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A morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, num acidente de helicóptero no noroeste do país no último fim de semana, obviamente não foi lamentada em Israel, o grande inimigo e alvo do regime dos aiatolás no Oriente Médio.
Entretanto, também não foi comemorada com muita ênfase: políticos israelenses e analistas internacionais foram unânimes em afirmar que a ameaça que Teerã representa para o país não deve ser atenuada com a mudança na presidência iraniana – alguns até alertam para riscos maiores.
O Irã apoia dois grupos terroristas com quem Israel trava combates em duas frentes neste momento, o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, na Faixa de Gaza, além dos rebeldes houthis do Iêmen, que estão visando embarcações israelenses no Mar Vermelho.
Em meio à guerra em Gaza, deflagrada em outubro do ano passado com os ataques do Hamas, Irã e Israel trocaram fogo diretamente em abril, um fato inédito, já que Teerã costumava agredir os israelenses somente por meio dos grupos terroristas que apoia e financia.
Tudo começou em 1º de abril, quando ocorreu um ataque ao consulado iraniano em Damasco, atribuído a Israel e no qual morreram 13 pessoas: sete membros da Guarda Revolucionária do Irã, entre eles, o brigadeiro-general Mohamed Reza al Zahedi e seu assistente, general Mohammad Haji Rahimi, e seis cidadãos sírios.
Uma autoridade israelense disse ao site Axios que a inteligência do país vinha monitorando Zahedi já há bastante tempo porque ele seria encarregado de armar o Hezbollah e outros grupos pró-Teerã no Líbano e na Síria para que realizassem ataques contra Israel. Segundo essa fonte, uma “janela operacional” para matá-lo só foi aberta poucos dias antes do ataque em Damasco.
No dia 13, o Irã reagiu com uma ofensiva com mais de 300 drones e mísseis em território israelense, dos quais 99% teriam sido interceptados por Israel e forças aliadas, de países como Estados Unidos, Reino Unido e França. Ninguém foi morto e não houve feridos graves. Seis dias depois, houve a tréplica, com um ataque de Israel atingindo uma base militar na província iraniana de Isfahan.
Essa troca de hostilidades e os conflitos com Hamas e Hezbollah fizeram muita gente especular se os israelenses poderiam estar por trás de morte de Raisi, mas Israel negou prontamente a acusação e especialistas consideram a hipótese muito improvável, devido a um fato muito simples: não haveria nenhum ganho substancial com uma operação desse tipo.
O parlamentar Avigdor Liberman, presidente do partido de oposição Yisrael Beytenu, resumiu o sentimento geral, ao dizer ao site de notícias Ynet que nada deve mudar nas políticas do Irã no Oriente Médio.
“Para nós, não importa, não afetará a atitude de Israel [em relação ao Irã]. As políticas do Irã são definidas pelo líder supremo [aiatolá Ali Khamenei]”, disse Liberman.
“No entanto, não havia dúvida de que o presidente era um homem brutal. Não vamos derramar uma lágrima”, ironizou.
Em entrevista ao The New York Times, Meir Javedanfar, professor iraniano-israelense da Universidade Reichman, em Israel, afirmou que, nas circunstâncias atuais, pesquisadores do programa nuclear iraniano e líderes militares são mais importantes para o regime dos aiatolás do que o presidente do país.
“Sua ausência ou presença não teria muito impacto”, disse Javedanfar. “O mesmo não pode ser dito de um cientista nuclear, trabalhando num programa que poderia produzir uma bomba nuclear para ameaçar Israel.”
Javedanfar afirmou que Raisi não passava de “um soldado de infantaria do líder supremo” e “um servo leal, com pouca influência dentro do regime”.
Ou seja: o que interessa a Israel é a sucessão de Khamenei, não a eleição presidencial no Irã no final de junho – até porque o eleito será necessariamente alguém que precisa passar pelo crivo do aiatolá.
Em artigo para o jornal The Jerusalem Post, Jacob Nagel, ex-consultor de segurança nacional do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e ex-chefe interino do Conselho de Segurança Nacional de Israel, afirmou que “qualquer presidente ou ministro das Relações Exteriores [o titular da pasta, Hossein Amir-Abdollahian, também morreu no acidente] escolhido continuará no caminho atual do Irã, e alguns podem até intensificar a abordagem nuclear e tentar persuadir o líder supremo a promover formalmente o avanço do sistema de armas [nucleares], o que não aconteceu até agora”.
“Os EUA e Israel devem atacar juntos a cabeça do polvo e os seus tentáculos. É hora de aplicar forte pressão financeira sobre a República Islâmica e não aliviar, como foi feito recentemente”, alertou Nagel.
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