O presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, disse ontem que a Constituição do país será revisada como parte de um amplo espectro de reformas políticas. Bouteflika, que tenta conter crescentes tensões sociais e políticas que colocam em xeque o governo, admitiu montar uma comissão para cuidar do assunto.
A Argélia tem sido parcialmente atingida pelos protestos populares que neste ano levaram à queda dos governos da Tunísia e do Egito e também a uma guerra civil na Líbia. Em janeiro, os distúrbios no país deixaram cinco mortos e 800 feridos.
A comissão, nas palavras do mandatário argelino, "fará as propostas que, eu garanto, estarão em conformidade com os valores fundamentais da nossa sociedade, antes de serem submetidas à aprovação do parlamento ou por meio de um referendo".
Bouteflika, de 74 anos, os últimos 12 no poder, também anunciou mudanças na legislação eleitoral, nos partidos políticos e nas associações. Ele não falava ao povo desde 1999 e seu novo discurso foi transmitido ao vivo pela televisão estatal do país.
Especialistas, contudo, analisam que a novidade não toca realmente nos profundos problemas sociais e políticos da Argélia.
"Não é um programa de transição democrática, de maneira nenhuma. É um discurso para ganhar tempo", disse Chafik Mesabah, analista político que fez parte das Forças Armadas.
"Eu acredito que isso irá piorar o estado das coisas, mais que resolver. A situação social não foi nem mesmo citada nos anúncios".