O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, anunciou nesta sexta-feira (15) que assinou o acordo de paz com a Rússia, encerrando as hostilidades em torno da região rebelde da Ossétia do Sul.
A declaração foi feita ao lado da secretária norte-americana de Estado, Condoleezza Rice, que foi ao país negociar o cessar-fogo.
O presidente georgiano culpou o Ocidente por não ter reagido com força suficiente contra os movimentos militares anteriores da Rússia, e por ter falhado em garantir sua entra da na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Ele disse que a Rússia é um "mal" para o mundo e que jamais aceitará a ocupação de partes do território de seu país.
Rice disse que a tarefa mais urgente agora é a retirada das tropas russas da Geórgia. "Todas as tropas russas, e qualquer tropa paramilitar e irregular que tenha entrado com elas, devem partir imediatamente", disse.
A secretária revelou que os EUA querem o envio de observadores internacionais e, eventualmente, de tropas internacionais para garantir a manutenção da paz no país.
O acordo foi assinado pelos georgianos em um dia de intensas trocas de acusações entre Rússia, Estados Unidos e Geórgia em relação à guerra travada em território georgiano desde o último dia 7.
Em meio a relatos de saques cometidos por milícias irregulares, Saakashvili acusou a Rússia de realizar uma "limpeza étnica" contra a população georgiana das repúblicas separatistas da Abkházia e Ossétia do Sul. Chegou a comparar a atual ocupação à humilhação imposta pela Alemanha nazista aos tchecos na década de 1930.
A Rússia diz estar apenas reagindo à "agressão" da Geórgia contra a Ossétia do Sul. Na semana passada, Tbilisi enviou tropas para tentar recuperar o controle dessa região separatista e etnicamente diversa, que desde o começo da década de 1990 goza de autonomia sob proteção de Moscou.
O presidente americano, George W. Bush, acusou hoje a Rússia de "cerco e intimidação" contra a Geórgia, ao afirmar que o povo da ex-república soviética tinha escolhido a liberdade e insistir em que os EUA não o "deixará de lado".
A Geórgia também citou as suspeitas, levantadas por uma ONG norte-americana, de que a Rússia estaria usando bombas de fragmentação contra civis. Moscou nega e diz que são os georgianos que deixaram minas terrestres ao desocupar o território nesta semana.
As forças russas não se limitaram a retomar o controle das regiões separatistas, e na sexta-feira permanecem em território georgiano. É a maior demonstração de força do Kremlin fora das suas fronteiras desde colapso da União Soviética, em 1991.
A cúpula militar disse em Moscou que não houve combates nas últimas 24 horas, mas a ONU se diz preocupada com a insegurança na região. Testemunhas viram milicianos ossetianos atacando aldeias e furtando carros.
Os EUA, aliados da Geórgia, acusam a Rússia de querer "punir a Geórgia por ousar tentar se integrar ao Ocidente". Washington alerta para graves consequências caso a ocupação prossiga.
Escudo
Piorando ainda mais a relação entre EUA e Rússia, a Polônia aceitou formalmente na quinta-feira a instalação de interceptadores norte-americanos de mísseis em seu território, e em contrapartida Washington prometeu reforçar a defesa antiaérea de Varsóvia.
O presidente russo, Dimitri Medvedev, acusou o escudo antimísseis dos Estados Unidos na Europa do Leste de "ter por alvo a Federação Russa".
A respeito do conflito com a Geórgia, enfatizou que a Rússia é a 'avalista' da segurança no Cáucaso e que apoiará a vontade dos povos que vivem nas duas regiões separatistas georgianas. Disse ainda que é improvável que essas regiões, Ossétia do Sul e Abkházia, continuem fazendo parte do Estado georgiano.
"Infelizmente, depois do que aconteceu, é pouco provável que os ossetas do sul e os abkházios possam viver num mesmo Estado com os georgianos".
Disse ainda que a Rússia não deseja uma deterioração das relações com os ocidentais por causa da crise na Geórgia, mas que responderá como fez na Ossétia do Sul se seus cidadãos forem alvo de novos ataques.
Merkel, por sua vez, não evitou criticar o lado russo na crise.
"Considero que a reação da Rússia foi 'desproporcional'", afirmou ao lado de Medvedev, depois de se reunir com ele em Sochi, sul do país.
Segundo ela, o ponto de partida das negociações para solucionar o conflito da Ossétia do Sul e da Abkházia deve ser o respeito à "integridade territorial" da Geórgia.
Tentativa de negociação
As autoridades georgianas tentam negociar nesta sexta-feira (15) com o comando militar russo a entrega da cidade georgiana de Gori, ainda em mãos russas, afirmou à agência France Presse uma fonte do governo da Geórgia.
O porta-voz do ministério do Interior, Shota Utiashvili, explicou que funcionários do governo georgiano chegaram a Gori nesta sexta-feira para discutir com o general russo que comanda as tropas na cidade.
Autoridades georgianas afirmaram na quinta-feira que receberam a informação de que as forças russas iriam embora na sexta-feira, mas algo similar foi divulgado no dia anterior e isto não aconteceu.
A polícia georgiana entrou em Gori na manhã de quinta para retomar o controle da cidade, mas deixou o local rapidamente ao ver os militares russos.
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia