O presidente do Chile, Sebastián Piñera, garantiu que não vai renunciar, apesar dos pedidos de manifestantes, e disse que está disposto discutir mudanças na Constituição.
"Estamos dispostos a discutir sobre tudo, incluindo uma reforma na Constituição", afirmou Piñera em entrevista à BBC publicada nesta terça-feira (5). O presidente chileno defendeu a sua decisão de decretar estado de emergência e assegurou que os casos de abuso de força, assim como os casos de incêndio e depredação promovidos por manifestantes, serão investigados e punidos.
Nesta terça-feira (5), uma missão do Alto Comissariado para Direitos Humanos da ONU visitou o hospital em que estão duas policiais que foram atingidas por bombas molotov na segunda-feira. A delegação está há uma semana no Chile, após ser enviada para verificar denúncias de violações aos direitos humanos durante o estado de emergência decretado no início dos protestos. Piñera suspendeu o estado de emergência em 27 de outubro. A missão da ONU esteve reunida com autoridades do governo e do poder judicial, e visitou hospitais e presídios, segundo o jornal La Tercera. Os técnicos devem visitar a comissão de Direitos Humanos da câmara dos deputados na quarta-feira.
Manifestantes em menor número
Os protestos sociais no Chile diminuíram na praça central da capital, que menos de duas semanas antes havia reunido 1,2 milhão de pessoas que exigiam melhoras sociais que iam de altas nos salários e pensões até uma nova Constituição. Centenas de pessoas caminhavam nesta terça-feira por algumas pistas da principal avenida de Santiago, num dia em que nas redes sociais se multiplicavam as convocações para uma marcha de guarda-chuvas negros. Entre aqueles que foram à praça havia poucos guarda-chuvas, e coloridos.
Os manifestantes estavam em número menor do que na segunda-feira quando o ato terminou com violentos incidentes e uma forte repressão policial, que tem sido característica na última semana. O intendente (prefeito) de Santiago, Felipe Guevara, estimou que entre 2 mil e 2.500 pessoas estavam presentes nesta terça-feira.
Em Concepción, 500 quilômetros ao sul de Santiago, uma manifestação com pessoas encapuzadas teve um episódio de entrada forçada em uma agência bancária, da qual móveis foram retirados para a rua e queimados. Havia, de qualquer modo, manifestações menores em cidades do norte e do sul do país.
Uma alta na tarifa do metrô detonou há 19 dias violentos saques, incêndios e destruição na maioria das estações do metrô, além de abrir caminho para grandes protestos em todo o país. Isso obrigou o governo do presidente Sebastián Piñera, de centro-direita, a oferecer um pacote de leves melhoras sociais - que devem ser primeiro aprovadas no Congresso - e a mudar oito de seus 24 ministros, além de propor cortes nos milionários salários dos congressistas, que vão de US$ 27 mil a US$ 44 mil, além de uma alta nos impostos daqueles que ganham mais de US$ 11 mil ao mês.
O ministro da Fazenda, Ignacio Briones, disse nesta terça-feira no Congresso que o crescimento no Chile ficará entre 2,0% e 2,5% neste ano.