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Estados Unidos

Por que os democratas não sabem lidar com a inflação

O presidente dos EUA, Joe Biden, discursa no Dia do Memorial Nacional no Cemitério Nacional de Arlington, Virgínia, EUA, em 30 de maio de 2022. (Foto: EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS)

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A inflação foi um dos principais fatores que levaram ao fracasso da presidência de Jimmy Carter, de 1977 a 1981. No pós-guerra, também foi uma pedra no sapato para os democratas em 1920 e 1946. E, hoje, a inflação não é o único problema de Joe Biden: foi a crise na fronteira que começou a rachar sua lua de mel com os eleitores, foi o abandono do Afeganistão ao Talibã que naturalmente colocou Biden em uma queda política em agosto do ano passado.

Além disso, existem as desconfianças da população sobre a idade e incompetência de Biden, o que vai tornar muito difícil a recuperação do presidente democrata. No entanto, não há dúvidas de que a inflação é o problema político número 1 de Biden no momento, já que seu índice de aprovação caiu ainda mais, o que fará com que o Partido Democrata provavelmente pague caro nas urnas no próximo outono.

Inflação é uma má notícia para qualquer presidente, mas particularmente indomável para um presidente democrata. A razão é simples: qualquer uma das possíveis soluções oferecidas exige que os democratas façam exatamente o oposto do que eles querem fazer. A inflação é, como qualquer questão de política monetária, um problema extremamente complexo, mas na prática é muito simples: quando há muito dinheiro atrás de poucos bens e serviços, o preço dos bens e serviços sobe.

Além disso, como a maioria dos fenômenos econômicos, a inflação é dirigida por dois fatores principais: oferta e  demanda. Nesse contexto, existe um círculo vicioso em que os trabalhadores exigem mais salários para acompanhar o custo de vida, e esses salários mais altos aumentam ainda mais os preços. Eles também alteram o planejamento dos negócios, o que restringe ainda mais o fornecimento de bens e serviços.

Existem apenas duas alternativas para controlar a inflação: reduzir a oferta de moeda ou aumentar a oferta de bens e serviços. Como você reduz a oferta de dinheiro? Existem quatro maneiras de fazer isso:

  1. Cortar os gastos públicos, então o governo injeta menos dinheiro na economia. 
  2. Aumentar as taxas de juros, o que coloca pressão recessiva sobre a economia. 
  3. Aumentar os impostos sem aumentar os gastos, então o governo extrai mais dinheiro da economia. 
  4. Incentivar uma mudança de gastos para poupança, o que reduz a quantidade de dinheiro investido em bens e serviços. 

Aumentar a oferta de bens e serviços é uma medida que só pode ser feita pelo governo, reduzindo o custo de fornecimento – seja diminuindo os encargos regulatórios, eliminando obstáculos ambientais, cortando impostos comerciais ou reduzindo barreiras comerciais.

Não há nenhuma opção dessa lista que os democratas prefiram fazer, com a exceção discutível dos aumentos de impostos – e quando os democratas promovem aumentos de impostos, quase sempre o fazem em conjunto com aumentos ainda maiores nos gastos. Eles não podem facilitar a vida das empresas. Eles não podem cortar gastos. Eles não podem mexer na carga tributária para arrecadar mais impostos sobre o consumo e menos impostos sobre a poupança.

Na verdade, tudo o que Biden fez até agora vai contra as opções que listamos acima. O governo gastou US$ 1,9 trilhão no “estímulo” do Plano de Resgate Americano, um passo tão desastroso que até a mídia progressista precisou admitir que foi terrível para a inflação. Biden também passou meses tentando adicionar mais US$ 3,5 trilhões em gastos do falido Build Back Better. Além disso, o presidente democrata fala em oferecer perdão de dívida estudantil até US$ 10.000 por graduado.

A maioria dessas medidas foram apresentadas como estímulos econômicos. Isso não pode ser mais controverso em relação ao que é necessário para combater a inflação, mas os democratas são incapazes de pensar de forma diferente.

Além disso, intelectuais progressistas passaram a última década aprendendo as lições de 1929 e 2008 e se esquecendo das lições de 1979 a 1982. Tanto a Grande Depressão quanto a crise de crédito de 2008 refletiram e foram exacerbadas por reduções repentinas na liquidez. Em cada caso, houve discussões econômicas sobre se o maior culpado era a política monetária muito frouxa criando uma bolha, ou uma contração muito rápida quando ela estourou. De qualquer forma, muitos progressistas saíram com a visão de que o governo em 2009-2010 deveria ter gastado mais para estimular a economia.

Eles desenvolveram a Teoria Monetária Moderna, que é mais ou menos uma fórmula para cortar gastos públicos sem se preocupar com aumento da receita e com o risco da inflação se repetir e da dívida nos alcançar. Basta imprimir mais dinheiro e a festa nunca terminará. Vivemos em um mundo em que essa teoria não deveria sequer se tornar uma possibilidade, embora muitos de nós nos lembremos muito bem das consequências dela. Como você resolve um problema quando sua doutrina diz que o problema não existe e a solução é impensável?

O que nos resta? Apoiar-nos no Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos para aumentar as taxas e fazer o trabalho sujo de espremer a economia. Mas os políticos democratas e os comentaristas progressistas não gostam da ideia e esperneiam para colocar uma solução em prática. Além disso, já é tarde. Ronald Reagan viveu com uma recessão politicamente custosa em 1981-82 que acabou com a inflação ao custo de piorar o outro lado da moeda da estagflação (o desemprego). Mas se houver uma recessão que comece em 2022 ou 2023, Biden e seu partido estarão em situação ainda pior do que já se encontram.

Assim, as opções restantes para combater a inflação, segundo os ideias democratas são: culpar Vladimir Putin, culpar Donald Trump, culpar grandes empresas por “extorsão” e “ganância” e procurar maneiras de impor controles de preços. A inflação pode melhorar um pouco por conta própria à medida que as cadeias de suprimentos globais continuam se recuperando, mas enquanto os democratas e os progressistas estiverem no comando, nenhuma solução será possível.

* DAN MCLAUGHLIN é escritor sênior da National Review Online e membro do National Review Institute.

©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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