Na semana passada, o Bureau of Labor Statistics (BLS) [Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos EUA] divulgou números indicando que o nível do preço médio dos bens de consumo aumentou 4,2% desde o ano passado. Essa é a taxa mais alta desde 2008. Em outras palavras, o consumidor médio norte-americano que ganha o mesmo salário neste ano sofreu um corte de salário quando você considera o que seu salário pode realmente comprar.
Como o BLS sabe disso? Uma maneira de o BLS acompanhar a inflação é usando o índice de preços ao consumidor (IPC). O IPC usa alguns dos bens comuns que os consumidores urbanos compram e mantém um registro dos preços desses bens a cada ano.
Um crescimento do IPC de 4,2% significa que essa “cesta” de bens que o consumidor urbano médio compra ficou 4,2% mais cara. Os economistas chamam essa medida de inflação.
O IPC não é de forma alguma uma forma perfeita para medir a inflação, nem poderia ser qualquer outra forma, mas fornece algum tipo de referência para comparar o quanto os preços estão mudando ao longo do tempo.
O que está acontecendo com o dólar?
Por que a inflação está aumentando agora? É tudo uma questão de dinheiro. Imagine amanhã que, de repente, todo o dinheiro dos EUA se torne um número 10 vezes maior. Notas de dez dólares se transformam em notas de 100 dólares, contas bancárias com US$ 10 mil se transformam em contas com US$ 100 mil e as quatro moedas de seu porta-copos se transformam em uma nota de 10 dólares.
Isso pode parecer bom no início, mas considere o que acontece a seguir. Se os preços permanecem os mesmos, de repente as pessoas correm para comprar coisas novas. De repente, um universitário com um empréstimo estudantil de US$ 7.000 pode comprar um Porsche. Alguém pode pagar a entrada de uma casa na qual morou meses antes. Uma criança com uma mesada generosa compra uma TV de tela plana.
Mas agora os problemas aparecem. Todos os carros à venda estão saindo do estacionamento. As prateleiras da TV estão vazias. As ofertas da casa acabam em apenas alguns minutos após a divulgação. Há mais dinheiro, mas há exatamente a mesma quantidade de bens. Com tantos clientes exigindo novos produtos, os vendedores têm 10 clientes brigando por um produto. Então o que acontece? O preço sobe, como um lance de leilão.
Na verdade, neste mundo os preços se transformarão, em média, na mesma variação que as contas bancárias. Barras de chocolate de um dólar custarão US$ 10, TVs de qualidade média valerão entre mil e dois mil dólares e a quitinete de US$ 100 no Kansas se torna uma compra de um milhão de dólares.
Se mais dólares perseguirem exatamente os mesmos bens, os preços subirão.
Criando dinheiro do nada
Embora o exemplo acima seja simplificado, a ideia geral é válida no mundo real. Infelizmente, nem todos receberam 10 vezes mais dinheiro, mas um novo dinheiro foi introduzido na economia.
A quantidade de dinheiro (medida como “M2” pelo Federal Reserve) aumentou mais de 32,9% desde janeiro de 2020.
Isso significa que quase um quarto do dinheiro em circulação foi criado desde então. Como mostra o gráfico a seguir, uma mudança como essa não tem precedentes na história recente.
O dinheiro recém-impresso ajuda a financiar a enorme quantidade de gastos de trilhões de dólares com coronavírus que beneficiou as grandes corporações. Também é uma tentativa de satisfazer a demanda dos consumidores de reter dinheiro para que eles se sintam confortáveis para gastar novamente. E eles estão gastando.
À medida que as restrições acabam e finalmente permite-se que os consumidores retornem à atividade econômica normal, o novo dinheiro começa a se mover pela economia com mais rapidez. Os bancos têm mais dinheiro para emprestar e as pessoas estão construindo novas casas. À medida que mais casas são construídas, a demanda por madeira aumenta. Conforme a demanda por madeira aumenta, o preço da madeira sobe. Soa familiar?
Embora o novo dinheiro não chegue a todos os mercados ao mesmo tempo e possa levar algum tempo para que a demanda volte aos níveis anteriores ao lockdown, os números da inflação indicam que esse processo começou. Para que a inflação desacelere, ou os gastos teriam que desacelerar ou o governo teria que reduzir a oferta de moeda.
Isso é ruim?
Nada disso significa que a hiperinflação virá amanhã ou nunca. Na verdade, pode ser um pequeno desvio causado por um nível de referência baixo de IPC. Mas, dado todo o dinheiro novo flutuando, não deveria surpreender ninguém se essa taxa de inflação persistisse ou aumentasse.
Os membros do Federal Reserve não estão preocupados e, na verdade, afirmam não estar considerando uma política monetária contracionista até que a inflação esteja nesse nível por algum tempo. Muitos economistas argumentam que a inflação precisaria ser muito mais alta para que valesse a pena se preocupar. Mas a inflação não precisa ser hiperinflação para ser prejudicial a muitos. Os efeitos da inflação não são iguais.
Depois de um ano de bloqueios que levaram à perda de empregos e cortes salariais, muitos norte-americanos não estão em posição de pagar preços 4,2% mais altos. É fácil para alguém com um emprego confortável ou com um bom pé-de-meia zombar desses aumentos de preços, mas a classe trabalhadora e os pobres sentem a diferença.
Em um momento em que as pessoas trabalham para reconstruir suas economias para proteger suas famílias de incertezas futuras, é sábio ignorar uma política que lentamente corrói suas economias enquanto elas lutam para encontrar novos vales para mantimentos ou consideram uma rota de transporte público muito mais longa para economizar gasolina? Essas lutas merecem consideração.
Peter Jacobsen é professor assistente de economia na Ottawa University e professor Gwartney de educação econômica e pesquisa no Gwartney Institute.
©2021 FEE Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.
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