O presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, assinou nesta quarta-feira na Arábia Saudita um acordo para transferir o poder após 33 anos no cargo. O rei da Arábia, Abdullah, comemorou o acordo como um marco que virou uma "nova página" na história do empobrecido país no sul da Península Arábica. "Esperamos que a transferência de poder ocorra democraticamente. Lamentamos o que aconteceu no Iêmen", disse Saleh.
O acordo, que oferece imunidade a Saleh e à família do mandatário, foi rechaçado por vários iemenitas nesta quarta-feira. Muitos jovens foram acampar em uma praça central na capital Sanaa. Eles afirmaram que o acordo é inviável porque Saleh ordenou às tropas que atirassem contra os manifestantes, matando mais de mil pessoas desde janeiro. Eles querem que Saleh seja levado a julgamento.
O governo dos Estados Unidos elogiou o acordo. "Os EUA aplaudem o governo e a oposição do Iêmen por concordarem com uma transição de poder pacífica e ordeira", disse em Washington o porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner.
Saleh é o quarto governante árabe derrubado por revoltas populares neste ano. Em janeiro, caiu o governante da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, enquanto em fevereiro os egípcios derrubaram Hosni Mubarak. Em agosto, Muamar Kadafi foi defenestrado pelos insurgentes líbios.
A cerimônia de assinatura, transmitida ao vivo pela televisão estatal saudita, mostrou Saleh assinando o acordo patrocinado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelos países do Golfo Pérsico, no palácio real de Al-Yamana. Saleh assinou o documento observado pelo rei da Arábia e por vários políticos da oposição iemenita, bem como ministros dos países árabes do Golfo Pérsico.
Representantes do partido governista do Iêmen e da oposição também assinaram o documento, que deverá acabar com 10 meses de violência política no Iêmen. Mais de mil manifestantes foram mortos pelo governo e também em sangrentas lutas tribais. Saleh se aferrou ao poder e nem um atentado a bomba em junho, que o deixou ferido, levou à renúncia. Ele voltou ao Iêmen no mês passado após receber tratamento médico na Arábia.
Sob o acordo, o qual Saleh se recusou a assinar durante meses em desafio a pressões internas e internacionais, o mandatário passa os poderes ao vice-presidente Abdrabuh Mansur Hadi, em troca da imunidade para si próprio e sua família. Saleh ainda permanecerá como "presidente honorário" por 90 dias, ao fim das quais a transferência de poderes estará completa. Mas ele passará o poder para o vice em 30 dias. Após isso, ocorrerão eleições presidenciais em 90 dias.
Mesmo antes das revoltas árabes começarem, o Iêmen já era um dos países árabes mais pobres, com renda per capita inferior a US$ 2.500, segundo o Banco Mundial. A importância do país no mundo árabe é estratégica, já que ele fica no sul da Península Arábica controlando as rotas do Mar Vermelho e o acesso ao sul, pelo estreito de Bab El-Mandeb, ao porto saudita de Jeddah e ao Canal de Suez ao norte.
"Hoje uma nova página na história de vocês teve início" disse o monarca da Arábia à delegação dos iemenitas que assinaram o acordo.
As informações são da Associated Press e da Dow Jones.
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