O presidente Mexicano Felipe Caldéron, 44, fala sobre a construção de uma barreira ente seu país e os EUA 17 anos após a queda do Muro de Berlim, a luta do México contra corrupção e cartéis de drogas que se infiltraram nas instituições e o papel do presidente populista da Venezuela, Hugo Chavéz.
Pergunta - Quando o senhor visitou a Nicarágua na posse de Daniel Ortega, o senhor declarou: "O coração do México bate dentro da América Latina". Isso significa que Washington não tem mais a prioridade?Felipe Caldéron - Sim, queremos reorientar nossa política externa. Ao mesmo tempo, nós somos o único país da América Latina que é geograficamente parte da América do Norte. Nós aproveitaríamos a vantagem dessa localização e da interface entre América do Sul e do Norte, Pacífico e Atlântico. É a melhor maneira de reduzir a dependência em relação aos Estados Unidos.
Pergunta - Cerca de meio bilhão de mexicanos imigram para os Estados Unidos todos os anos para tentar a sorte. Agora, a administração Bush quer construir uma barreira de 1.100 km na fronteira.Caldéron - É difícil acreditar que há um muro sendo construído no Arizona e no Texas apenas 17 anos depois que o mundo celebrou a queda do muro e Berlim. Há razões sociais ou econômicas que explicam a imigração para os EUA. É uma conseqüência natural da globalização. E mais: as economias dos EUA e do México complementam uma à outra de maneira ideal. Os Estados Unidos têm o capital e nós, a força de trabalho.
Pergunta - Atualmente, os imigrantes transferem US$ 24 bilhões por ano dos Estados Unidos para o México. Esta é a segunda maior fonte de renda do México depois do petróleo. Será que esse êxodo pode ser detido?Caldéron - Se os americanos investissem mais, os trabalhadores mexicanos ficariam em seu país. Eu disse ao presidente dos Estados Unidos que faz mais sentido contruir um só quilômetro de estrada num Estado mexicano subdesenvolvido do que fazer 10 km de muro.
Pergunta - Em algumas partes do México, especialmente nas que ficam mais perto da fronteira com os Estados Unidos, os cartéis de drogas se infiltraram em instituições como a polícia e o judiciário. Nove mil pessoas morreram como resultado das guerras entre gangues durante os seis anos do mandato de seu predecessor, Vicente Fox. A violência continua: a situação é comprável à da Colômbia.Caldéron - Às vezes, as coisas aqui estão piores do que na Colômbia. Mas enquanto a demanda por drogas continua enorme nos Estados Unidos, nós não poderemos controlar o tráfico de drogas.
Pergunta - O senhor assumiu há sete semanas durante um período de tumulto, protegido por seus guarda-costas e dentro de um parlamento com barricadas. Seu rival, Andrés Manuel Lopéz Obrador já se auto-proclamou como o presidente alternativo do país. Isso significa que agora o México tem dois líderes de estado?Caldéron - Não. Numa eleição democrática, só pode haver um vencedor. Eu sou o presidente.
