Quando o candidato à reeleição Donald Trump discursou para apoiadores na Casa Branca na madrugada de quarta-feira (4), dizendo que acionaria a Suprema Corte para pedir que a “votação parasse”, ele já estava preparando o terreno para o que ocorreria na sequência: uma batalha legal nos estados decisivos desta eleição.
A campanha do presidente abriu processos em Wisconsin e Michigan, onde a apuração já indica vitória do democrata Joe Biden, e na Pensilvânia e na Geórgia, onde Trump lidera, mas sua vantagem está diminuindo consideravelmente com o passar das horas, e também em Nevada, onde Biden tem maior número de votos.
Wisconsin
No Wisconsin, a campanha republicana quer uma recontagem dos votos, alegando que “irregularidades” foram observadas durante a apuração dos votos em vários condados. De acordo com o porta-voz da campanha republicana, Tim Murtaugh, no condado de Milwaukee, o maior do estado, trabalhadores eleitorais “corrigiram ou adicionaram informações” nas cédulas que estariam preenchidas de forma errada.
“Estimamos que 15-20% das cédulas de ausentes no condado de Milwaukee foram contaminadas dessa maneira", disse Murtaugh. "Isso também é apenas uma estimativa porque nossos voluntários legais foram impedidos de ter acesso significativo o tempo todo".
As autoridades eleitorais de Wisconsin disseram que o processo de apuração foi transparente e um sucesso.
Em Wisconsin, a diferença entre os dois candidatos é de cerca de 20 mil votos, mas ainda na tarde de quarta-feira, a Associated Press e outros veículos de comunicação que acompanham a apuração já haviam declarado a vitória democrata. Até o início da manhã, Trump estava liderando em Wisconsin. Uma virada aconteceu depois que os votos por correio começaram a ser contados, especialmente em Milwaukee, Green Bay e Kenosha - três das quatro maiores cidades do estado.
Como a diferença entre Trump e Biden é de menos de 1 ponto percentual, os republicanos podem pedir a recontagem. Contudo, o resultado oficial precisa ser oficializado e a campanha de Trump precisa estar disposta a arcar com os custos da recontagem, que só é paga com recursos do estado se a diferença entre os candidatos for menor do que 0,25 ponto percentual.
Em 2016 também houve recontagem no estado, a pedido de candidatos de outros partidos, que não democratas e republicanos. Houve uma alteração nos números, mas que não afetou o resultado da eleição. A recontagem custou US$ 3,5 milhões. Naquele ano, Trump venceu em Wisconsin e acabou com pouco mais de cem votos a mais após a recontagem.
Michigan
No Michigan, a campanha do republicano está tentando parar a contagem oficial de votos que chegam pelos correios, alegando que funcionários eleitorais violaram a lei do estado ao agir sem a presença de inspetores eleitorais de ambos os partidos. O democrata Joe Biden já foi declarado vencedor no estado.
Bill Stepien, gerente da campanha do Trump, disse que o processo visa impedir que mais votos sejam contados em Michigan, porque a campanha de Trump “não teve acesso significativo a vários locais de contagem para observar a abertura das cédulas e o processo de contagem, conforme garantido pela Lei de Michigan”. A campanha também exige “a revisão das cédulas que foram abertas e contadas enquanto não tínhamos acesso significativo" ao local de apuração.
A secretária de Estado de Michigan, Jocelyn Benson, que é alvo da ação, disse à CBS News na quarta-feira (4) que o processo não tem mérito e está confiante na contagem de todos os votos.
“Desde o momento em que as urnas abriram ontem [terça-feira], quando nossos funcionários eleitorais puderam começar a tabular as cédulas, até agora, eles têm seguido todas as regras meticulosamente, contando todos os votos, fazendo isso de forma transparente com pessoas de ambos os partidos observando o processo", defendeu Benson, que trabalha para o governo de democrata Gretchen Esther Whitmer.
De acordo com sites e canais de televisão de Detroit, uma juíza do tribunal de apelações de Michigan rejeitou o pedido dos republicanos na tarde desta quinta-feira.
Georgia
Republicanos ajuizaram uma ação na Geórgia, onde Trump lidera por apenas 0,2 ponto percentual e ainda há possibilidade de uma virada pró-Biden, pedindo que a justiça interrompa a contagem até garantir que os votos recebidos após o fechamento das urnas no Condado de Chatham não sejam contados na apuração.
O presidente do Partido Republicano na Geórgia, David Shafer, afirmou que os observadores do partido viram uma mulher "misturar mais de 50 cédulas na pilha de cédulas de votação por correio".
“Um voto contado ilegalmente suprime um eleitor legítimo tão completamente como se esse eleitor estivesse fisicamente impedido de votar no local de votação”, disse Shafer.
Na Geórgia, os votos que chegaram por correio depois de 3 de novembro não podem ser contados. Contudo, um tribunal local rejeitou a ação dos republicanos, segundo o canal Fox 13.
Nevada
O Partido Republicano em Nevada, onde a contagem dos votos ainda está em andamento e a vantagem é de Biden, ajuizou uma ação alegando de 10 mil votos foram lançados sob nomes de pessoas que já morreram ou não moram mais em Nevada há anos. Esse caso teria ocorrido no condado de Clark, segundo os republicanos.
“É inaceitável neste país ter votos ilegais e isso é o que está acontecendo no estado de Nevada”, disse Ric Grenell, uma das lideranças do Partido Republicano em Nevada.
O gabinete da Secretaria de Estado de Nevada não comentou. Os republicanos disseram ter evidências para comprovar suas alegações, as quais serão divulgadas posteriormente.
A diferença entre os dois candidatos no momento em que o processo foi anunciado era de 8 mil votos, mas a vantagem de Biden vem ampliando desde então e na tarde desta quinta já passa de 10 mil votos.
Pensilvânia
Se a derrota de Trump for confirmada oficialmente em Michigan e Wisconsin, Trump precisará mais do que nunca de uma vitória na Pensilvânia para ser eleito. Até a tarde desta quinta-feira, Trump vai vencendo nas estimativas, mas a diferença entre os candidatos foi caindo ao longo da contagem.
Trump chegou a clamar vitória no estado, apesar de a contagem não ter sido oficialmente encerrada. A Pensilvânia estendeu o período de contagem por entender que votos pelo correio poderiam chegar com atraso. A campanha de Trump entrou inicialmente com um processo para que isso não fosse permitido, mas a Suprema Corte estadual rejeitou o pedido dos republicanos.
Trump vai agora para a Suprema Corte federal tentar reverter a medida. Jay Sekulow, advogado do presidente afirmou ontem sobre o processo (4) que é “a Suprema Corte, não a Suprema Corte da Pensilvânia, [que] deveria ter a palavra final sobre as questões legais relevantes e dispositivas”.
Mas não é só isso, o também advogado do presidente republicado e ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani, afirmou ontem que os fiscais de urna republicanos não estavam tendo acesso suficientemente próximo para verificar a contagem. Hoje, no início da tarde, advogados do partido foram autorizados a entrar nos locais de apuração.
Segundo a National Review, ainda há outro processo em curso na Pensilvânia, aberto no tribunal estadual. Os advogados afirmaram no processo que “os líderes eleitorais democratas violaram o código estadual na segunda-feira, quando autorizaram funcionários eleitorais dos condados a fornecer informações sobre cédulas de correio rejeitadas a membros de partidos políticos”.
Isso teria prejudicado os republicanos pois, segundo o processo, isso teria dado aos democratas tempo para corrigir cédulas de correio com erros antes do dia da votação, o que seria ilegal de acordo com a lei estadual.
A grande questão é saber, se os republicanos provarem as alegações de fraudes, se elas serão suficientes para mudar o resultado final do estado. Como bem lembrou o autor Andrew C. McCarthy na National Review: “Em uma eleição, se um candidato alega fraude e consegue prová-la, mas não o suficiente para alterar o resultado, não há consequências significativas no que diz respeito à eleição”.
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