Curitiba – Ao longo de dois mandatos na Presidência dos Estados Unidos, George W. Bush colecionou inúmeros inimigos nos quatro cantos do mundo. O motivo: a política externa do país. Principalmente nas ações antiterror que o governo Bush passou a adotar, logo no início de seu primeiro mandato – após os atentados ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. Os EUA precisavam dar uma resposta àqueles que expuseram a vulnerabilidade do país. Começava então no Afeganistão a "caçada" por membros da rede terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden, supostos mentores do 11/9.

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Em seguida, em 2003, os EUA decidiram invadir o Iraque em 2003 sob o argumento de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa. A intervenção ocorreu mesmo sem autorização das Nações Unidas.

Sob o governo Bush, as críticas às práticas ao imperialismo dos EUA no cenário internacional se tornaram cada vez mais fortes. Nesse meio tempo, vários líderes despontaram como ferozes críticos ao "Império" – de Hugo Chávez, na Venezuela, a Mahmoud Ahmadinejad, no Irã.

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Mas o que o governo Bush não esperava é que as duas ofensivas, tanto no Afeganistão quanto no Iraque, falhassem. A leitura feita por parte dos norte-americanos foi: centenas de vidas perdidas e montanhas de dinheiro que "foram para o ralo". Sem contar o custo político que o fracasso dos EUA na região causaram para a popularidade de Bush – que alcançou os mais baixos índices de todos os tempos.

Em fim de mandato, Bush busca uma "saída digna" para a enrascada em que os EUA se meteram. De lá pra cá, os inimigos se multiplicaram. De um lado, Chávez e seus rompantes prometendo cortes no fornecimento de petróleo aos EUA – muitos analistas classificam esses discursos apenas como retórica, não representando uma ameaça real. De outro, as ameaças de Ahmadinejad e seu programa nuclear – recheado de dúvidas quanto aos fins pacíficos. Assim como a Coréia do Norte que, diferentemente do Irã, tenta barganhar recursos em troca da suspensão de seu programa nuclear.

"Certos norte-americanos sentem-se tentados a acreditar que podemos reduzir esses ódios ou a nossa vulnerabilidade se repatriarmos as tropas que estão no exterior, reduzirmos as alianças e adotarmos uma política externa mais isolacionista. O isolacionismo não eliminará a nossa vulnerabilidade", escreve Joseph Nye Jr. em O Paradoxo do Poder Americano. Nye, um dos mais importantes autores de Relações Internacionais, argumenta que mesmo se os EUA tivessem uma política externa fraca, certos grupos não deixariam de se ressentir do poder da economia dos EUA.

A administração Bush fez uma opção clara no cenário pós 11/9 pelo realismo político, ou seja, um modelo para se alcançar o pleno interesse da nação, afetando aspectos não só domésticos, explica Leonardo Arquimimo, pesquisador da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. "Ao se perceber que esse modelo de ação foi inadequado se abriu um ambiente internacional favorável à crítica aos EUA."

Sem a chancela da comunidade internacional na ação no Iraque, a política externa dos EUA se fragilizou e deu margem a uma série de críticas, avalia Virgílio Arraes, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Antes mesmo de Bush assumir o poder, seu grupo político tinha planos para o Oriente Médio – por razões de segurança, petróleo e democratização na região –, mas faltava algo para desencadear uma ação dos EUA. "O episódio do 11/9 involuntariamente levou a esse cenário."

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