Joaquín Guzmán, o famoso traficante mexicano conhecido como "El Chapo", passou os últimos 22 meses em uma pequena cela sem janelas em Lower Manhattan, aguardando julgamento. Nesta terça-feira (13), em um tribunal federal no Brooklyn, o julgamento finalmente começará.
"Este é um caso muito importante, porque nenhum indivíduo no México é mais responsável pela última década de violência no país do que Chapo Guzmán", disse David Shirk, professor da Universidade de San Diego, que estuda questões de política mexicana e fronteira EUA-México.
Então, por que Guzmán está sendo julgado em Nova York e não no México?
O México já tentou levar Guzmán à justiça, mas ele escapou duas vezes de prisões de segurança máxima em seu país natal. Na primeira fuga, em 2001, ele contou com a ajuda dos guardas da prisão para escondê-lo em segurança – dentro de um carrinho de lavanderia, como diz a lenda. Ele escapou de novo em 2015, saindo da prisão mais segura do México através de um túnel de quase um quilômetro e evitando a captura por seis meses.
"Francamente, o sistema prisional do México tem uma longa história de corrupção e duplicidade quando se trata de organizações de narcotráfico, porque são muito poderosas", disse Eric Olson, vice-diretor do programa para a América Latina do Centro Internacional para Acadêmicos Woodrow Wilson.
A fuga de 2015 parece que fez as autoridades mexicanas reconhecerem que Guzmán estava em vantagem em relação ao sistema judicial. No ano anterior, o então procurador-geral Jesús Murillo Karam descartara a extradição de Guzmán para os Estados Unidos. "El Chapo deve ficar aqui para completar sua sentença e depois ser extraditado”, disse Murillo. "Cerca de 300 ou 400 anos depois – vai demorar um pouco".
Mas depois que Guzmán foi recapturado em 2016, o México o mandou para o norte para ser julgado. "Acho que eles reconheceram que ainda havia fraqueza no sistema", disse Olson. "Tornou-se uma situação em que os riscos de extraditá-lo se tornaram menores que os riscos de não extraditá-lo", acrescentou.
Shirk deu muitas razões pelas quais julgar Guzmán nos Estados Unidos seria diferente de julgá-lo no México: Guzmán não poderá comandar sua facção de sua cela, como fez no México; os juízes e membros do júri são menos propensos a serem intimidados ou subornados a dar-lhe uma decisão favorável; e há menos táticas legais que poderiam permitir que seus advogados adiassem o julgamento continuamente.
Por essas razões, os Estados Unidos têm uma longa história de julgar criminosos quando os sistemas judiciais de outros países não têm recursos ou capacidade para fazê-lo. Mas nem todos acreditam que a extradição é a melhor solução a longo prazo para levar os criminosos à justiça.
"Temos sido o sistema prisional de último recurso para o Hemisfério Ocidental, e isso absolve esses países da responsabilidade de cuidar de seus próprios problemas", disse Shirk. "É do nosso interesse fazê-lo porque muitas dessas pessoas estão cometendo crimes contra os Estados Unidos, mas, sem dúvida, o hemisfério estaria melhor se o Estado de Direito fosse mais forte em todos esses países".