Com o novo plano econômico radical do ditador Nicolás Maduro, que entrou em vigor na segunda-feira, os venezuelanos se preparam para o que em breve poderá ser um mergulho ainda mais profundo no caos econômico da Venezuela, segundo previsão de especialistas.
Maduro, na sexta-feira passada, anunciou um esforço dramático para conter a inflação: elevou o salário mínimo em mais de 3.000% (agora em 1.800 bolívares soberanos) e oficialmente desvalorizou o bolívar forte em mais de 90% ao cortar cinco zeros da moeda e criar o bolívar soberano. Ele também disse, em pronunciamento televisionado, que a nova moeda seria baseada no Petro, moeda virtual do governo ligada às reservas de petróleo.
Mas, de acordo com analistas, o plano não conseguirá resolver os problemas fundamentais que causam a inflação, que deve chegar a 1.000.000% em 2018 segundo o FMI (Fundo Monetário internacional): os problemas para a cunhagem de bolívares, o colapso da produção de petróleo e a completa falta de confiança no governo.
Poucos venezuelanos parecem ter fé na solução e muitos expressaram temores de que isso só possa piorar a situação. Na capital, Caracas, moradores correram para supermercados e postos de gasolina no domingo à noite, desesperados para estocar insumos básicos. Alguns donos de lojas - sem saber o que cobrar de seus clientes - pensavam se abriram as portas nesta semana.
O que se viu, no início da manhã desta segunda-feira, foram ruas vazias. O regime decretou folga para que as empresas se adaptassem à nova ordem econômica. A oposição, dividida, convocou uma greve nacional na terça-feira, pedindo que as empresas permaneçam fechadas e as pessoas saiam às ruas.
Empresários e empregados temem futuro
Em um país em uma crise econômica profunda, as medidas anunciadas deixaram as pessoas imaginando o quão pior a situação poderia ficar. Muitos estão com medo de perder seus empregos enquanto as empresas se esforçam para se adaptar ou fechar completamente.
"Eu não entendo o que Maduro disse ou o que está acontecendo, mas todo mundo diz que as coisas vão piorar", diz Julio Ramirez, 60, que trabalha em um supermercado no leste de Caracas. "Amanhã vamos abrir, mas não sei o que vai acontecer depois".
Antonio Bastidas, de 48 anos, administra três restaurantes em clubes privados em Caracas que, segundo ele, correm o risco de fechar. "Vamos abrir oito dias com a comida que já temos, mas não sabemos quanto nossos fornecedores aumentarão seus preços depois, ou quanto os clientes estão dispostos a pagar por pratos agora que temos que aumentar os salários dos funcionários", relata.
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"Chegamos a um limite", acrescentou Bastidas. "Isso me deixa triste por causa de nossos cem funcionários. É deprimente ver como o sistema está afundando o que dedicamos nossas vidas para criar".
Alejandro Diez, dono de 85 restaurantes de fast food e três fábricas de alimentos em todo o país, conta que abrirá na terça-feira (21) com um aumento de 60% nos preços e que ele estima um aumento de 50 vezes no próximo mês. "É possível que tenhamos que reduzir nosso número de funcionários, agora em 1.800, e que tenhamos que fechar alguns dos quiosques. Prevemos uma queda profunda nas vendas também".
Membros da Câmara de Centros Comerciais da Venezuela dizem que ficaram surpresos com os anúncios. "Estamos aguardando mais informações, mas acreditamos que será uma batalha difícil para as empresas do nossa Câmara se sustentarem com essas novas medidas", afirma a diretora executiva da organização, Claudia Itrago.
Plano é farsa
Maduro, que culpa a profunda crise do país por uma "guerra econômica" travada pelos Estados Unidos e outros países "imperialistas", está dizendo para as pessoas confiarem nele. "Lentamente, lentamente, vamos implementar a nova política e uma vez que você entenda, você vai gostar", declarou na sexta-feira.
Mas a falta de credibilidade é uma das principais razões pelas quais os especialistas esperam que o plano falhe. As medidas, dizem eles, serão superficiais enquanto o banco central continuar a imprimir dinheiro para cobrir os gastos do governo - a causa original do problema que elevou a taxa de inflação anual a uma alta histórica.
Maduro alega que seu plano visa equilibrar o déficit fiscal do país, aumentando a renda através de impostos e preços da gasolina mais altos. Mas o sucesso parece improvável, segundo especialistas, já que a companhia petrolífera estatal PDVSA, principal fonte de renda do país, está produzindo menos do que há três décadas. Além disso, também pesa o fato de o governo ter prometido pagar salários de empresas privadas por três meses e transferir bônus para aqueles que detêm os ‘carnês da pátria’ – um instrumento de identificação usado pelo chavismo para controlar, por exemplo, a participação dos inscritos em eleições por meio de oferecimento de subsídios e bonificações.
"O que o governo deu foi uma declaração contraditória e confusa, como a maioria das coisas na Venezuela atual", diz Steve Hanke, professor de economia aplicada na Universidade Johns Hopkins e um dos maiores especialistas do mundo em hiperinflação. Ele serviu como conselheiro do presidente da Venezuela, Rafael Caldera, em 1995-96.
Qualquer que seja o curso da inflação agora, ela continuará após essas declarações. Pode haver volatilidade na taxa de câmbio em um período de transição, mas ela voltará ao seu curso normal quando as pessoas descobrirem que tudo foi uma farsa
Francisco Rodriguez, diretor do Torino Capital, um banco de investimentos em Nova York que havia elaborado um plano para dolarizar a economia da Venezuela como parte da campanha do candidato presidencial Henri Falcon no início deste ano, afirma: "Há muitos problemas sérios com o plano, mas eu essencialmente acho que vai fracassar porque ninguém acredita que o governo vai parar de imprimir dinheiro. As pessoas continuarão elevando seus preços e o governo não conseguirá cumprir suas promessas".
Os venezuelanos já estão comprando dólares no mercado negro a um preço 30% maior do que na sexta-feira anterior aos anúncios.
A Venezuela, cuja hiperinflação ocupa o 23º lugar em comparação com outras na história mundial, é apenas mais um país conturbado onde os zeros foram cortados. A moeda da Hungria perdeu 29 zeros entre 1945 e 1946, e a da Iugoslávia perdeu 27 zeros entre 1990 e 1994.
"É típico nas reformas monetárias, mas se você não mudar a política monetária, nada muda. É como ir a um cirurgião plástico e fazer um lifting facial. Você está superficialmente alterado, mas ainda é o mesmo", diz Hanke.
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