Um dia após o acordo político que pretendia solucionar a crise na Ucrânia, o presidente Viktor Yanukovich foi deposto ontem pelo Parlamento do país. Eleições antecipadas foram convocadas para o dia 25 de maio. O impeachment foi aprovado horas depois de o presidente ter deixado a capital e de manifestantes terem ocupado o palácio presidencial.
Em entrevista a uma emissora de tevê, concedida pouco antes da decisão do Parlamento, Yanukovich negou que tivesse deixado o cargo e classificou a situação em curso como um golpe de Estado. Ele disse ainda que seu carro foi alvo de disparos, mas não deu detalhes de onde o ataque teria ocorrido. Ele não aparentava sinais de ter sido ferido. "Não estou com medo. Sinto pena pelo meu país", afirmou.
Acredita-se que a entrevista tenha sido concedida na cidade de Kharkiv, no nordeste do país, onde o apoio a Yanukovich é maior.
Além do escritório presidencial, ativistas declararam ter ocupado todos os edifícios da administração oficial. Enquanto o Parlamento votava a queda do presidente, manifestantes com capacetes e escudos cercavam o prédio.
O policiamento ostensivo também deixou as ruas de Kiev. Ao menos um parlamentar do partido do presidente foi agredido ao chegar ao local. Também foi noticiado que opositores exigiram dos controladores aéreos ucranianos informações a respeito da localização do presidente.
Os eventos da manhã de ontem davam conta da rápida erosão do poder na Ucrânia, após uma semana violenta com ao menos 77 mortos. Ontem, as ruas em que franco-atiradores derrubaram manifestantes estavam tomadas por pessoas com bandeiras nacionais. Missas e funerais ocorriam em diversos pontos do centro.
A residência do presidente foi abandonada, e manifestantes se organizavam ao redor da construção. Segundo rumores, homens mascarados foram impedidos de entrar para evitar saques. Documentos foram encontrados em um local próximo. A oposição diz que o governo tentava destruir esses papéis.
Entraves ameaçam efetividade de acordo
Agência Estado
O presidente deposto da Ucrânia, Viktor Yanukovich, e líderes da oposição haviam chegado na sexta-feira a um amplo acordo com o objetivo de encerrar uma crise política iniciada há três meses e que no decorrer da última semana desatou uma onda de violência na qual mais de 70 pessoas morreram.
Obtido a partir de negociações que avançaram pela madrugada de quinta para sexta-feira, o acordo aborda uma série de questões centrais à queda de braço entre governo e oposição. Ao mesmo tempo, o fato de o acordo ter sido negociado com a participação direta de enviados da União Europeia (UE) e da Rússia levanta dúvidas sobre se o pacto resistirá ao teste do tempo.
Os pontos centrais do acordo são a antecipação das eleição presidencial, já definida ontem, uma reforma da Constituição, o fim do acampamento de protesto no centro de Kiev e a investigação dos abusos e das mortes.
O pacto deixa de lado, no entanto, um aspecto fundamental das divergências que se acirraram nos últimos meses: a opção de Yanukovich por um pacote de resgate financeiro oferecido pela Rússia em detrimento de uma aproximação maior com a UE.
Em novembro do ano passado, Yanukovich desistiu de um acordo de aproximação com a União Europeia e optou pela ajuda financeira oferecida pela Rússia. A decisão causou descontentamento entre os ucranianos que preferem uma integração maior com os países da Europa Ocidental. O acordo fechado na sexta-feira não contém nenhuma mudança em relação a isso, o que alimenta temores em relação à sustentação do pacto.