Ouça este conteúdo
O radar da OTAN está atento às possíveis movimentações do submarino nuclear russo K-329 Belgorod, portador do super torpedo conhecido como a "Arma do Apocalipse". A imensa estrutura carrega o Poseidon, um projétil capaz de viajar até 10 mil km debaixo d'água e depois explodir perto da costa para causar um tsunami radioativo, com ondas de cerca de 80 metros de altura.
A aliança militar emitiu um comunicado aos países membros no começo do mês passado, tratando sobre os riscos do uso dessa estratégia por parte dos russos, diante da escalada da guerra na Ucrânia e as ameaças ao Ocidente. De acordo com o jornal italiano La Reppubblica, fontes extraoficiais denunciam que o submarino foi lançado em julho e estaria submerso nas águas do Ártico após seu possível envolvimento na sabotagem dos gasodutos Nord Stream.
A tecnologia é uma das prioridades do programa de desenvolvimento de armas de nova geração aprovado pelo presidente russo, Vladimir Putin, e que foi apresentado com grande alarde em 2018. O mandatário garantiu, repetidas vezes, que esse armamento é “incomparável”.
O Belgorod tem 184 metros de comprimento e 15 metros de largura e pode viajar a cerca de 60 km por hora debaixo d'água. Estima-se que ele pode seguir até quatro meses sem ter que voltar à superfície. Já o projétil Poseidon tem 24 metros e capacidade para transportar uma ogiva nuclear de cerca de dois megatons.
"É como se fosse um drone subaquático, porque você pode guiá-lo remotamente", explicou Nelson Ricardo Fernandes da Silva, analista de riscos da ARP Consulting. "Ele tem o dobro da velocidade de um submarino normal, por isso é difícil de ser detectado. O que ele carrega de ogiva é mais de cem vezes a bomba de Hiroshima", descreveu.
Fernandes ainda relatou que o armamento possui em sua fórmula o cobalto, que aumenta a contaminação nuclear. "Então não haveria apenas um problema de destruição física [se utilizado], haveria um problema de contaminação durante anos, inviabilizando a pesca e a vida das pessoas", alertou.
O desenvolvimento dessa poderosa estrutura fez parte dos projetos militares russos desde que os Estados Unidos abandonaram o tratado de desarmamento nuclear com o país. Desde então, os russos focam na criação de mísseis hipersônicos, para furar as defesas americanas, e na produção desses torpedos.
A Rússia tem uma das maiores frotas submarinas do mundo. O analista detalhou que, com submarinos, ela consegue levar o armamento nuclear para próximo de onde quer atacar com mais facilidade. "Esse torpedo foi criado porque a Rússia não acreditava que conseguiria ser muito efetiva de outra forma no ataque nuclear", apontou.
Há anos, o especialista em armamentos H.I. Sutton também estuda o Poseidon e o compara com outros tipo de armamento, além de apontar para formas de se defender desse tipo de ameaça. “É um tipo de arma completamente nova que forçará as marinhas ocidentais a mudarem seu planejamento e desenvolverem novas contramedidas”, destacou Sutton ao La Reppubblica.
Apesar dos alertas da OTAN, o especialista descreveu, no ano passado, na Naval News, que a ameaça da "Arma do Apocalipse" não deve ser imediata, porque "levará alguns anos para ser implantada". "Pode levar vários anos até que ela esteja realmente operacional", avaliou.
Morte de cientistas que entendem sobre o Poseidon
A "Arma do Apocalipse" é tão importante para a Rússia que alguns cientistas que falaram sobre ela foram presos e, possivelmente, até mortos por isso. No começo do mês passado, mais um cientista russo acusado de traição morreu, aumentando as suspeitas em relação ao governo de Vladimir Putin e à repressão russa. Valery Mitko era especialista em hidroacústica e foi denunciado pelo Kremlin por supostamente revelar segredos de Estado à China, que podem tratar do submarino nuclear.
Mitko morreu aos 81 anos em São Petersburgo enquanto cumpria prisão domiciliar. Ele é o terceiro especialista russo a morrer nos últimos dois anos após ser acusado ou condenado por alta traição em conexão com a tecnologia de armas hipersônicas, conforme publicou no Twitter o advogado do cientista, Pervyi Otdel.
Mitko foi acusado em 2020 de "entregar materiais, que supostamente continham informações classificadas como ultrassecretas, aos serviços especiais da China durante uma visita àquele país", conforme destacou na época o Kremlin. A traição ao Estado é punida, na Rússia, com até 20 anos de prisão. Mitko estava em prisão domiciliar havia mais de dois anos e compareceria ao tribunal ainda neste ano.
O cientista estava entre vários acadêmicos russos idosos que foram presos por supostamente cooperar com estados estrangeiros nos últimos anos. Críticos do Kremlin chamam essa onda de repressão de uma “manifestação da crescente paranoia do Estado”.
A rede de advogados e ativistas que o defendiam destacou que o cientista havia sido hospitalizado com frequência nos dois anos e meio que passou em prisão domiciliar. “Ele foi trazido de volta em uma maca apenas alguns dias antes [de morrer], sem condições de andar ou sentar, muito menos cuidar de sua esposa acamada”, publicou o advogado Pervyi Otdel.
“O professor Valery Mitko se tornou mais um cientista torturado pelo sistema repressivo da Rússia”, concluiu o advogado.