Novo presidente terá de fazer governo de união nacional
Para o diretor do programa de estudos africanos da Chatham House, Alex Vines, a prisão do presidente Laurent Gbagbo é positiva. Mas o princípio de guerra civil dificultou uma missão já complicada de unificar uma nação com divisões mais profundas.
Luta pelo poder
Combates na Costa do Marfim começaram há quatro meses, logo após a eleição presidencial.
2 de dezembro de 2010 A Comissão Eleitoral declara o oposicionista Alassane Ouattara vencedor das eleições, com 54,1% dos votos contra 45,9% do presidente Laurent Gbagbo.
3 de dezembro A Corte Constitucional do país declara Gbagbo vencedor.
16 de dezembro Defensores de Gbagbo e Ouattara entram em combate pelo poder.
18 de dezembro A ONU rejeita o pleito de Gbagbo pela Presidência e a comunidade internacional reconhece Ouattara como novo presidente.
Fevereiro de 2011 Forças da ONU começam a atuar no país para impedir o massacre de civis.
4 de abril Forças de Ouattara entram em Abidjã, maior cidade do país e considerada reduto de Gbagbo.
11 de abril Com apoio das Nações Unidas e da França, soldados de Ouattara prendem Gbagbo em sua casa.
Com apoio da França, forças leais ao presidente eleito da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, prenderam ontem o rival Laurent Gbagbo, pondo fim a quatro meses de impasse político e 12 dias de conflito direto em Abidjã, maior cidade do país do oeste da África.
A prisão aconteceu horas depois de novo ataque de helicópteros franceses à residência oficial do presidente, onde Gbagbo (pronuncia-se "bagbô) ficou entrincheirado em um bunker durante sete dias.
Após a ação aérea, que ocorreu na madrugada, cerca de 30 blindados franceses cercaram a casa. Segundo um porta-voz de Gbagbo, ele se entregou aos franceses sem oferecer resistência.
O Exército francês, porém, negou ter invadido a residência presidencial e disse que a prisão foi levada a cabo pelas forças de Ouattara (pronuncia-se "uatarrá), com o auxílio da França e da ONU.
Um dos homens de Ouattara disse que havia minas por toda a casa e que as primeiras palavras do ditador ao ser detido foram "não me matem!". A tevê mostrou imagens de Gbagbo já preso, ao lado da sua mulher, Simone, e transferido para o hotel que serviu de base ao rival no conflito.
Mais tarde, tanto o líder derrubado quanto o presidente eleito fariam novas aparições televisivas o primeiro, brevemente, para pedir que o conflito cessasse.
Em discurso, Ouattara prometeu levar Gbagbo à Justiça, disse que instituiria uma comissão para investigar atrocidades contra civis durante o confronto e pediu às milícias que depusessem as armas. "Nosso país acaba de virar uma página dolorosa de sua história, declarou ele.
Mortes no conflito
O impasse na Costa do Marfim começou no final de novembro, quando Gbagbo, no poder desde 2000 cinco anos além do seu mandato, que terminara em 2005 se recusou a entregar seu cargo a Ouattara, cuja vitória eleitoral foi reconhecida pela ONU e pela União Africana.
Uma das razões para Gbagbo se aferrar ao poder, segundo críticos do regime, era a tentativa de evitar um processo no Tribunal Penal Internacional, que julga crimes contra a humanidade.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos estima que, antes dos últimos choques em Abidjã, pelo menos 400 pessoas tenham morrido na capital comercial marfinense como consequência do conflito mas os números finais devem ficar bem acima disso. Cerca de 1 milhão de pessoas tiveram de deixar suas casas.
Para analistas políticos, o primeiro desafio do novo governo agora será unir o país. Eleito em dezembro com 54% dos votos, contra 45% de Gbagbo, Ouattara, ex-economista do Fundo Monetário Internacional (FMI), é tido como um técnico competente, mas sem experiência política.
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