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Contra ataques do Irã

Por que os europeus rejeitam plano dos EUA para proteger navios no Golfo Pérsico

Apreensão de petroleiro iraniano
Fuzileiros navais britânicos participando da apreensão de um petroleiro iraniano, Grace 1 (Foto: divulgação/Ministério da Defesa do Reino Unido/AFP)

As crescentes tensões com o Irã após ataques a petroleiros e drones levaram o governo do americano Donald Trump a pedir uma coalizão de aliados para proteger os navios que passam pelo Golfo Pérsico. Porém, os parceiros dos EUA, incluindo o Reino Unido e a França, pediram, essencialmente, para ficar de fora deste plano.

Em vez de fazer parte da Operação Sentinela, esses países querem estabelecer uma iniciativa de segurança marítima europeia quase idêntica ao projeto americano, mas separada – uma divisão que reflete o quão desconfortáveis ​​os aliados se tornaram em relação à campanha de "pressão máxima" dos EUA em relação ao Irã.

"A iniciativa de estabelecer uma iniciativa europeia é um sinal claro de que a Europa está se desviando para se dissociar da política americana em relação ao Irã", disse Jonathan Alterman, diretor do Programa para o Oriente Médio do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. "A Europa quer chegar a um acordo real".

Esse pensamento foi ecoado pelo ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, que disse que a Europa queria tomar medidas para abrir caminho para a redução das tensões com o Irã.

"Na frente diplomática, queremos criar as condições para negociações regionais inclusivas sobre segurança marítima", disse Le Drian. "Isso é o oposto da política norte-americana de pressão máxima".

Funcionários da administração Trump minimizaram em particular as iniciativas de duelo. O secretário de Defesa, Mark Esper, afirmou na quarta-feira (24) que vê os esforços como "complementares". Mas há poucas dúvidas de que o movimento europeu evidenciou o quão prejudicado está o chamado "relacionamento especial" entre os EUA e o Reino Unido, assim como o relacionamento com a Europa de forma mais ampla.

A retirada de Trump do acordo nuclear de 2015 com o Irã provocou frenéticos esforços europeus para manter vivo o pacto. Os EUA continuam a aumentar as sanções destinadas a sufocar a economia do Irã em uma tentativa de forçá-lo à mesa de negociações e concordar com o que Trump diz que seria um acordo mais forte. Muitos países vêem essa abordagem - não ações iranianas - como a fonte original de crescentes tensões entre o governo de Teerã e o Ocidente.

Segurança no Estreito de Ormuz

O ponto mais sensível tem sido o tráfego de petroleiros no Golfo Pérsico, uma passagem crítica para o comércio global de petróleo.

Estados Unidos acusou o Irã e seus aliados de perpetrar uma série de ataques a navios nesse ponto, o que Teerã nega. Em junho, o Irã abateu um drone americano que dizia estar sobre suas águas territoriais, levando Trump a considerar ataques militares antes de recuar.

Após a apreensão do Reino Unido de um petroleiro que transportava petróleo iraniano perto de Gibraltar, o Irã apreendeu na semana passada o navio britânico Stena Impero. O Reino Unido subsequentemente ameaçou "sérias consequências" se o navio e sua tripulação não forem libertados.

Em resposta, os EUA enviaram forças adicionais para a região e anunciaram a Operação Sentinela.

Uma autoridade do Departamento de Estado americano disse, no mês passado, que a operação não é de natureza militar, mas visa manter o controle do Irã, equipando navios com mais câmeras e outros equipamentos de observação. É focado em observar navios, não escoltá-los.

Separados, mas juntos

Quando os líderes europeus anunciaram sua própria proposta nesta semana, eles sugeriram que estavam preocupados em se unir a um esforço liderado pelos americanos que poderia arrastá-los ao conflito, ou associá-los a uma política que eles não apoiam.

O então ministro das Relações Exteriores britânico, Jeremy Hunt, disse na segunda-feira (22) que a iniciativa marítima europeia pretende reduzir as tensões, ao mesmo tempo em que envia uma forte mensagem ao Irã para que deixe de assediar navios na região. Hunt foi substituído na quarta-feira (24) por Dominic Raab, depois que o primeiro-ministro Boris Johnson assumiu o cargo.

Um funcionário do governo americano, pedindo para não ser identificado, disse que os EUA trabalharão com seus parceiros e aliados para salvaguardar a liberdade de navegação. O secretário de Estado, Michael Pompeo, falando a Fox News antes do anúncio, deixou claro que os países europeus desejavam um papel maior na proteção de embarcações.

"A responsabilidade, em primeira instância, recai sobre o Reino Unido para cuidar de seus navios", disse ele.

Funcionários de ambos os lados do Atlântico dizem que quase certamente haverá compartilhamento de informações e outras coordenações, e que as duas iniciativas podem ser fundidas. No entanto, para alguns políticos europeus, a ironia da divisão é demais para ser ignorada. O Reino Unido, onde Johnson prometeu avançar com a saída da União Europeia, é tão cauteloso quanto à política americana em relação ao Irã que prefere se associar a outras nações europeias do que a administração Trump.

"Aparentemente, um governo que está tentando sair da União Europeia não está disposto a empreender uma ação militar com os EUA, mas sim com a União Europeia, porque eles estão mais confortáveis ​​com isso", disse o parlamentar alemão Rolf Muetzenich na quarta-feira.

Os analistas argumentam que os esforços separados só irão alimentar a confusão em uma região já volátil, mesmo se os dois esforços marítimos eventualmente se tornarem um. Eles dizem que isso reflete um medo - que os EUA negam - de que o governo Trump esteja preparado para aumentar ainda mais as tensões com o Irã.

"Os aliados dos EUA estão cada vez mais preocupados em participar de operações conjuntas sob o comando americano", disse Adam Mount, diretor do Defense Posture Project da Federação de Cientistas Americanos. "Se os aliados americanos perderem a fé de que os EUA estão comprometidos com a resolução pacífica da questão do Irã, eles não vão querer ser pegos em uma operação com um objetivo que não apoiam".

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