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Ásia

Por que a economia do Japão, a terceira maior do mundo, está afundando

O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, em junho de 2022 (Foto: EFE/Sergio Pérez)

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A economia do Japão, ainda terceira maior do mundo, está enfrentando uma série de desafios que ameaçam seu crescimento e sua posição no cenário global.

Segundo dados atualizados divulgados pelo governo japonês neste mês, o Produto Interno Bruto (PIB) do país teve uma contração anualizada de 2,9% no terceiro trimestre de 2023, pior do que a estimativa inicial apresentada em novembro de uma queda de 2,1%. Esse foi o maior recuo desde o segundo trimestre de 2020, quando a pandemia de Covid-19 atingiu em cheio a atividade econômica do país asiático.

A revisão para baixo do PIB japonês reflete a instabilidade econômica que o país vive nesse momento. Apesar de ter divulgado resultados até positivos em trimestres anteriores, o Japão tem sofrido com a fraqueza da demanda doméstica, que não está conseguindo lidar com os efeitos da inflação persistente, e com a desvalorização do iene, a moeda japonesa, frente ao dólar.

O consumo privado, que representa mais da metade da economia japonesa, está em queda. Ele caiu 0,2% neste trimestre, após ficar estagnado no trimestre anterior, enquanto o investimento das empresas recuou 0,4%. As exportações, que vinham sustentando o crescimento nos trimestres anteriores, perderam fôlego neste, diante dos desafios que economias parceiras, como a da China, dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), também enfrentam.

A inflação no país, que há anos vem lutando contra o risco da deflação, está ultrapassando os 3% e não está sendo acompanhada por um aumento proporcional dos salários reais, que estão caindo.

Os salários em termos reais diminuíram 2,3% em outubro, é o 19º mês consecutivo de queda segundo dados oficiais do Ministério do Trabalho japonês. A despesa das famílias também caiu 2,5% em outubro na comparação anual, prolongando a tendência de oito meses seguidos de queda. Isso indica que o poder de compra dos japoneses está sendo atingido significativamente pelo momento econômico instável do país e também pela inflação, o que tem desestimulado o consumo interno e prejudicado a confiança dos consumidores.

“É provável que a fraqueza no consumo pessoal continue em um futuro próximo, pois a renda real disponível deve continuar caindo”, disse à agência Reuters Kota Suzuki, economista da Daiwa Securities.

O cenário para o Japão se torna ainda mais desafiador quando se considera que o país está prestes a ser ultrapassado pela Alemanha como a terceira maior economia do mundo, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). A perda de posição se deve em parte à forte desvalorização do iene em relação ao dólar e também à diferença de ritmo entre as duas economias. De acordo com o FMI, o PIB do Japão deverá cair 0,2% neste ano, para US$ 4,23 trilhões (R$ 21,01 trilhões), enquanto o da Alemanha deverá subir 8,4%, para US$ 4,42 trilhões (R$ 21,95 trilhões).

O Japão enfrenta também neste momento problemas estruturais que limitam seu potencial de crescimento, como o envelhecimento e a redução da população. O país possui atualmente a população mais idosa do mundo, com mais de um terço das pessoas com 65 anos ou mais e mais de uma em cada dez pessoas com mais de 80 anos.

O envelhecimento da população tem implicações para as finanças públicas, que sofrem com o aumento dos gastos relacionados à idade, como saúde e previdência. O Japão também enfrenta uma escassez de mão de obra, que pode estar limitando o potencial de crescimento do país.

Segundo um estudo da Recruit, uma empresa que faz levantamentos de dados no país, divulgado pela emissora NHK, o Japão pode ter um déficit de 11 milhões de trabalhadores até 2040, por causa do problema demográfico que enfrenta. Tais fatores estão dificultando a implementação de políticas econômicas que estimulem a demanda interna e a competitividade externa.

O governo do primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, anunciou nos últimos meses um pacote de medidas fiscais para aliviar o impacto da inflação sobre as famílias de baixa renda e incentivar o aumento dos salários. Além disso, tem também incentivado a participação de mais idosos no mercado de trabalho e a adoção de tecnologias que aumentem a produtividade, no entanto, essas medidas, de certa forma, ainda não estão apresentando resultados suficientes para compensar o impacto demográfico.

Por causa dos resultados negativos apresentados, Stefan Angrick, economista sênior da Moody’s Analytics, afirmou à Reuters que “a leitura decepcionante do terceiro trimestre” serve como um “lembrete preocupante” de que o Japão “ainda não está fora” da lista de países com chances de enfrentar o “perigo de uma recessão”.

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