‘Por que não estou com 50 pontos de vantagem?’, perguntou Hillary Clinton retoricamente na última quarta-feira (21), ecoando um questionamento que muitos já devem ter feito a ela na campanha eleitoral, e que americanos mais esquerdistas se repetem com frequência.
Como é possível que — com todas as declarações de Donald Trump consideradas racistas e misóginas — a disputa eleitoral ainda esteja tão acirrada? Abaixo, três razões.
Polarização
A última vez em que uma corrida presidencial foi decidida por uma diferença de dois dígitos foi na reeleição de Richard Nixon em 1972. E desde então, nenhum dos dois partidos teve menos de 40% dos votos. De lá para cá, eles se tornaram mais ideologicamente polarizados.
Democratas conservadores do Sul e republicanos progressistas do Norte são coisa do passado. Hoje, os democratas viraram claramente o partido da esquerda, e os republicanos, o da direita. Os chamados “eleitores flutuantes”, que nos anos 1960 representavam quase 15% do eleitorado, hoje foram reduzidos a cerca de 5%.
Trump certamente tem seus defeitos – comprovados por seus índices recorde de rejeição – mas nem assim alienou os mais de 40% de leitores da base republicana.
Entusiasmo
Além da previsível participação partidária, a briga sobre quem consegue motivar seus eleitores a irem às urnas é um fator importante, e Trump parece levar vantagem.
Por algum motivo, os eleitores de Hillary parecem menos empolgados com sua candidatura, e talvez seja por isso que as pesquisas que analisam “prováveis eleitores” em vez de “eleitores registrados” andem tão favoráveis a Trump.
Uma onda de entusiasmo súbito lhe daria uma vantagem de dez pontos percentuais? Não. Mas a falta de entusiasmo está deixando a eleição mais disputada e é também o reflexo de outro fator que impede uma vitória acachapante de Hillary...
A própria Hillary
A grande razão impedindo uma vantagem avassaladora pode ser a própria candidata. A rejeição a Trump é tão grande que um candidato medianamente popular provavelmente estaria liderando com uma vantagem substancial. Mas a rejeição a Hillary também é grande, e isso equilibra a disputa.
Seus apoiadores dirão que a cobertura midiática sobre a Fundação Clinton e o caso envolvendo os e-mails enviados de um servidor privado foi excessiva. Já Obama levantou a possibilidade de que a rejeição à candidata seja fruto de sexismo e misoginia.
Mas a ideia de que essa eleição seria uma vitória fácil para Hillary sempre foi exagerada, e ignorou dois fatos: a política nos EUA não funciona assim; e Hillary é, há muito tempo, uma figura polarizadora, cuja queda de popularidade já vem crescendo há anos.