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Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos em meio à desilusão com a política e crescimento da direita

Pessoas participando de um desfile em Portugal realizado nesta sexta-feira (25) em comemoração aos 50 anos da Revolução dos Cravos (Foto: EFE)

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50 anos se passaram desde a emblemática Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura salazarista, iniciada por António de Oliveira Salazar, que durou 48 anos, e permitiu a ascensão da democracia em Portugal em 1974.

Neste momento, enquanto políticos portugueses celebram o ato, o sentimento que permeia a sociedade do pequeno país europeu é de insatisfação.

Este sentimento foi apontado por uma pesquisa divulgada pelo jornal português Diário de Notícias nesta quinta-feira (25), dia da celebração dos 50 anos da revolução. A pesquisa mostra que mais da metade dos portugueses (51%) está descontente com o estado atual da democracia do país, e uma parcela ainda maior (67%) acredita que os políticos não se preocupam com os interesses do povo.

A pesquisa apontou também que 39% dos entrevistados consideram que suas vidas pioraram nos últimos anos, e apenas 33% dos portugueses tem esperanças de melhoria no curto prazo. As áreas de Habitação e Justiça, de acordo com o levantamento, são as que mais geram descontentamento na sociedade portuguesa, com 69% e 64% de insatisfação, respectivamente.

Apesar do ceticismo geral, a crença no poder do voto permanece alta, com 85% dos entrevistados acreditando na sua eficácia. Além disso, 67% dos portugueses ainda encontram representatividade em pelo menos um partido político do país.

Portugal realizou em março uma eleição parlamentar, onde a direita nacionalista e a centro-direita conseguiram obter um ótimo desempenho. Luís Montenegro, o líder da coalizão de centro-direita vencedora desta eleição, assumiu o posto de primeiro-ministro, que era ocupado desde 2015 pelo socialista António Costa, que renunciou ao cargo em novembro do ano passado em meio a um escândalo de corrupção.

Quando questionados na pesquisa sobre como melhorar a democracia, 33% dos portugueses entrevistados sugeriram a necessidade de melhores líderes políticos, e 26% defenderam cidadãos mais informados e engajados. A prosperidade econômica, igualdade e reforma do sistema eleitoral também foram mencionados no levantamento. A insatisfação com os políticos pode ser reflexo da percepção negativa das condições de vida.

A esperança de melhoria no futuro não é animadora, com 31% dos portugueses acreditando que a situação do país vai piorar, especialmente para os indivíduos que possuem uma renda menor.

Analistas apontam que este cenário de ceticismo favoreceu o fortalecimento do Chega nas últimas eleições. Partido da direita nacionalista fundado em 2019 e liderado por André Ventura, o Chega ampliou sua representação parlamentar para 50 deputados, tornando-se a terceira maior força política de Portugal.

Vicente Valentim, cientista político da Universidade de Oxford, afirmou à agência Reuters que alguns portugueses votaram no Chega porque se sentiram "deixados para trás" por representantes anteriores.

Apesar de o Chega se distanciar de comentários sobre a ditadura salazarista, uma pesquisa de março apontou que são os eleitores do partido que mais demonstram “nostalgia e saudades” pelo período. Políticos da legenda, como Pedro Pinto, também já fizeram comentários favoráveis ao período salazarista.

Comentando os casos, Ventura já disse que sua legenda é um “espaço de liberdade”.

“Acredito que haja pessoas [no partido que admirem Salazar]. Nós temos que perder essa coisa de que tudo o que vem do Estado Novo é mau e tudo o vem do 25 de Abril é bom”, afirmou ele em janeiro de 2022.

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