Apesar da pressão da oposição, que fez até greve de fome, entre outros atos hostis, pesquisas indicam que Evo Morales será ratificado| Foto: Jorge Silva/Reuters
Conheça os governantes bolivianos
Veja outras características do referendo boliviano
Veja também
  • Especialista defende a presença das Nações Unidas
CARREGANDO :)

O presidente da Bolívia será testado novamente nas urnas. Evo Morales e oito dos nove governadores serão submetidos ao voto popular para saber se continuam, ou não, nos cargos. A disputa pode não acabar domingo, pois deve ser levada à Justiça pelos "revogados", ainda que as chances de vitória nesse caso sejam mínimas. No referendo, os eleitores bolivianos deverão definir se querem o líder indígena à frente do Palácio Quemado – e as pesquisas indicam que Evo Morales será ratificado.

O professor de Ciência Política Jorge Lazarte lembra que a realização do evento aconteceu graças à oposição que, em momento de fraqueza do governo, apostou no referendo como cartada final, pois forçaria o presidente a vetar a lei. Mas não foi isso o que aconteceu: Evo Morales aceitou participar do referendo e ganhou novo ânimo.

Publicidade

Fratura

Vários episódios que aconteceram na semana revelam um país dividido. Em um dos casos, Morales teve de desmarcar o encontro que teria com os colegas de Argentina, Cristina Kirchner, e de Venezuela, Hugo Chávez, devido à pressão popular. O presidente também não pôde pousar em Santa Cruz de La Sierra, maior reduto oposicionista, devido a atos hostis no aeroporto local. A oposição ainda iniciou greve de fome para reivindicar a volta do repasse do Imposto Direto sobre Hidrocarbonetos, uma das mais importantes fontes de renda da Bolívia, e mais uma vez exige a aplicação das autonomias aprovadas em votações ilegais.

Para o analista Ricardo Paz, o referendo tem pouco poder para melhorar a absoluta polarização entre governo e oposição. "É um ato inútil que não corresponde à gravidade do momento que vive o país. Aprofunda os desentendimentos e as contradições", avalia.

Cenários

Há três cenários possíveis – e o segundo deles é o mais provável: uma vitória esmagadora de Evo Morales, um sucesso suficiente para que o líder se mantenha no cargo, e a revogação do mandato. No último caso, mesmo com a revogação pouco mudaria. Morales convocaria novas eleições em que ele seria o favorito para vencer. Ainda assim, o professor Jorge Lazarte considera que qualquer desfecho será ruim para o governo. Ele pensa que "está claro que o resultado do referendo vai ratificar uma Bolívia dividida". Para Lazarte, pensar que uma vitória ampla abre caminho para aprovar a nova Constituição sem precisar se abrir ao diálogo é uma via curta para o enfrentamento.

Publicidade

O analista Ricardo Paz concorda que a violência é um efeito provável, ainda que não haja condições logísticas para uma guerra civil, uma vez que não há dois exércitos montados e que as Forças Armadas provavelmente interviriam no sentido de acabar com os conflitos. Além disso, ele lembra que nenhum dos lados tem poder para vencer o outro, nem mesmo politicamente. Ou seja, será preciso, em algum momento, sentar para conversar.