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Ao sair da Marinha, o jovem Bob Woodward percebeu que precisava de um emprego. O problema é que não sabia direito o que queria. Arriscou um palpite: candidatou-se a uma vaga de repórter no The Washington Post. Isso foi em 1970. O editor, depois de esbravejar muito contra a petulância do rapaz, deu a ele uma chance. Depois de apenas uma semana, Bob foi mandado embora. Não desistiu. Trabalhou por um ano em um pequeno jornal do estado norte-americano de Maryland. Com a experiência, voltou ao Post no ano seguinte. Em pouco tempo, ele faria, ao lado de Carl Bernstein, algumas das reportagens mais importantes da história do século 20.

O início da carreira de Bob Woodward, um dos responsáveis por descobrir e publicar os fatos que derrubaram Richard Nixon da presidência dos Estados Unidos em 1974, está narrado em O Homem Secreto, o livro que o velho repórter do Post publicou no mês passado para finalmente contar o maior segredo da história do jornalismo norte-americano. Afinal, como os dois repórteres, jovens e praticamente inexperientes, conseguiram informação suficiente para acabar com a carreira política do homem que ocupava o cargo de maior influência política no mundo?

O Homem Secreto estava pronto na gaveta há algum tempo. Woodward tinha deixado tudo encaminhado para quando pudesse finalmente publicá-lo. Para isso, precisava que uma de duas coisas acontecessem. Seu informante, eternizado no livro e no filme Todos os Homens do Presidente com a alcunha de Garganta Profunda, precisava morrer ou se auto-denunciar como a fonte das informações. Isso porque Woodward, nos anos 70, havia asssumido o compromisso de nunca contar a ninguém quem era o figurão que vazava as informações da Casa Branca para ele.

Em maio deste ano, depois de mais de três décadas de segredo, Mark Felt, o ex-número 2 do FBI, a polícia federal dos EUA, finalmente assumiu que era o Garganta Profunda. Aos 91 anos, com sérios problemas de memória, ele decidiu anunciar ao mundo o seu maior sigilo. Em apenas dez dias, Woodward, com auxílio de dois colegas, pôs ponto final nos ajustes que precisou fazer no livro.

O Homem Secreto conta a história do relacionamento de Woodward e Felt. Os dois se conheceram por acaso na Casa Branca. Tenente, Woodward cumpria uma missão sigilosa. Felt estava sentado a seu lado. Os dois começaram a conversar. E o rapaz, querendo conhecer gente influente, decidiu puxar papo. Apesar do ar sisudo do homem mais velho, que não contou muito bem o que fazia da vida, os dois acabaram firmando um tipo de contato.

Depois de assumir de vez seu posto de repórter, Woodward se viu diante de uma grande crise política quando gente do Partido Republicano foi pega invadindo a sede dos opositores, do Partido Democrata. Era tempo de eleição. Nixon era candidato à reeleição. Em breve os fatos começaram a fazer sentido. E Woodward recorreu a seu conhecido para ver se descobria algo mais sobre o assunto.

O escândalo de Watergate só chegou aonde chegou porque Mark Felt colaborou com os repórteres do Post. A investigação oficial sabia até mais que os jornalistas. Mas Nixon forçava para que a apuração fosse barrada e nada divulgado. Com Felt abrindo tudo para a imprensa, o governo viu pouco a pouco ruir sua estratégia de silenciamento. E depois de garantir sua reeleição, o presidente acabou forçado a renunciar. Sua ligação com a espionagem dos Democratas e com outros crimes se tornou evidente demais.

No livro, Woodward conta seu relacionamento com Felt, mostra como eles esconderam a identidade do Garganta Profunda por mais de 30 anos e também arrisca um ou outro palpite para a motivação de seu informante. Funcionário de carreira do FBI, Felt tinha a esperança de suceder J. Edgar Hoover, o homem forte da instituição. Porém, quando Hoover morreu, Nixon escolheu outro para o posto. Além disso, Felt viu as investigações do FBI serem barradas pelo presidente. E pode ter tomado a decisão de contar o que sabia para evitar que o trabalho de seus colegas fosse posto em xeque.

Woodward conta ainda que vários anos depois de Watergate chegou a procurar Felt, para saber de seu ex-informante. Já na velhice, Felt não lembrava do que tinha acontecido. Woodward tentou de todo jeito fazer ele se lembrar do que considerava um papel heróico na história dos Estados Unidos. Pouco conseguiu. Só em maio deste ano ele soube, por meio da revista Vanity Fair, que o segredo estava desvendado. Felt e sua família, por meio de um advogado, tinham contado tudo. Era hora de soltar o livro. Afinal, Woodward não é homem de querer ficar para trás da concorrência. O furo tinha que ser dele.

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