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Manifestantes agitam bandeiras em frente ao parlamento em Skopje, capital da Macedônia | ROBERT ATANASOVSKIAFP
Manifestantes agitam bandeiras em frente ao parlamento em Skopje, capital da Macedônia| Foto: ROBERT ATANASOVSKIAFP

Quando a Grécia e a Macedônia assinaram um acordo na semana passada para por fim a uma disputa diplomática que durava há mais de três décadas, houve um herói improvável: um adjetivo.

Sim, a força que finalmente pôs fim ao conflito que manteve a Macedônia por um longo tempo fora da União Europeia e da Otan não foi uma liderança política ousada ou um negociador experiente. Ou, pelo menos, não eram apenas essas coisas. 

Foi apenas uma pequena palavra: Norte. 

Especificamente, a Macedônia concordou em ser oficialmente chamada de Macedônia do Norte, um aceno às reivindicações compartilhadas dos dois países sobre a história do antigo reino da Macedônia. 

Esta decisão coloca a Macedônia do Norte em um raro clube global de países que oficialmente mudaram de nome. Em abril, o pequeno reino africano que era conhecido com Suazilândia anunciou que mudaria seu nome para eSwatini, ou terra dos suazis, na língua local siswati. E, em 2016, o país que você conhece como República Tcheca formalmente mudou seu nome em inglês de Czech Republic para Czechia. 

Razões

Apesar de não haver uma razão simples para a mudança de nome de um país, muitas mudanças seguem um padrão familiar, diz Steven Gruzd, diretor de governança e política externa do South African Institute of International Affairs. É uma maneira de começar de novo. 

“É uma questão de afirmar a independência, distanciando-se do colonialismo, lembrando-se da história e tratando de passar uma borracha sobre o passado recente.” 

Na África, muitos países mudaram seu nome quando se tornaram independentes para criar um espaço entre eles e as antigas metrópoles coloniais. Assim o protetorado da Bechuanalândia se tornou Botswana, a “terra dos tswana”. A Costa de Ouro se tornou Gana. E a Rodésia do Sul passou a chamar-se de Zimbábue, para se lembrar da civilização do Grande Zimbábue, que governou a região entre os séculos 11 e 15. 

Mais presente do que passado

Mas a decisão de mudar o nome tem mais a ver com o presente do que com o passado. Pegue os 27 anos de disputa entre Grécia e Macedônia, supostamente sobre as origens do nome da Macedônia. Os gregos diziam que o nome pertencia a eles, desde o reino antigo da Macedônia governado por Alexandre o Grande e que abrangia o que hoje é a Grécia moderna. Os macedônios diziam que o mesmo reino continha boa parte do que hoje é o seu país e assim eles tinham tanto direito ao nome quanto os gregos. 

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A divergência não tinha nada a ver com história antiga. Desde que a Macedônia se separou da antiga Iugoslávia, no começo dos anos 90, a Grécia suspeitou que o pequeno novo país secretamente ambicionava expandir seu território em direção a uma região do Norte da Grécia que compartilhava o mesmo nome e tinha uma bandeira parecida com a da Macedônia. 

Assim, no momento da independência da Macedônia, em 1991, os gregos lutaram com unhas e dentes contra o reconhecimento do novo país, Em 1995, os dois países firmaram um acordo deselegante. Em troca de permitir que a Macedônia se unisse às Nações Unidas, o novo país aceitou ser chamado de Antiga República Iugoslava da Macedônia. E fez uma emenda à constituição para deixar claro que não tinha reivindicações sobre o território grego. 

Mesmo assim, a luta se arrastou. Para as pessoas dos dois lados, o nome era profundamente simbólico. E isso não era fácil de esquecer. 

Experiências africanas

Para Mswati 3°, o rei de eSwatini, isso também era verdade para o nome de seu país. Mas, para ele, o antigo nome tinha outra conotação, de um país africano contaminado pela influencia ocidental. 

Mudar o nome está “baseado na ideia de que estamos recuperando os nossos valores”, diz Bheki Makhubu, editor do The Nation, uma revista política independente em eSwatini. “É como o rei disse: vamos voltar às nossas raízes. Vamos recuperar nossa identidade de um mundo que quer roubá-la de nós”, disse. 

Mas, como outras mudanças de nomes, a alteração para eSwatini é uma forma de seu líder reafirmar seu próprio poder. “É parte de uma visão estreita de nacionalismo que se centraliza a figura do rei”, diz Makhubu. Renomeando o país possibilita que Mswati se enquadre como um verdadeiro patriota, afirma o jornalista. “Isso ocorre mesmo que tenhamos uma monarquia absolutista que falhou totalmente com nosso povo.” 

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Mswati não é o primeiro líder a mudar o nome de um país para poder sustentar sua própria popularidade. Quando Mobutu Sese Seko tornou-se presidente do Congo em 1965, ele lançou uma campanha agressiva sobre o que ele chamava de autenticidade. O objetivo era limpar o país das influências coloniais. Houve mudanças de nome de pessoas (ele retirou o ocidentalizado Joseph-Desiré de seu próprio nome) e de lugares (a capital Leopoldville passou a chamar-se Kinshasa). E, em 1971, ele mudou o nome do país para Zaire, um nome local para o rio Congo. 

Infelizmente, para Mobutu, seu governo não durou. E quando um novo presidente, Laurent-Désiré Kabila, chegou ao poder em 1997, ele anunciou que estava retomando o nome anterior: Congo. 

Mudança trabalhosa

Mudar de nome não é tão fácil assim. No caso da Macedônia, o novo nome será submetido a uma consulta popular e o acordo entre Macedônia e Grécia precisará ser ratificado pelo parlamento dos dois países. 

Após feito isto, ainda há mais passos a seguir. Os países precisam comunicar oficialmente as Nações Unidas, que registrará o novo nome no banco de dados dos Nomes Geográficos Mundiais. Entre outras coisas, o país deve informar como se escreverá seu nome nas seis línguas oficiais da ONI. Assim que isto for feito, a ordem alfabética do local onde os representantes do país se sentam precisará ser ajustado. 

“É um processo muito caro. Virtualmente tudo precisa mudar: mapas, placas carros, documentos legais”, diz Gruzd, do South African Institute of International Affairs. “A ideologia pode substituir a praticidade.” 

Ainda assim, para muitos países estas altas despesas valem a pena pela chance de reformular a própria história. 

Quando Thomas Sankara chegou ao poder no Alto Volta, um pequeno país da África Ocidental, em 1983, ele imediatamente chamou a atenção para transformação de seu pobre país, dependente de ajuda externa, em um modelo de um estado africano não dependente do Ocidente. Ele rejeitou a maior parte da ajuda externa e instituiu programas de assistência técnica a produtores rurais que reduziram drasticamente a necessidade de importação de alimentos, enquanto recusava ostentações privativas da presidência. Trabalhava em um escritório sem ar condicionado e dirigia um Renault barato. 

Um país como este, disse ele, precisava de iniciativas audazes e radicais para se reinventar. E nada melhor do que mudar o nome. Em 1984, Sankara anunciou que o Alto Volta – uma invenção dos franceses – não mais existiria. Seu país se chamaria Burkina Faso. Tradução: terra dos homens honestos.

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