Jacob Zuma, presidente da África do Sul, fala com jornalistas durante a 54ª conferência nacional do partido do Congresso Nacional Africano em Joanesburgo, África do Sul, em 18 de dezembro de 2017| Foto: Waldo Swiegers/Bloomberg

O presidente sul-africano, Jacob Zuma, anunciou sua renúncia nesta quarta-feira (14), em meio a acusações de corrupção que levaram o seu partido a deixar de apoiá-lo. 

CARREGANDO :)

No poder desde 2009, Zuma renunciou em um discurso de 30 minutos transmitido pela TV sul-africana na noite desta quarta. Ele afirmou que discorda da maneira como seu partido, o CNA (Congresso Nacional Africano), exigiu sua saída do cargo. 

"Cheguei à decisão de renunciar como presidente da República, com efeito imediato", afirmou Zuma. 

Publicidade

"Apesar de discordar da decisão da liderança da minha organização, sempre fui um membro disciplinado do CNA", disse. 

O partido ordenou que Zuma deixasse a presidência na terça-feira. Como o presidente se recusava em fazê-lo, o CNA anunciou que apoiaria moção da oposição no Parlamento, um voto de desconfiança, para forçar sua saída. 

"Nenhuma vida deveria ser perdida em meu nome. E o CNA também não deveria ficar dividido em meu nome", acrescentou Zuma no pronunciamento. 

"Devo aceitar que se meu partido e meus compatriotas desejam que eu seja removido, eles devem fazê-lo na maeira prescrita pela Constituição", disse. 

O atual vice, Cyril Ramaphosa, deve assumir a Presidência até o fim do atual mandato, em 2019. Ele pode tomar posse na sexta (16). 

Publicidade

Os dois líderes protagonizam uma queda de braço desde dezembro, quando Ramaphosa venceu a disputa para substituir Zuma no comando do CNA, partido que dirige a África do Sul desde o fim do apartheid, em 1994. 

"Essa decisão dá ao povo da África do Sul certeza em um momento em que desafios sociais e econômicos ao país requerem uma resposta urgente e resoluta", afirmou o vice-secretário-geral do CNA, Jessie Duarte. 

O pronunciamento marcou uma reviravolta no posicionamento de Zuma. Mais cedo nesta quarta, ele havia dito que não pretendia renunciar porque não via motivos para deixar o cargo. "Eu preciso saber o que eu fiz. Por que a pressa?" havia dito. 

Denúncias 

Zuma, 75, enfrenta uma série de acusações de corrupção. Sua ligação com a família Gupta, acusada de subornar autoridades em troca de contratos públicos, também é alvo de escrutínio. 

Nesta quarta, a polícia fez uma operação anticorrupção na residência dos Gupta, durante a qual três pessoas foram presas. Tanto a família quanto Zuma negam as acusações. 

Publicidade

Em 2016, o Protetor Público, órgão anticorrupção da África do Sul, publicou relatório intitulado "Estado de Captura" em que afirma que os Gupta tentaram influenciar a indicação de ministros e receberam concessões estatais ilegalmente. 

A filha de Zuma, Duduzile, foi uma das diretoras da Sahara Computers, dos Gupta. O filho do presidente, Duduzane, também foi diretor em uma empresa do grupo Gupta, mas renunciou após pressão da opinião pública em 2016. 

O crescente poder dos Gupta no governo sul-africano foi exposto em março de 2016, quando o então vice-ministro de Finanças Mcebisi Jonas disse que um membro da família ofereceu a ele o posto de ministro no ano anterior. 

Outro caso semelhante envolve uma ex-parlamentar do CNA, Vytjie Mentor, que afirma ter recebido uma proposta dos Gupta para assumir o Departamento de Empresas Públicas. 

Outras denúncias contra Zuma envolvem uma série de reformas feitas em sua casa e pagas com dinheiro público. 

Publicidade

Parte da cúpula do CNA teme que a derrocada da popularidade do agora ex-presidente prejudique o partido nas próximas eleições, abrindo espaço para a oposição, e por isso pressionava para que ele deixasse o cargo. 

A sigla, que tem como maior símbolo o ex-presidente Nelson Mandela (1918-2013), comanda o país desde o ocaso do regime de segregação racial, em 1994. 

Em 2016, Zuma chegou a enfrentar uma votação de impeachment, mas obteve vitória e permaneceu no cargo.