Nesta segunda-feira (23), o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, acusou os adversários pelas mais de 300 mortes nos protestos contra seu governo e disse que não vai renunciar ou antecipar as eleições previstas para 2021.
Em entrevista à rede de TV americana Fox News, o mandatário negou que controle os paramilitares responsáveis pela maioria das mortes e que usam bandeiras de seu partido, a Frente Sandinista de Libertação Nacional.
Por outro lado, acusou seus opositores de liderarem milícias financiadas por traficantes de drogas e agências ligadas aos EUA que, segundo ele, mataram "dezenas de policiais" nos confrontos - ele não deu números exatos.
"Nenhuma das manifestações pacíficas foram atacadas", afirmou o presidente, para quem o país está voltando ao normal, sem citar as ofensivas contra os antigoverno. "Passamos uma semana desde o fim dos confrontos".
Ortega descartou as acusações de que queira formar uma dinastia com sua mulher e vice, Rosario Murillo. "Nunca veio à minha cabeça instaurar uma dinastia. É a primeira vez que minha esposa é vice-presidente".
Também negou que as igrejas tenham sido atacadas por seus partidários, assim como a morte de duas pessoas em uma delas. "Nenhum nicaraguense foi morto em uma igreja. Não perseguimos nenhum sacerdote".
Dias depois de chamar os bispos do país de golpistas e seus adversários políticos de diabólicos, se disse disposto a retomar o diálogo. "Convidamos a Igreja Católica a continuar o diálogo para que ele ocorra de forma aberta".
Eleições antecipadas
A Conferência Episcopal Nicaraguense havia condicionado a volta às negociações ao fim da repressão aos protestos. Tanto os religiosos quanto a oposição mantêm a exigência de antecipar as eleições presidenciais para 2019.
Mas, para Ortega, a exigência está fora de cogitação. "Nosso período eleitoral finaliza com as eleições de 2021, quando teremos nossas próximas eleições. Adiantá-las criaria instabilidade, insegurança e pioraria as coisas".
Questionado por que decidiu falar com a Fox News, emissora conservadora que é apoiada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, depois de recusar entrevistas com outros meios estrangeiros, disse desejar respeito dos americanos.
Segundo ele, há uma campanha de mentiras para prejudicar a imagem da Nicarágua e de seu governo. "A história de nossas relações com os Estados Unidos foi dolorosa. Não quero repeti-la".
A entrevista foi exibida horas depois de novos protestos na capital, Manágua, para celebrar o Dia do Estudante. No protesto, pacífico e sem repressão, os manifestantes disseram que pretendem continuar nas ruas contra Ortega.