Harare - O premier do Zimbábue, Morgan Tsvangirai, pode sofrer acusação de traição por conversa mantida com o embaixador americano relatada em documentos dos EUA revelados pelo site WikiLeaks. O procurador-geral do Zimbábue, Johannes Tomana, afirmou que pretende nomear comissão para determinar se a revelação configura traição, crime que pode ser punido com pena de morte.
Em despacho de 24 de dezembro do ano passado, segundo o Guardian, o premier defende a manutenção das sanções internacionais contra o país, que têm como maior alvo o ditador Robert Mugabe, no poder desde 1980 e rival de Tsvangirai.
"O WikiLeaks parece mostrar uma traiçoeira conspiração entre cidadãos do Zimbábue e agressivos atores, particularmente os EUA", disse Tomana ao estatal Herald. "Com efeito imediato, eu estou instruindo uma equipe para analisar os temas que surgiram com o WikiLeaks."
Na semana passada, os Estados Unidos impuseram sanções contra o procurador alegando que suas ações comprometem as instituições locais.
A intenção de Tomana é compartilhada pelo partido de Mugabe, o Zanu-PF, que defende a abertura de inquérito sobre o caso e aprovação de lei que considere traição a defesa de sanções ao país.
Esgotamento
A iniciativa é novo indício de esgotamento do governo de união formado para colocar fim à grave crise política desencadeada após as eleições presidenciais de 2008. Na ocasião, Tsvangirai venceu Mugabe no primeiro turno, mas abandonou o pleito antes do segundo, alegando perseguição de partidários por parte do governo.
O impasse e uma crise humanitária de grandes proporções só foi contornado com a formação, após intensa pressão internacional, do governo de união que assumiu em fevereiro de 2009. O acordo logrou conter a deterioração da situação humanitária e econômica local, mas não foi o suficiente para que a maioria das sanções internacionais fosse revista.
Pelo que fora acordado, uma nova Constituição deveria ser redigida, e eleições gerais seriam realizadas até fevereiro do próximo ano.