Mais cedo ou mais tarde, o Brasil terá de se envolver diretamente na busca de uma saída para a crise na Venezuela. É o que apontam especialistas venezuelanos ouvidos pela Gazeta do Povo. “O êxodo se converteu em um grande problema para os países vizinhos, os quais não estão preparados para acolher tantos refugiados”, diz Marco Aponte-Moreno, professor assistente de Negócios Globais do St. Mary’s College of California (EUA).
Segundo ele, não se trata de solucionar um problema em Venezuela, mas sim de toda a região. As Nações Unidas estimam que aproximadamente 2,3 milhões de venezuelanos tenham deixado o país nos últimos anos, em decorrência da crise. Isto corresponde a aproximadamente 7% da população do país. Estimativas mais pessimistas indicam que 4 milhões de pessoas já fugiram do país.
A única alternativa para resolver os graves problemas na Venezuela é a saída do ditador Nicolás Maduro do poder, apontam os especialistas. “O Brasil poderia liderar uma iniciativa que provoque uma saída negociada de Maduro, já que é o país com maior força diplomática da região”, destaca Aponte-Moreno.
A mudança, entretanto, não necessariamente significaria a saída de cena do chavismo, ressalta Henkel García, diretor da consultoria Econométrica.
Mas, no curtíssimo prazo, não se pode esperar uma mudança de postura por parte do governo brasileiro em relação à questão venezuelana por causa do processo eleitoral. “Quem ganhar terá de enfrentar esse problema”, destaca ele. O cenário mais preocupante é se ganhar um candidato mais à esquerda, o que poderia dar um alívio a Maduro.
Mas, o mais importante, independentemente de quem ganhar, é que haja o envolvimento brasileiro, diz o professor do St. Mary’s College of California. “Não se trata somente de uma crise econômica e política, mas, sobretudo, de uma crise humanitária.”
Ele aponta que um fator que dificulta o envolvimento brasileiro é que o Brasil, assim como os Estados Unidos, é um grande país que está focado em seus problemas domésticos, os quais acabam ditando os rumos da política externa.
Mas esse cenário pode mudar caso haja a formação de um grupo que se posicione como uma verdadeira opção para garantir a mudança. “No atual momento, nenhum grupo ou coalização tem esse posicionamento. Mas, certamente, estão se movimentando para consegui-lo”, ressalta o diretor da Econométrica
Solução para os problemas
Segundo Aponte-Moreno, a saída de Maduro é uma condição necessária, mas não suficiente para resolver os problemas na Venezuela. A indústria petrolífera, responsável por quase todas as exportações, e o setor privado estão muita enfraquecidos. “E demorará anos para que esta situação seja revertida”, diz ele. A situação tende a piorar. Segundo a S&P, a produção em maio foi de 1,36 milhões de barris por dia. E a expectativa da Agência Internacional de Energia é de que ela caia para 800 mil barris diários no próximo ano.
O setor privado está desestruturado. A interferência do governo na economia é muito grande. A liberdade econômica é a segunda pior do mundo, segundo a Heritage Foundation, à frente apenas da Coreia do Norte. “Nos últimos 18 anos, o Estado venezuelano se dedicou a adquirir, por diferentes métodos, um importante número de empresas. A expropriação foi um desses métodos de aquisição usado em empresas de setores como cimento e café, de onde se chegou ao monopólio”, aponta a ONG Transparencia Venezuela.
Mesmo com o plano econômico, a tendência é de que a economia continue em queda livre. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) projetam que entre 2013 e 2018 a economia terá encolhido 47,5%. “Há também uma fuga sem precedentes de cérebros.”
García destaca que a implantação do plano econômico de Maduro está sendo problemática. E o cenário projetado pelo FMI, de uma retração de 18% no PIB neste ano pode parecer um tanto quanto “otimista”. A contração pode ser superior a 20%, diz ele.
“O aumento do salário mínimo (3.400%) obrigará as empresas a despedir muitos de seus trabalhadores. Os problemas de falta de dinheiro na economia irão continuar, uma vez que o governo limitou os saques a 10 bolívares soberanos por dia, o que é suficiente para tomar um café e comer um doce”, diz Aponte-Moreno.
A continuidade no enfraquecimento do cenário econômico pode criar mais problema para o ditador, que enfrentou no início do mês uma suposta tentativa de atentado. Aponte-Moreno destaca:
À medida que a economia se deteriora mais, mais se debilita o poder e aumentam os riscos de um golpe militar.
As rebeliões nos quarteis tem sido uma grande preocupação para o ditador. Oficiais de alto escalão, como generais, já foram presos. “A falta de lealdade do Exército é, definitivamente, um dos principais problemas de Maduro”, diz o professor.
A instabilidade também poderá ser aproveitada pelos opositores de Maduro ou por facções mais moderadas do chavismo. “Dependerá da organização e articulação destes, não entre estes, para ver se podem tirar vantagem desta oportunidade”, afirma o diretor da Econométrica.
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