Segurança
Milícias assumem o controle dos prédios do governo em Kiev
A reportagem da Folhapress foi autorizada a cruzar os portões do escritório do presidente Viktor Yanukovich, em Kiev. Ali, Ostap Kryvdyk, diretor de uma milícia chamada Forças de Auto-Defesa, falava a um pequeno grupo de jornalistas internacionais. "O presidente Yanukovich deixou Kiev para sempre. Ele matou muitas pessoas aqui. Grande parte da Ucrânia está governada pelo povo por meio de conselhos locais", disse.
Segundo Kryvdyk, a polícia estava "mudando de lado". O Ministério do Interior divulgou, mais cedo, uma nota em honra aos mortos da última semana. O ministro fora deposto por voto do Parlamento, na sexta-feira, substituído então por Arsen Avakov.
As Forças de Auto-Defesa são constituídas, segundo o diretor, "por pessoas que vieram voluntariamente para proteger o país". Milícias como essa tomaram o controle de diversos edifícios públicos. No palácio, diziam trabalhar em cooperação com as forças de segurança.
À reportagem, um homem que se identificou como coronel Nicolai Koloyavsny, representante da segurança do Estado, confirmou que a administração do governo está protegida pelo "serviço especial". As manifestações na Ucrânia foram iniciadas em novembro, quando o presidente reverteu a decisão de aproximar-se da União Europeia, preferindo sua aliada Rússia.
A repressão do governo, considerada excessiva, intensificou os protestos, que passaram a exigir sua renúncia. Com votos seguidos no Parlamento, onde legisladores pró-governo têm renunciado aos cargos, a estrutura do poder na Ucrânia está se reconfigurando dia após dia.
Apoio
Alemanha e Grã-Bretanha concordaram em apoiar o novo governo da Ucrânia, informou ontem o ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, após discutir a situação com o seu homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier. Os ministros também concordaram em pressionar por um pacote de ajuda financeira do Fundo Monetário Internacional. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, informou que a União Europeia está preparada para oferecer apoio financeiro.
25 de maio é a data escolhida para a nova eleição presidencial, que originalmente aconteceria somente em março de 2015.
Um dia após o acordo político que pretendia solucionar a crise na Ucrânia, o presidente Viktor Yanukovich foi deposto ontem pelo Parlamento do país. Eleições antecipadas foram convocadas para o dia 25 de maio. O impeachment foi aprovado horas depois de o presidente ter deixado a capital e de manifestantes terem ocupado o palácio presidencial.
Em entrevista a uma emissora de tevê, concedida pouco antes da decisão do Parlamento, Yanukovich negou que tivesse deixado o cargo e classificou a situação em curso como um golpe de Estado. Ele disse ainda que seu carro foi alvo de disparos, mas não deu detalhes de onde o ataque teria ocorrido. Ele não aparentava sinais de ter sido ferido. "Não estou com medo. Sinto pena pelo meu país", afirmou.
Acredita-se que a entrevista tenha sido concedida na cidade de Kharkiv, no nordeste do país, onde o apoio a Yanukovich é maior.
Além do escritório presidencial, ativistas declararam ter ocupado todos os edifícios da administração oficial. Enquanto o Parlamento votava a queda do presidente, manifestantes com capacetes e escudos cercavam o prédio.
O policiamento ostensivo também deixou as ruas de Kiev. Ao menos um parlamentar do partido do presidente foi agredido ao chegar ao local. Também foi noticiado que opositores exigiram dos controladores aéreos ucranianos informações a respeito da localização do presidente.
Os eventos da manhã de ontem davam conta da rápida erosão do poder na Ucrânia, após uma semana violenta com ao menos 77 mortos. Ontem, as ruas em que franco-atiradores derrubaram manifestantes estavam tomadas por pessoas com bandeiras nacionais. Missas e funerais ocorriam em diversos pontos do centro.
A residência do presidente foi abandonada, e manifestantes se organizavam ao redor da construção. Segundo rumores, homens mascarados foram impedidos de entrar para evitar saques. Documentos foram encontrados em um local próximo. A oposição diz que o governo tentava destruir esses papéis.
Entraves ameaçam efetividade de acordo
Agência Estado
O presidente deposto da Ucrânia, Viktor Yanukovich, e líderes da oposição haviam chegado na sexta-feira a um amplo acordo com o objetivo de encerrar uma crise política iniciada há três meses e que no decorrer da última semana desatou uma onda de violência na qual mais de 70 pessoas morreram.
Obtido a partir de negociações que avançaram pela madrugada de quinta para sexta-feira, o acordo aborda uma série de questões centrais à queda de braço entre governo e oposição. Ao mesmo tempo, o fato de o acordo ter sido negociado com a participação direta de enviados da União Europeia (UE) e da Rússia levanta dúvidas sobre se o pacto resistirá ao teste do tempo.
Os pontos centrais do acordo são a antecipação das eleição presidencial, já definida ontem, uma reforma da Constituição, o fim do acampamento de protesto no centro de Kiev e a investigação dos abusos e das mortes.
O pacto deixa de lado, no entanto, um aspecto fundamental das divergências que se acirraram nos últimos meses: a opção de Yanukovich por um pacote de resgate financeiro oferecido pela Rússia em detrimento de uma aproximação maior com a UE.
Em novembro do ano passado, Yanukovich desistiu de um acordo de aproximação com a União Europeia e optou pela ajuda financeira oferecida pela Rússia. A decisão causou descontentamento entre os ucranianos que preferem uma integração maior com os países da Europa Ocidental. O acordo fechado na sexta-feira não contém nenhuma mudança em relação a isso, o que alimenta temores em relação à sustentação do pacto.
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