Há 17 anos, em 11 de setembro de 2001, a Al Qaeda realizou o ataque terrorista mais destrutivo da história.
Uma reação americana sem precedentes se seguiu. Um terço da liderança da Al Qaeda foi morta ou capturada no ano seguinte. O grupo perdeu seu porto seguro no Afeganistão, incluindo sua extensa infraestrutura de treinamento ali localizada. Seus membros sobreviventes estavam fugindo ou se escondendo. Apesar de ter demorado quase 10 anos, os EUA conseguiram matar o líder e fundador da Al Qaeda, Osama bin Laden. Desde 2014, a Al Qaeda tem sido ofuscada por seu antigo aliado, a Al Qaeda no Iraque, que agora se denomina Estado Islâmico (EI).
Em outras palavras, a Al Qaeda não deveria ter sobrevivido aos 17 anos desde o 11 de setembro.
Mas conseguiu. Por quê?
Os laços que unem
Grande parte do crédito se deve à extraordinária capacidade da Al Qaeda de formar alianças e sustentá-las ao longo do tempo e sob pressão.
No meu livro Why Terrorist Groups Form International Alliances (Por que Grupos Terroristas Formam Alianças Internacionais, sem tradução em português), examino por que um pequeno número de grupos, como a Al Qaeda e o Estado Islâmica, surgem como parceiros desejáveis e conseguem desenvolver redes de alianças.
Compreender as alianças terroristas é fundamental porque as organizações terroristas com aliados são mais letais, sobrevivem por mais tempo e são mais aptas para buscar armas de destruição em massa. Apesar de as parcerias terroristas enfrentarem inúmeros obstáculos e a ruptura das alianças da Al Qaeda ter sido um objetivo dos EUA por mais de uma década, o fato é que estes esforços de contraterrorismo falharam.
Leia também: Os Estados Unidos mataram um importante terrorista. E poucos souberam
Foram os aliados que possibilitaram à Al Qaeda sobreviver ao 11 de setembro. O Talibã afegão apoiou a Al Qaeda após o ataque, recusando-se a entregar Bin Laden e, portanto, precipitando a invasão do Afeganistão pelos EUA. Ao fugir, a Al Qaeda pode recorrer a aliados no Paquistão para esconder seus membros e punir o governo paquistanês por capitular à pressão americana para reprimir o grupo.
Foram alianças que ajudaram a Al Qaeda a continuar aterrorizando. Em outubro de 2002, por exemplo, aliada da Al Qaeda no Sudeste Asiático, a Jemaah Islamiyah comemorou brutalmente o primeiro aniversário do 11 de setembro fazendo um ataque a bomba a um bar e a uma boate em Bali (Indonésia), matando mais de 200 pessoas e ferindo outras 200.
E foram as alianças que permitiram à Al Qaeda projetar sua viabilidade. Com o “prestígio” que veio com a realização do ataque de 11 de setembro, a Al Qaeda conseguiu forjar alianças de afiliados nas quais os parceiros adotaram seu nome e prometeram lealdade a Bin Laden.
Leia também: Grupos terroristas islâmicos miram sua atenção para a África Ocidental
A primeira e mais notória aliança franquia da Al Qaeda, a Al Qaeda no Iraque, foi formada em 2004 com o jihadista jordaniano Abu Musab al-Zarqawi. Usando a posição que acumulou por meio de seu papel na insurgência no Iraque, Zarqawi ajudou a Al Qaeda a adquirir sua segunda afiliada em 2006, a Al Qaeda no Magreb Islâmico. Então, em 2009, a Al Qaeda designou sua filial no Iêmen e na Arábia Saudita como Al Qaeda na Península Arábica. As alianças se estenderam pelo Oriente Médio e ajudaram a projetar poder, apesar da guerra do EUA contra o terrorismo.
Um perfil mais discreto
Apesar de a Al Qaeda ainda buscar associados, em 2010, mudou alguns aspectos de suas parcerias.
A Al Qaeda forjou uma aliança com a al-Shabaab na Somália, mas inicialmente não anunciou publicamente nem pediu à al-Shabaab para mudar seu nome. Bin Laden justificou a mudança para uma forma menos visível de aliança, como forma de impedir o aumento da pressão contraterrorista ou a perda de recursos da Península Arábica.
Ele expressou, particularmente, preocupações de que o nome da Al Qaeda “reduzisse o sentimento dos muçulmanos de que pertencemos a eles, e permite que os inimigos clamem enganosamente que não estão em guerra com o Islã”.
O adjunto de Bin Laden, Ayman al-Zawahiri, enxergou o movimento de Bin Laden como uma capitulação diante de membros da Al Qaeda preocupados em "inflar o tamanho e o crescimento da Al Qaeda".
Após a morte de Bin Laden, Zawahiri anunciou publicamente a aliança da al-Qaeda com a al-Shabaab, embora al-Shabaab ainda não adote o nome da al-Qaeda.
O "poder de permanência" dos aliados da Al-Qaeda ajudou a mantê-la como uma ameaça, apesar da perda de seu líder fundador em 2011 e da ascensão de um líder bem menos capaz. A ascensão de Zawahiri ao comando do grupo foi consequência de uma aliança entre seu grupo egípcio original, a al-Jihad, e a Al Qaeda. A aliança culminou em uma fusão em 2001, com Zawahiri se tornando o sucessor de Bin Laden.
Zawahiri não possui o prestígio diplomático e suas deficiências são evidentes nas alianças da Al Qaeda. O gerenciamento deficiente do conflito entre o grupo jihadista al-Nusra na Síria e sua organização matriz, o Estado Islâmico no Iraque, levou à ruptura da aliança entre a Al Qaeda e sua associada no Iraque.
Zawahiri também lutou para administrar o relacionamento com o aliado da Al Qaeda na Síria, o mesmo grupo que estimulou o conflito entre o Estado Islâmico e a Al Qaeda. A Al-Nusra mudou seu nome, em um esforço para ganhar mais legitimidade dentro do conflito na Síria, ao se distanciar publicamente da Al Qaeda. Mesmo assim, ainda ficou uma facção menor aliada à al-Qaeda.
A Al-Qaeda organizou uma nova filial, a Al-Qaeda no subcontinente indiano, em 2014. O ramo no Sul da Ásia reflete o sucesso da al-Qaeda na expansão além de sua base predominantemente árabe, especialmente no Paquistão, e permitiu o grupo expandir suas atividades no Afeganistão, Paquistão, Índia e Bangladesh.
A maioria das alianças da Al Qaeda tem se mostrado resiliente ao longo do tempo. Isto é verdade, apesar das amplas razões para seus parceiros abandonarem os laços, como a elevada pressão contraterrorista que vem associada à Al Qaeda; a morte de seu líder carismático; e os esforços do Estado Islâmico para cortejar os aliados da Al Qaeda. Mesmo o Taleban afegão não rompeu os laços, embora isso eliminasse uma das principais razões pelas quais os Estados Unidos não se retiraram da "guerra eterna" no Afeganistão.
Ainda há uma janela para os EUA prejudicarem as alianças da Al-Qaeda: ela tem um líder fraco e um grande rival. Mas essa janela pode estar se fechando enquanto o Estado Islâmico se adapta às suas perdas e a Al Qaeda parece pronta para um ressurgimento com o filho de Bin Laden como futuro líder mais inspirador.