Ele comanda uma nação onde a inflação deve chegar a 10.000.000%. Os Estados Unidos, o Brasil e cerca de 50 outros países já não o reconhecem como presidente. Sua popularidade caiu para cerca de 14%.
E, no entanto, Nicolás Maduro resiste até agora à intensa pressão de Washington e de um movimento venezuelano contra o regime que vem lotando as ruas em massivos protestos. O líder da oposição e presidente interino do país, Juan Guaidó, que representa o maior desafio para Maduro desde que o ex-líder sindical assumiu a presidência em 2013, convocou uma grande manifestação para este sábado (9). Em meio ao maior apagão da história recente da Venezuela, milhares já estão nas ruas e alguns pequenos confrontos com as forças de segurança foram registrados.
Como Maduro ainda está no poder? A resposta curta é que o ditador tem os militares do seu lado. O regime garantiu a lealdade deles ao oferecer promoções e permitir que eles enriquecessem por meio de empresas estatais ou atividades criminosas, segundo analistas.
A administração de Trump pode enfrentar um cálculo complicado nas próximas semanas. As severas sanções impostas em janeiro à indústria petrolífera, crucial para a Venezuela, em breve começarão a asfixiar a já fraca economia do país, mas os militares podem resistir à pressão diplomática e econômica para se separarem de Maduro.
"O que acontece se você não quebrar essa estrutura militar e o país continuar a se deteriorar? Você tem o cenário terrível de uma Cuba, um Irã, uma Síria ou um Zimbábue", disse Luis Vicente Leon, chefe da firma de pesquisas Datanalisis ao se referir a países cujos governos autoritários entraram e sobreviveram, apesar de profundas crises econômicas e políticas.
Abordagens com os militares
Guaidó – que tem o apoio de cerca de 60% dos venezuelanos, de acordo com uma pesquisa recente da Datanalisis – e os Estados Unidos estão tentando uma variedade de abordagens para atrair os militares para longe de Maduro. Estas abordagens vão desde conversas privadas até uma proposta de lei de anistia que protegeria os membros das forças de segurança de ser processados futuramente.
"Os militares não estão defendendo Maduro. Eles estão se defendendo".
Luis Vicente Leon, chefe da firma de pesquisas Datanalisis
O problema é que muitos oficiais superiores estão profundamente comprometidos com o regime. Maduro e seu antecessor, Hugo Chávez, que procuraram realizar uma "revolução bolivariana" de esquerda, permitiram que os oficiais ganhassem dinheiro por meio de atividades tão variadas quanto organizar o sistema estatal de distribuição de alimentos e proteger os narcotraficantes.
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"A lei da anistia não é atraente o suficiente", disse Felix Seijas, cientista social que leciona na Universidade Central da Venezuela. "Aqueles que estão comprometidos estão muito comprometidos. A lei de anistia não os beneficiará. Aqueles que não estão comprometidos não precisarão da lei de anistia."
Para aceitar uma anistia, os oficiais militares teriam que confiar que um futuro governo os perdoaria e que as instituições seguiriam a lei. Mas é difícil prever como um novo governo iria essencialmente reconstruir as instituições da Venezuela, que por duas décadas foram moldadas pelo movimento "chavista", tornando-se altamente politizadas.
Para complicar a situação, conselheiros cubanos do exército venezuelano trabalham para evitar deserções, supervisionando oficiais para garantir sua lealdade, de acordo com diplomatas, analistas e ex-oficiais militares. "Temos que lembrar que esses [venezuelanos] estão sendo aconselhados pelos cubanos, que são os mestres de permanecer no poder – 60 anos e contando", disse Brian Winter, especialista em América Latina da Sociedade das Américas, em Nova York.
Ponto de quebra
Isso não quer dizer que as forças armadas estejam solidamente atrás de Maduro. A economia está tão devastada pela má gestão e corrupção que a fome é generalizada, mesmo entre os oficiais de médio e baixo escalão. Os preços estão subindo vertiginosamente e a comida e os remédios são escassos.
Mais de 700 soldados de baixa patente fugiram pela fronteira colombiana nas últimas semanas, muitos reclamando de comida racionada e divergência nas tropas.
"Temos muitas informações sugerindo que, assim como a maioria dos venezuelanos está claramente insatisfeita com este regime e quer que ele termine, a maioria dos militares venezuelanos sente o mesmo", disse Elliott Abrams, enviado especial dos EUA para a Venezuela, na sexta-feira (8) em uma coletiva de imprensa em Washington.
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Os soldados "podem conseguir um pequeno e inadequado almoço no quartel, mas isso não ajuda suas tias, seus tios, seus primos, seus irmãos e suas irmãs", disse Abrams.
Leon observou que os movimentos antigoverno que tentam substituir os ditadores em outros países às vezes precisam fazer escolhas desagradáveis para garantir que as forças armadas estejam alinhadas. Na Nicarágua, por exemplo, quando Violeta Chamorro conquistou a presidência em 1990 e encerrou uma década de regime sandinista de esquerda, ela deu um cargo de destaque no Ministério da Defesa a Humberto Ortega, o irmão do presidente cessante. No Chile, Augusto Pinochet foi autorizado a permanecer como chefe das forças armadas após deixar o cargo de presidente.
Mas ultimamente, Leon disse, na Venezuela, a questão não é sobre se os militares são leais a Maduro. "Os militares não estão defendendo Maduro", disse ele. "Eles estão se defendendo".
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