Enquanto em outras partes dos Estados Unidos as cenas de violência nos atos antirracismo e anti-polícia diminuíram, em Portland, no Oregon, elas ainda são bastante comuns. Depois de 50 dias de distúrbios e vandalismos, o Departamento de Segurança Interna dos EUA enviou tropas federais para coibir os protestos e proteger edifícios federais, provocando mais uma controvérsia sobre o uso das forças de segurança em manifestações.
Os políticos de Oregon, inclusive a governadora Kate Brown (democrata), criticaram fortemente os esforços do governo de Donald Trump para proteger a propriedade federal. O prefeito Ted Wheeler, também democrata, pediu que o presidente ordenasse a retirada das tropas federais da cidade, alegando que a presença delas estava agravando a situação. Em entrevista à CNN no domingo, Wheeler disse que havia "dezenas, senão centenas de soldados federais" na cidade e que a presença deles "está na verdade levando a mais violência e mais vandalismo". "Nós não pedimos que eles viessem aqui. Na verdade, queremos que eles saiam", disse.
Mas o secretário interino do Departamento de Segurança Interna, Chad Wolf, que visitou Portland na quinta-feira passada (16), chamou os manifestantes de "extremistas violentos". "Nossos homens e mulheres de uniforme são patriotas. Jamais nos renderemos a extremistas violentos sob minha vigilância", tuitou Wolf.
O que tem acontecido em Portland
Assim como em vários cantos dos Estados Unidos, os protestos em Portland foram motivados pela morte do afro-americano George Floyd por um policial branco. Desde 29 de maio, primeiro dia de manifestação na cidade, a polícia registrou vários atos de vandalismo contra prédios federais. Alguns manifestantes destruíram cercas que foram colocadas no entorno de propriedades do governo federal, incluindo o prédio de um tribunal. Lasers foram usados para tentar causar danos aos olhos dos policiais, segundo autoridades.
Também foram registrados vandalismos contra estátuas. Monumentos em homenagem a Thomas Jefferson e George Washington, dois dos "pais fundadores" dos EUA, foram derrubados por eles terem sido donos de escravos.
A situação começou a piorar em julho, com repetidos ataques contra um tribunal federal da cidade e contra os agentes federais que estavam protegendo a propriedade. Há relatos tanto de policiais quanto de manifestantes feridos nos confrontos.
No início desta segunda-feira (20), algumas pessoas colocaram fogo na entrada do prédio, enquanto os agentes federais tentavam dispersar a multidão com gás lacrimogêneo. De acordo com um comunicado da polícia de Portland, em um determinado momento da confusão, "dezenas de pessoas com escudos, capacetes, máscaras de gás, guarda-chuvas, paus e tacos de hóquei se aproximaram das portas" do tribunal até que agentes federais saíram e os dispersaram.
Agentes federais em Portland
Para as autoridades de Portland e de Oregon, essa escalada da violência observada nos protestos foi motivada pela presença das tropas federais na cidade, ampliada na semana passada pelo Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em Inglês). Wolf, por sua vez, diz que as autoridades locais perderam o controle sobre a cidade para "anarquistas e agitadores".
A "resposta fracassada apenas encorajou a multidão violenta, enquanto a violência aumenta dia após dia. Esse cerco pode terminar se as autoridades estaduais e locais decidirem tomar as medidas apropriadas em vez de se recusarem a fazer cumprir a lei. O DHS não abdicará de seu dever solene de proteger as instalações federais e os que estão dentro delas", afirmou o departamento em comunicado emitido na semana passada.
Neste fim de semana um vídeo que mostra um manifestante sendo levado por agentes federais em um carro sem identificação foi amplamente compartilhado nas redes sociais. Uma promotora do Oregon abriu um processo contra o governo federal, alegando que os agentes estavam pegando as pessoas nas ruas "sem dar explicação, sem mandado e sem fornecer nenhuma maneira de determinar quem estava comandando a ação". "Essas táticas devem parar", comentou a promotora Ellen Rosemblum.
O caso ocorreu na quarta-feira passada e alguns chegaram a dizer que se tratava de um sequestro, inclusive a União Americana das Liberdades Civis. De acordo com o Washington Post, autoridades federais detiveram o homem que aparece nas imagens, leram seus direitos e depois perguntaram se ele responderia a perguntas. Quando ele se recusou, eles o liberaram sem acusações.
As tropas federais estão autorizadas a atuar em Portland sem a necessidade de uma solicitação do governo estadual devido a um decreto assinado pelo presidente Donald Trump no mês passado. Trata-se da mesma ordem que criou um agrupamento especial para proteger estátuas em locais públicos, uma medida adotada pelo republicano depois que várias foram derrubadas e vandalizadas por manifestantes do movimento Black Lives Matter.
Os democratas da Câmara dos Deputados dos EUA pediram uma investigação sobre o caso em Portland, questionando se o Departamento de Justiça e o Departamento de Segurança Interna "abusaram das autoridades de emergência para justificar o uso da força" contra os manifestantes.
Em defesa de sua gestão, Trump tuitou neste domingo que o governo federal está tentando ajudar Portland e não prejudicar a cidade. A liderança da cidade, "durante meses, perdeu o controle sobre os anarquistas e agitadores", tuitou o presidente. "Devemos proteger a propriedade federal e nosso povo".