A duas semanas para que Juan Manuel Santos seja empossado presidente da Colômbia, ele já está diante de um de seus mais complicados desafios: as explosivas relações diplomáticas com a Venezuela. O presidente em fim de mandato da Colômbia, Alvaro Uribe, deixa para Santos um legado de melhora no setor de segurança e níveis recordes de investimento estrangeiro no país. Mas, de quebra, Santos herdará um histórico de confrontação com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, com ares de telenovela, repleto de mútuos insultos infantis, acusações de traição e denúncias de beligerância alheia.
Os problemas entre Uribe e Chávez ganharam um novo capítulo na última quinta-feira, quando o líder venezuelano anunciou o rompimento das relações diplomáticas entre Caracas e Bogotá.
A decisão de Chávez veio à tona apenas algumas horas depois de a Colômbia ter denunciado a Venezuela perante a Organização dos Estados Americanos (OEA) por supostamente tolerar em seu território a presença de cerca de 1,5 mil guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Para Santos, o rompimento das relações representa um desafio a seus planos para a economia e para a segurança da Colômbia. Ao longo do último ano, os exportadores colombianos perderam bilhões de dólares por conta da deterioração das relações entre Bogotá e Caracas.
Assim como Uribe, Santos deseja a ajuda venezuelana no combate às Farc. Alguns analistas acreditam que o contingente do grupo guerrilheiro chegue a 8 mil homens. Segundo a denúncia apresentada pela Colômbia perante a OEA, cerca de 1,5 mil deles estariam escondidos na Venezuela.
"Nos últimos três anos, Uribe tentou confrontar a Venezuela por esta não colaborar com o combate às Farc", observa Laura Gil, uma analista política estabelecida em Bogotá. "Isso não rendeu a ele (Uribe) nenhum resultado. Portanto, Santos tentará uma nova abordagem e deseja boas relações diplomáticas", avalia ela.
Laura Gil acredita que o verdadeiro desafio para Santos será restabelecer e manter relações diplomáticas normais com a Venezuela, tarefa que talvez seja praticamente impossível dadas as profundas divergências ideológicas entre Chávez e o presidente eleito colombiano.
Filho de uma rica e influente família de Bogotá, Santos personifica de diversas formas os "oligarcas" que Chávez e seus correligionários socialistas consideram inimigos. Graduado em Harvard e na London School of Economics, Santos defende ideias de livre mercado desprezadas por Chávez. E uma vez que Santos considera-se um pragmático, ele deseja continuar reforçando os laços econômicos e militares com os Estados Unidos, o que provavelmente descontentará Chávez, que acusa Bogotá de trabalhar em conjunto com Washington com o objetivo de derrubar seu governo.