SARS” na província de Yunnan – cerca de 740 milhas de Guangdong. Nos esforços para identificar a origem do surto de SARS, milhares de morcegos-de-ferradura e amostras de sangue e vírus destes animais foram coletados por Shi Zheng-Li e Cui Jie, do Instituto de Virologia de Wuhan.
O Instituto de Virologia de Wuhan manteve "centenas" de amostras de coronavírus encontradas em morcegos, mas a equipe do WIV insiste que o SARS-CoV-2 não corresponde a nenhuma de suas amostras. Separadamente, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Wuhan coleta suas próprias amostras de coronavírus em morcegos; como notou o Washington Post, “um vídeo publicado em dezembro de 2019 mostra Tian Junhua, um proeminente pesquisador baseado no WHCDC, conduzindo pesquisas de campo em morcegos sem equipamento de proteção adequado”. No entanto, muitos continuam a insistir que o vírus deve ter surgido de alguma terceira fonte natural não laboratorial envolvendo uma espécie de morcego encontrada a milhares de quilômetros da cidade de Wuhan.
O fato de que o Instituto de Virologia de Wuhan pode ter trabalhado com o Exército de Libertação do Povo em pesquisas de "dupla aplicação" não significa automaticamente que o vírus é uma arma biológica ou se destinava a ser usado como uma arma biológica. Muitas pesquisas de vírus se enquadram em pesquisas de dupla aplicação, até mesmo de ganho de função, que “aumentam a patogenicidade ou transmissibilidade de patógenos pandêmicos em potencial” – em outras palavras, as tornam mais perigosas. Alguns virologistas afirmam que, se você deseja saber como deter um vírus mortal e contagioso, precisa estudar os vírus letais e contagiosos em laboratório. Outros argumentam que o risco de exposição ou liberação acidental é muito alto para fazer esse tipo de pesquisa valer a pena.
Se o governo chinês estava pesquisando vírus para uso futuro potencial como uma arma biológica no Instituto de Virologia de Wuhan, em violação da Convenção de Armas Biológicas, isso pode explicar os esforços pesados do governo chinês para suprimir notícias sobre o surto e as suspeitas gerais acerca desta atitude desde o início da pandemia.
*Jim Geraghty é correspondente político sênior da National Review.
© 2021 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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