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Neste domingo (5), uma pesquisa realizada pelo Siena College em parceria como o jornal americano The New York Times apontou que o ex-presidente dos EUA Donald Trump (2017-2021), favorito para ganhar as primárias do Partido Republicano, está à frente do atual presidente americano, Joe Biden, que provavelmente disputará a reeleição pelo Partido Democrata, na disputa pela presidência dos EUA em 2024.
A pesquisa indica que Trump ganharia do democrata em cinco dos seis estados-chave na eleição presidencial americana, que irá ocorrer no ano que vem. Segundo os resultados, Trump lidera nos estados americanos de Nevada, com 52% contra 41% de Biden; Geórgia, com 49% contra 43% de Biden; Arizona, com 49% contra 44% de Biden; Michigan, com 48% contra 43% de Biden; e Pensilvânia, com 48% contra 44% de Biden. O atual presidente americano venceria apenas em Wisconsin, com uma pequena diferença - 47% contra 45% de Trump.
O levantamento foi conduzido por telefone entre 22 de outubro e 3 de novembro e envolveu 3,6 mil eleitores registrados nos seis estados, que não deram a nenhum dos dois candidatos à presidência uma maioria absoluta dos votos na última eleição.
Em 2020, quando Biden derrotou Trump e foi eleito presidente dos EUA, ele ganhou a disputa contra o republicano em todos os estados onde Trump está liderando as intenções de voto neste momento.
Além do segundo lugar nas intenções de votos em estados-chave, a pesquisa também indicou que Biden está perdendo o apoio entre os eleitores americanos mais jovens: apenas 41% dos eleitores com idades entre 18 e 29 anos decidiram, definitiva ou provavelmente, votar no democrata, em comparação com 40% que votariam em Trump. No cenário geral, Trump ganharia as eleições presidenciais americanas por 48% contra 44% de Biden.
Os resultados também apontam que 66% dos entrevistados afirmam que o país está indo na direção errada sob o comando de Biden. Outros 59% desaprovam a maneira como o democrata exerce seu cargo (46% desaprovam fortemente) e 71% concordam com a ideia de que, aos 80 anos, Biden "é muito velho para ser um presidente eficaz”.
A pesquisa também apontou que eleitores negros, antes vistos como uma ala forte para os democratas, registraram agora 22% de apoio para Trump nos estados-chave. Trump também é visto pela maioria dos eleitores desses estados como o líder mais capacitado para gerir a economia dos EUA e os conflitos internacionais, como a atual guerra entre o grupo terrorista Hamas e Israel no Oriente Médio.
A pesquisa divulgada neste domingo não é a primeira em que o atual chefe de Estado americano fica atrás de Trump. Em setembro deste ano, uma pesquisa fruto da parceria entre a emissora americana ABC News e o jornal The Washington Post também mostrou que o ex-presidente Trump liderava as intenções de votos para retornar à Casa Branca em 2024. Segundo a pesquisa, 51% dos eleitores americanos votariam em Trump enquanto 42% escolheriam Biden nas eleições do ano que vem.
A pesquisa ABC News/Post também apontou que mais de 50% da população americana desaprova o atual governo Biden e que 74% dos entrevistados apontam a idade dele como um fator negativo para um eventual segundo mandato.
“Quando as pesquisas colocam outro democrata, que não seja o presidente Biden, os resultados são mais otimistas. Há realmente uma postura crítica à idade do presidente Biden, que já demonstrou em algumas ocasiões públicas limitações do ponto de vista físico”, diz em entrevista à Gazeta do Povo Christopher Mendonça, doutor em Ciência Política e professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) de Minas Gerais.
Para Mendonça, o atual desgaste público de Biden e dos democratas é “o fator que impulsiona a ascensão de Trump nas pesquisas eleitorais”. O professor observou que a economia americana não vive um de seus melhores momentos e que “promessas importantes apresentadas por Biden não conseguiram se concretizar” nesse primeiro mandato. A pesquisa do Times revelou que 52% dos entrevistados acreditam que a economia americana está ruim neste momento.
Trump, por sua vez, conseguiu manter bons resultados econômicos durante seu governo e isso pode ser um dos pontos fortes que estão levando o eleitor americano a optar pelo republicano nas pesquisas de intenção de voto, observou o professor.
Os conflitos internacionais, como a guerra na Ucrânia e o atual conflito em curso no Oriente Médio entre os terroristas do Hamas e Israel também podem estar contribuindo para a preferência por Trump em relação a Biden.
“Certamente a condução da política externa de Biden, especialmente relacionada aos conflitos internacionais, é um fator de descrédito do governo”, diz Mendonça. Segundo ele, a administração de Biden destinou “muitos recursos” para os países em conflito e obteve “poucos resultados”.
“No plano externo, a guerra na Ucrânia e no Oriente Médio estão sendo vistas pelo eleitorado americano como um ponto de reprovação do presidente. Muitos recursos já foram destinados a estes locais sem que houvesse uma clara mudança no contexto de hostilidades”, disse o professor.
Por outro lado, Mendonça explicou que “Trump governou um país que se manteve longe de grandes problemas internacionais” e que isso é um “ponto de força que suporta o seu nome como um candidato competitivo”.
“Trump é o nome que se opõe radicalmente a um governo que não tem tido um bom desempenho. Na economia, na política externa, em questões migratórias e até nas propostas progressistas Biden não tem conseguido entregar ao seu eleitor aquilo que prometeu no passado”, disse Mendonça.
Outro fator que pode estar contribuindo para Biden ficar em segundo lugar nas pesquisas e Trump ocupar o primeiro lugar é a queda da popularidade do democrata entre os eleitores mais jovens, latinos e negros, que foram os grandes apoiadores de sua campanha na última eleição.
De acordo com o levantamento do Times, 57% dos eleitores negros, 58% dos eleitores latinos e 67% dos eleitores jovens com idade entre 18 e 29 anos acham que os EUA estão indo na direção errada sob o governo Biden.
“As promessas feitas a estes grupos simplesmente não foram cumpridas ou foram cumpridas de forma parcial”, explicou Mendonça. “A pauta progressista de Biden encontrou resistência no Congresso, a imigração ainda é um fator de dificuldade para os democratas e a economia certamente não beneficiou as populações economicamente ativas, majoritariamente compostas por jovens”, completou o professor.
Os diversos processos judiciais que Trump enfrenta neste momento parece não ser um empecilho para sua popularidade, muito menos para que ele continue liderando as pesquisas para presidência dos EUA que foram divulgadas até agora. No entanto, Mendonça afirma que a batalha judicial que o ex-presidente está enfrentando pode “alterar o comportamento eleitoral na próxima eleição”.
“Pode haver um desgaste da imagem de Trump através da campanha empreendida pelos democratas”, disse o professor. Apesar disso, ainda é importante “considerar que o ex-presidente não encontra, até o momento, nenhuma decisão que o impeça de disputar as eleições. Diferentemente do Brasil no qual uma condenação em segunda instância impede a candidatura de um político, nos EUA este quadro não se estabelece”, completou.
Ao Times, Monica Fermin, uma eleitora latina que reside no estado da Pensilvânia e que votou em Biden em 2020, disse que o atual presidente americano está “muito velho e não tem capacidade mental” para governar. Para ela, os EUA precisam de “alguém mais forte” neste momento e que por isso vê Trump como a melhor alternativa para as eleições do ano que vem.
Fermin apontou o atual cenário econômico dos EUA e o desemprego como outros fatores principais para a mudança de lado.
"Os empregos estão em baixa porque Biden não soube lidar com a pandemia", disse ela. Fermin completou dizendo que “Trump não sabia no início [como lidar com a economia e o Coronavírus], mas Biden foi ainda pior".
A fala da eleitora latina coincide com a observação feita pelo professor Mendonça. Segundo ele, a “principal mudança desde o último pleito eleitoral diz respeito aos índices econômicos que colocam a administração Biden em uma posição crítica”.
Mendonça pontuou que a retomada pós-pandemia da economia americana já sob o governo Biden “não foi tão positiva quanto se prometia no contexto da campanha eleitoral”.
“A condução da economia é o principal fator que coloca sobre Biden dificuldades eleitorais em determinados estados. Evidentemente que ainda falta um ano para o processo eleitoral e que os resultados daqui em diante podem mudar, mas até o momento a variável econômica é o que mais impacta na preferência popular destes estados”, disse o professor.
"Acho que para mim são todas as promessas quebradas por Biden que me fazem querer mudar para Trump [em 2024]", disse Elaine Ramirez à reportagem do Times. Ramirez é uma eleitora latina residente no estado de Nevada e que sempre votou em candidatos democratas.
À reportagem do jornal americano, ela afirma que votou em Biden em 2020 e disse que o democrata prometeu reduzir a inflação e melhorar a economia durante o seu mandato. No entanto, segundo Ramirez, o atual presidente não cumpriu essas promessas.
Ramirez ainda mantém suas críticas direcionadas ao ex-presidente Trump, mas acredita que neste momento os EUA precisam de alguém como ele para “consertar a economia e o país”.