O presidente do Egito, Hosni Mubarak, anunciou na noite desta terça-feira (1º) em discurso pela TV estatal do país que não vai concorrer à reeleição em setembro. Ele disse ainda que "morrerá no Egito", contrariando expectativas de que ele deixaria o país, e buscará mudanças na Constituição. "Este é meu país, é aqui onde eu moro. Eu lutei e defendi esta terra, sua soberania e seus interesses. Eu vou morrer nesta terra", discursou.
Uma multidão, ainda reunida durante protestos nas ruas do Cairo, reagiu com festa ao seu anúncio. Os manifestantes acompanharam o discurso por um imenso telão instalado na praça Tahrir, no Cairo - local que concentra os protestos contra o regime. Muitos exibiram os sapatos nas mãos, como sinal de protesto, e reagiram com vaias.
Apesar do anúncio em rede nacional, ainda não se sabe como os manifestantes vão reagir. Um funcionário americano contatado pela France Presse disse que o anúncio do presidente é "significativo", porém ele pode ser insuficiente para os manifestantes, que prometeram encerrar os protestos quando Mubarak sair da Presidência.
A organização de oposição Irmandade Muçulmana reagiu ao discurso dizendo que a oferta do presidente não é suficiente e que os protestos vão continuar até sua renúncia. "Ninguém está satisfeito. Ele e seu sistema fracassaram e o povo não quer que ele e seus colegas continuem. Ele tem de sair", disse Mohammed Morsey, um porta-voz da Irmandade Muçulmana à Agência Dow Jones.
A decisão, que colocará fim a 30 anos de governo, atenderia a um pedido do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que enviou um representante ao Cairo para negociar com o ditador, segundo o jornal "New York Times".
Mubarak ressaltou que a prioridade é a "estabilidade da nação", prometeu dialogar com todas as forças da oposição que o desafiam e cumprir as exigências na busca de uma transição pacífica. "O Hosni Mubarak que fala a vocês hoje (terça-feira) está orgulhoso de suas conquistas durante todos esses anos servindo o Egito e seu povo", disse.
Ele promete implementar uma série de reformas, incluíndo um pedido que será feito ao Judiciário para o combate à corrupção. Esse que é uma das principais reclamações dos manifestantes contra o seu governo.
Os protestos contra o governo de Mubarak começaram na terça-feira passada e deixaram ao menos 140 pessoas. A maior parte em confrontos com a polícia. As estimativas da agência de notícias Reuters são de que um milhão de pessoas tenham ido às ruas no Cairo, em Suez (leste), Alexandria (litoral norte), Ismailia e em cidades do delta do Nilo, como Tanta, Mansoura e Mahalla el-Kubra. O Exército disse na segunda que não usará a força contra os manifestantes.
O presidente não se manifestava desde sexta-feira, quando demitiu seu gabinete. Na segunda-feira, o recém-nomeado vice-presidente Omar Suleiman anunciou uma proposta de diálogo com todas as forças políticas.