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Seis anos de debate

Portugal descriminaliza a eutanásia apesar de veto presidencial

Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal
Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, durante coletiva de imprensa no Parlamento Europeu em Estrasburgo, França, no último dia 10. (Foto: EFE/EPA/Julien Warnard)

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O Parlamento de Portugal aprovou nesta sexta-feira (12) a descriminalização da eutanásia, apesar do último veto político do presidente português, o conservador Marcelo Rebelo de Sousa, e da rejeição da direita, que ameaça recorrer ao Tribunal Constitucional apesar deste recurso não paralisar a aplicação da lei.

Já se passaram quase seis anos desde que o Parlamento debateu pela primeira vez o assunto e foram necessárias várias versões da lei para superar as quatro tentativas de Rebelo de Sousa de derrubar a proposta: dois vetos políticos e dois por questões jurídicas no Tribunal Constitucional.

Finalmente, a lei foi aprovada nesta sexta-feira por 129 votos a favor dos socialistas, com maioria absoluta no plenário, do Bloco de Esquerda, dos ativistas dos direitos dos animais, do Livre e da Iniciativa Liberal, o único partido de direita a aderir à iniciativa.

A lei recebeu 81 votos contra, do Partido Comunista - a exceção de apoio entre a esquerda -, do conservador Partido Social Democrata e do partido de direita Chega.

Tanto os socialistas como o Partido Social Democrata deram liberdade de voto aos seus deputados e, como resultado, quatro do Partido Socialista votaram contra e oito dos conservadores votaram a favor.

O veto presidencial não impede a lei de entrar em vigor, uma vez que, como explicou à Agência EFE a deputada socialista Isabel Moreira, a Constituição estabelece que, apesar do veto presidencial, com uma maioria de mais de 116 deputados, a lei será aprovada. Rebelo de Sousa, que é católico praticante, tem agora oito dias para sancionar a lei.

O presidente procurou evitar especulações, garantindo que o seu último veto responde a uma "precisão" e não a um problema de inconstitucionalidade e que "não há nenhum drama" na sua aprovação.

O Partido Social Democrata e o Chega, no entanto, ameaçam recorrer ao Tribunal Constitucional - embora o procedimento não paralise a aplicação da lei - e defendem a convocação de um referendo.

Nas ruas, 61% dos portugueses apoiam a descriminalização da eutanásia, segundo uma pesquisa realizada em fevereiro pela Aximage para vários veículos de comunicação portugueses, que revela ainda que a porcentagem sobe para 70% na faixa etária de 18 a 35 anos.

Debate longo

Portugal se junta-se assim a outros vizinhos europeus, como Espanha e Bélgica, depois de um processo que durou seis anos, passou por três legislaturas socialistas e necessitou de cinco votações em plenário.

"Nenhum país discutiu durante tantos anos tantas garantias, tantos pormenores, tantos procedimentos como Portugal", afirma Isabel Moreira, que está convencida de que o texto hoje aprovado é "muito protetor".

Durante este longo processo, o Parlamento reformulou o seu conteúdo para superar cada um dos vetos, mas aprovou a redação final depois de afastar problemas de constitucionalidade.

"A lei tem toda a legitimidade para avançar", defendeu Catarina Martins, do Bloco de Esquerda.

Suicídio assistido

O texto aprovado define a morte medicamente assistida como aquela que "ocorre por opção", aplicável a adultos que demonstrem "sofrimento de grande intensidade, com lesão definitiva de extrema gravidade ou doença grave e incurável" e quando é "praticada ou assistida por um profissional de saúde".

É priorizado o suicídio assistido e pode ser aplicado em casos de doentes fisicamente incapazes de fazê-lo por conta própria. A medida também limita o procedimento aos cidadãos portugueses ou residentes no país.

O presidente da República tem agora oito dias para promulgar a lei, que entrará em vigor no dia seguinte ao da sua publicação no Diário da República.

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