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União Europeia

Preconceito dificulta entrada da Turquia

Estação de trem em Istambul, capital da Turquia: país sofre resistência para entrar na Comunidade Europeia | Mustafa Ozer/AFP
Estação de trem em Istambul, capital da Turquia: país sofre resistência para entrar na Comunidade Europeia (Foto: Mustafa Ozer/AFP)

A Turquia deve ser o próximo país a integrar a Comunidade Europeia, mas quando isso vai acontecer ainda é uma incógnita. Os turcos lançaram sua candidatura em outubro de 2005 e, desde então, têm se preparado para ingressar no bloco. No dia 12 deste mês, o país realizou um referendo popular, que foi aprovado, com vistas a uma eventual reforma constitucional. As mudanças – um pacote composto por 26 artigos – pretendem garantir a laicização do Estado e aproximá-lo da realidade democrática encontrada nas demais nações que compõem a União Europeia (UE).

Apesar do esforço turco, uma parcela significativa dessas nações rejeita a entrada da Turquia na Comunidade. Segundo uma pesquisa anual divulgada pela Transatlantic Trends, realizada em 11 países membros, 47% dos europeus consultados são desfavoráveis à entrada da Turquia na União Europeia. De acordo com o estudo, a grande maioria dos pesquisados alega que o país em questão não possui valores em comum suficientes para integrar o bloco.

Em contrapartida, o interesse dos próprios turcos em fazer parte da UE também diminuiu. Em 2004, o estudo da Transatlantic Trends apontava que 73% deles eram favoráveis ao ingresso do país. Na pesquisa mais recente, apenas 38% consideram positiva a adesão. A demora para implementar as reformas exigidas e o distanciamento entre os valores ocidentais e muçulmanos – 99% dos habitantes do país professam a religião islâmica – podem explicar o crescente desinteresse dos habitantes do país por fazer parte da Comunidade Europeia.

"É lógico que à Turquia interessa entrar na UE, mas será difícil para o país assimilar toda a cultura ocidental. Além do que, a Turquia ainda precisa implementar suas reformas e isso deverá consumir mais alguns anos de esforços", explica Rafael Pons Reis, professor do curso de Relações Internacionais da UniCuritiba. Pons Reis complementa dizendo que o governo turco já deixou bem claro que pretende realizar as reformas, mesmo sob a resistência dos setores mais conservadores do Estado muçulmano.

O problema, no momento, são os vários países de forte expressão política no continente europeu que rechaçam o ingresso da nação muçulmana. Os ministros do exterior da Alemanha e da França encabeçam o grupo, e o francês, Bernard Koucher, também deu mostras de que seu país não diminuirá a oposição à entrada da Turquia na UE. Recentemente, a França expulsou do seu território centenas de ciganos romenos – a Romênia também faz parte da Comunidade Europeia – sob a justificativa de que tais imigrantes estariam trabalhando ilegalmente em solo francês.

Medo real

O perigo da imigração ilegal e a possível perda de postos de trabalho são alguns dos fantasmas que assombram os habitantes dos atuais países membros da Comunidade. "Os portugueses, só para citar um exemplo, estão com medo de que o fluxo de pessoas ocasionado pela entrada da Turquia na UE possa comprometer a oferta de emprego e piorar, ainda mais, a situação econômica do bloco", analisa Pons Reis.

Religião

Alguns países membros temem também que a entrada da Turquia favoreça uma maior penetração islâmica na Europa. Fenômeno que já é perceptível – embora em menor escala – na França e Inglaterra, onde o grande número de imigrantes provenientes de países muçulmanos tem causado sérios conflitos nos últimos anos. Há poucas semanas, com a justificativa de conter o "pavor muçulmano", o governo francês proibiu, no país, que as mulheres islâmicas usem véus integrais ou que cubram por completo o rosto feminino.

De acordo com especialistas, talvez seja exatamente o preconceito religioso o maior impeditivo à entrada da Turquia na Comunidade Europeia. Sua proximidade geográfica e ideológica com alguns países muçulmanos é vista com extrema desconfiança por boa parte das nações que já fazem parte do bloco.

"A Turquia faz fronteira com o Iraque, logo as fronteiras europeias estariam muito próximas a uma região notadamente conflituosa e isso poderia representar um verdadeiro perigo à segurança europeia", afirma Alexsandro Eugênio Pereira, coordenador do núcleo de pesquisa em Relações Internacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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