As flores enviadas como oferenda pelo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, ao Templo de Yasukuni, onde são homenageados os soldados japoneses e vários criminosos de guerra do país, desenterrou hoje uma velha polêmica e provocou críticas veladas da China e outra mais irritada da Coréia do Sul.
Segundo a imprensa japonesa de hoje, Abe teria enviado, entre os dias 20 e 23 de abril, uma planta a Yasukuni, onde são homenageados os soldados mortos nas guerras japonesas do século XX, o que posteriormente foi confirmado por seu porta-voz.
Desde que assumiu o Governo, Abe não imitou seu antecessor Junichiro Koizumi em suas visitas ao templo de Tóquio, que irritaram a China e a Coréia do Sul. A oferenda a Yasukuni parece destinada a agradar os conservadores de seu partido.
Recentemente, a China abriu um período tido como de "degelo" nas relações com o Japão, com a visita a Tóquio do primeiro-ministro, Wen Jiabao. Hoje, o Governo chinês preferiu não criticar duramente a oferenda de Abe, mas pediu ao Japão que leve em conta a sensibilidade chinesa sobre tudo relativo ao Templo de Yasukuni e pediu que Tóquio respeite o consenso bilateral estabelecido.
Já a reação da Coréia do Sul foi mais dura, expressando o "profundo pesar" de Seul diante da homenagem. Para os sul-coreanos, o templo é considerado um símbolo do imperialismo japonês. Seul pediu ao Japão que aplique uma "percepção histórica correta".
Os círculos políticos japoneses amanheceram hoje com a notícia de que Abe tinha enviado ao Templo de Yasukuni, durante o festival da primavera, uma planta masakaki avaliada em ¥ 50 mil (US$ 425), segundo fontes do Governo citadas pela agência japonesa "Kyodo" e pela televisão pública "NHK". A mesma fonte, não identificada, disse que Abe pagou a planta do próprio bolso.
Horas mais tarde, em um pronunciamento à imprensa, o porta-voz do Governo, Yasuhisa Shiozaki, disse que Abe enviou as flores a título particular, e não de maneira oficial.
Segundo a imprensa japonesa, a oferenda era acompanhada de uma placa de madeira na qual se lia "primeiro-ministro Shinzo Abe", mas um porta-voz do Templo de Yasukuni disse à agência Efe que a placa foi colocada depois pelo pessoal do santuário.
O líder japonês conseguiu plantar as sementes de uma relação de amizade entre o Japão e seus vizinhos. Embora sua incontinência verbal sobre o assunto das "escravas sexuais" tenha provocado controvérsia recentemente, ele parecia ter conseguido fazer esquecer o assunto de Yasukuni.
Apesar de o primeiro-ministro do Japão não ter comparecido ao templo, 39 parlamentares da base aliada e da oposição, incluindo dois membros do primeiro escalão do Governo, visitaram o local no dia 23.
Segundo a "Kyodo", desde que assumiu a liderança do Japão Abe adotou uma política ambígüa em relação a Yasukuni. Ele tentou conciliar o florescimento das relações com China e Coréia do Sul com comentários para acalmar os líderes de seu partido.
Durante sua visita ao Japão, no mês passado, Wen Jiabao afirmou que os assuntos relativos ao histórico de confrontos entre Japão e China durante o século XX são um "problema grave" que será um obstáculo se não for administrado corretamente.
O caso de Yasukuni não tinha causado nenhuma divergência entre Japão e seus vizinhos regionais recentemente. Mas os repetidos comentários de Abe e de outros membros de seu Governo sobre as "escravas sexuais" foram alvo de críticas de Pequim e Seul em várias ocasiões desde que Abe assumiu o cargo de primeiro-ministro do Japão.
As "escravas sexuais" - ou "mulheres de conforto", como são chamadas eufemisticamente no Japão - são as asiáticas prostituídas pelo Exército japonês em bordéis militares durante a ocupação da China e da Coréia nos anos 1930 e 40.