O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, reiterou ontem, em discurso no Congresso dos Estados Unidos, os limites exigidos por Israel para um acordo de paz, enquanto sugeriu que o país será "generoso" na cessão de terras aos palestinos.
Netanyahu se manteve firme na defesa da indivisibilidade de Jerusalém, rejeitou o direito de retorno de refugiados palestinos, disse que manterá presença militar na Cisjordânia e que um futuro Estado palestino terá de ser totalmente desmilitarizado.
Ele, contudo, insinuou passos que considera concessões, como a admissão de que Israel terá de sair de alguns assentamentos na Cisjordânia. Disse também que é possível ter "criatividade" com o futuro de Jerusalém, apesar de manter a cidade inteira como capital israelense.
E ainda afirmou que será "generoso" com o tamanho do futuro Estado palestino, ainda que não ceda terras consideradas estratégicas para sua segurança em Jerusalém Oriental. "Teremos que ser firmes sobre onde colocar as fronteiras."
"Estou disposto a fazer concessões dolorosas. Reconheço que, para uma paz genuína, será exigido que desistamos de partes da terra ancestral judaica", disse.
Netanyahu afirmou que pensar nas fronteiras de 1967 (antes da Guerra dos Seis Dias) é inaceitável, mas deu a entender que pode aceitar o princípio de trocas de terras mutuamente acordadas entre os dois lados, defendido pelo presidente Barack Obama na semana passada.
O premiê praticamente eliminou a chance de negociações significativas, pois rejeitou diálogo com um governo palestino do qual o grupo radical Hamas faça parte. O Hamas, que controla a faixa de Gaza, fechou em abril acordo de união com o laico Fatah, da Cisjordânia.
O premiê falou sobre o Irã e insistiu em que o regime dos aiatolás só interrompeu seu programa nuclear uma vez e por medo de ação militar. "Quanto mais o Irã crer que todas as opções estão sobre a mesa, menor a chance de confronto", disse. A segurança que demonstrou em sua fala reflete o apoio que tem entre congressistas americanos, que pouco antes de entrarem em campanha pela reeleição cortejam o eleitorado judaico-americano.
Mas o discurso foi recebido com indignação pelos palestinos. Para Nabil Shaat, um dos principais dirigentes do Fatah, foi uma "declaração de guerra".
"Nada podemos fazer a não ser continuar nossa luta na arena internacional", disse Shaat, em relação ao plano da Autoridade Nacional Palestina de declarar seu Estado na ONU, em setembro.
Em Israel a ausência de novidades foi o que mais chamou a atenção, depois de o gabinete do premiê ter criado uma expectativa nos últimos dias de que o discurso traria surpresas.
A oposição condenou a falta de um plano para romper o impasse pouco antes de um esperado conflito internacional na ONU em setembro. E a direita, alicerce da coalizão de governo de Netanyahu, criticou a sugestão de que assentamentos ficarão fora das fronteiras israelenses.
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Para Netanyahu, as concessões de terras serão "dolorosas"
No discurso feito ontem ao Congresso americano, o premiê israelense Benjamin Netanyahu afirmou que a busca da paz com os palestinos irá exigir a entrega "de terras bíblicas queridas para os judeus".
"Estou disposto a fazer as dolorosas concessões para atingir essa paz histórica. Como líder de Israel, é minha responsabilidade", disse o primeiro-ministro. "Não é fácil para mim. Isso não é fácil, porque eu reconheço que a verdadeira paz necessitará da entrega de partes da terra natal ancestral dos judeus", disse, referindo-se ao território invadido na Cisjordânia.
Contudo, o premiê afirmou que não concordará com nenhum acordo que ameace a segurança ou a identidade de seu país como um "Estado judeu".
Hamas
Referindo-se ao Hamas (o grupo extremista que governa a Faixa de Gaza), o premiê disse que Israel não negociará com "terroristas".
Ele pediu ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, que desfaça o acordo firmado com o Hamas para a divisão de poder na Palestina.
Netanyahu também disse que Israel não precisa da ajuda dos EUA para manter a estabilidade na região.
"Nós não precisamos que vocês exportem a democracia para nós, já a adotamos. Nem precisamos que enviem tropas para Israel, nos já nos defendemos. Vocês [Estados Unidos] têm sido generosos em nos dar as ferramentas para que Israel se defenda sozinho", disse.
Em discurso sobre o Oriente Médio nesta semana, o presidente americano Barack Obama havia afirmado que um acordo de paz entre israelenses e palestinos deveria ser firmado nas bases das fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967.