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A morte de 20 soldados indianos - e um número desconhecido de baixas chinesas - na fronteira sino-indiana no início desta semana chocou o mundo pela forma como aconteceu: um violento confronto corporal com socos e empurrões em um terreno montanhoso de 4,2 mil metros de altitude, em que as armas usadas eram barras de ferro, paus e pedras.
Uma imagem compartilhada por um oficial militar indiano com a BBC nesta quinta-feira (18) mostra uma das armas supostamente usadas pelos chineses durante o ataque no Vale Galwan: barras de ferro soldadas com pregos. Nem as autoridades indianas e nem as chinesas comentaram sobre a foto, mas ela foi amplamente compartilhada nas redes sociais. "Tal barbárie deveria ser condenada", tuitou o analista em defesa indiano Ajai Shukla, ao postar a imagem da arma improvisada.
Índia e China, duas potências nucleares, estão usando esses objetos primitivos em combate porque não autorizam seus soldados a usar armas de fogo. Se o fizerem, correm o risco de escalar o conflito ao violar um acordo bilateral firmado em 1996, que proíbe o uso de armas de fogo e explosivos ao longo da fronteira disputada a fim de manter uma boa relação entre os vizinhos.
"Nenhum lado deve usar sua capacidade militar contra o outro lado. Nenhuma força armada posicionada por um ou outro lado nas áreas de fronteira ao longo da linha de controle real, como parte de suas respectivas forças militares, deve ser usada para atacar o outro lado ou se engajar em atividades militares que ameacem o outro lado ou minem a paz, a tranquilidade e a estabilidade nas áreas de fronteira Índia-China", diz o acordo.
O texto também prevê que "se o pessoal da fronteira dos dois lados se encontrarem em uma situação face a face devido a diferenças no alinhamento da linha de controle real (...), eles devem exercer autocontrole e tomar todas as medidas necessárias para evitar uma escalada da situação". Aparentemente não foi isso que ocorreu nesta semana. Índia e China, até hoje, não conseguiram chegar a um acordo sobre onde exatamente fica a divisa entre os dois países, a chamada linha de controle real. Para a China, o Vale de Galwan está sob sua administração, mas a Índia pensa o contrário. Outros pontos da linha também são contestados.
No decorrer das últimas décadas ocorreram vários confrontos que resultaram em soldados feridos, mas o que aconteceu na noite desta segunda-feira foi o primeiro com mortes desde 1975 e o mais violento desde 1967. A tensão aumentou recentemente com provocações vindas dos dois lados. Índia e China passaram a construir infraestrutura nas regiões autônomas sob seus domínios ao mesmo tempo que aumentaram a presença militar ao longo da divisa. Recentemente a China conduziu um exercício militar no Tibete - a cerca de 1.000 quilômetros de distância do Vale Galwan - para treinar o seu exército em terreno de elevada altitude. Analistas estimam que a China tenha ocupado nos últimos meses cerca de 35 quilômetros quadrados de território que é contestado pela Índia.
As autoridades de ambos os países concordaram em diminuir as tensões e resolver o assunto pacificamente, mas fizeram ameaças veladas e trocaram acusações sobre quem foi o culpado pelo encontro fatal entre as tropas indianas e chinesas no Vale Galwan. Generais chineses e indianos continuaram em contato nesta quinta-feira (18). Mas as tensões continuam altas, já que a China não dá sinais de que vai retroceder e a Índia está disposta a recuperar o seu território.
Protestos na Índia
Enquanto os corpos dos soldados indianos mortos no combate começam a ser levados de volta para suas famílias, manifestantes indianos demonstram sua insatisfação e raiva contra a China. Em protestos nas ruas de várias cidades da Índia, manifestantes queimaram bandeiras chinesas e imagens do presidente da China, Xi Jinping.
Também ganhou um impulso um movimento de boicote de produtos chineses. Um ministro indiano pediu pelo fechamento de restaurantes chineses, outros oficiais do governo estão colocando os contratos com os chineses sob revisão. Nesta quinta-feira, o jornal Indian Express informou que o governo de Narendra Modi estava se preparando para cancelar um enorme contrato, no valor de 4,7 bilhões de rúpias (cerca de US$ 60 milhões), com uma empresa chinesa do setor de ferrovias, alegando "pouco progresso" da obra.