Aliada
Rússia se opõe a novas sanções
A Rússia anunciou ontem que não apoiará a adoção de novas sanções contra o Irã após a publicação de um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre o programa nuclear iraniano. Por causa do relatório, a França anunciou que convocará o Conselho de Segurança, enquanto o Reino Unido disse que o impasse entra agora em uma fase mais perigosa e o risco de conflito aumentará se o Irã não negociar.
"Foi solicitada uma reunião do Conselho de Segurança da ONU", disse o ministro das Relações Exteriores francês, Alain Juppé, à rádio RFI. A pressão precisa ser intensificada, afirmou, após anos de desafios do Irã às resoluções da ONU exigindo que o país interrompa as atividades de enriquecimento de urânio.
O Conselho de Segurança já impôs quatro rodadas de sanções a Teerã desde 2006 por causa do programa nuclear do país. A Rússia, entretanto, deixou clara sua oposição a novas sanções.
"Qualquer sanção adicional contra o Irã será interpretada na comunidade internacional como um instrumento para mudar o regime em Teerã. Essa postura é inaceitável, e a Rússia não tem intenção de estudar essa proposta", afirmou Gennady Gatilov, vice-ministro das Relações Exteriores, ao ser consultado pelas agências do país.
Pró e contra
Países se dividem sobre a aplicação de novas sanções ao Irã.
A favor
- França *
- Reino Unido *
- Israel
Contra
- Rússia *
Não se manifestaram
- Estados Unidos *
- China *
- Brasil
* Membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, com poder de veto.
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou ontem que o programa nuclear do país não recuará e acusou a agência nuclear ligada à ONU de estar a serviço de interesses americanos.
Foi a primeira resposta de Ahmadinejad ao relatório divulgado na véspera pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que apresentou sinais claros dos esforços iranianos em produzir armas atômicas.
O dossiê reforçou a previsível campanha por novas e mais duras sanções contra o Irã. A França pediu uma sessão especial do Conselho de Segurança, mas a China e a Rússia já haviam anunciado que vetariam novas sanções.
Além disso, há ainda as limitações impostas pela crise econômica. Sanções que poderiam ser efetivas, como ao setor petrolífero do Irã ou contra seu Banco Central, são descartadas diante do risco de uma indesejável disparada nos preços do petróleo.
Ahmadinejad, envolvido há meses em uma disputa com o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, usou o relatório da AIEA para fortalecer sua popularidade.
"Esta nação não recuará nem um pouco de seu caminho", disse Ahmadinejad, em um discurso transmitido ao vivo pela tevê, diante de milhares de pessoas na cidade de Shahrekord (centro).
"Prova"
Israel considerou o relatório como a prova definitiva de que o Irã trabalha em busca da bomba atômica.
"O relatório da AIEA confirma a posição da comunidade internacional e de Israel de que o Irã está desenvolvendo armas nucleares", disse o governo, em comunicado. "A comunidade internacional deve cessar a aquisição de armas nucleares pelo Irã", afirma o documento.
As novas evidências da AIEA vêm a público ainda no rastro de uma onda recente de rumores sobre um ataque iminente de Israel às instalações nucleares do Irã.
Mas quem esperava uma reação beligerante dos EUA, principal aliado de Israel na campanha contra o Irã, surpreendeu-se com o tom quase professoral das críticas. "São acusações muito sérias, e cabe ao Irã colaborar finalmente com a AIEA numa maneira transparente e crível para lidar com essas preocupações", disse Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado.
O parlamentar conservador iraniano Mahmoud Ahmadi Bighash ameaçou retirar o país do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).
"Em uma primeira fase, nós vamos sair do TNP se Amano continuar a se mostrar incompetente e pedir permissão a Obama para cada relatório", disse Bighash à televisão estatal iraniana.
Especialistas divergem sobre reações a Teerã
Analistas de política e segurança norte-americanos afirmam que o novo relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre o Irã deixa poucas opções para a comunidade internacional.
Mas eles mesmos parecem sem resposta sobre qual rumo tomar quando a intenção bélica de Teerã tornou-se evidente. O governo iraniano não coopera com os inspetores internacionais apesar das sanções em vigor e o tempo disponível é uma incógnita.
"Como fazer o Irã obedecer à lei internacional sem uma ação militar?", questionou Ray Takeyh, do Council on Foreign Affairs, em teleconferência com jornalistas.
"Acho que há pontos de pressão, o Irã tem outras vulnerabilidades além da economia, e ainda é possível alguma combinação de sanções e outras ações. Mas precisamos de novas ideias, pois o tempo está no fim."
Afora a opção militar, Takeyh defende trabalhar com a oposição iraniana para mudar o regime algo de que outros analistas discordam, uma vez que os líderes do Movimento Verde já declararam que o país tem direito a ter seu programa nuclear.
A maior dificuldade dos estrategistas é a incerteza sobre em quanto tempo a bomba poderia ser obtida, algo que o relatório não esclarece. "O documento não diz que o Irã tem uma bomba", afirma Matthew Kroenig, especialista em segurança no mesmo centro de estudos.
"Mas ele é importante, porque o Irã tem dito que quer ter energia nuclear para propósitos civis e, como há muito se suspeitava, eles querem ao menos a opção de poder construir uma arma. Vai ser difícil manter essa fachada."
Elliot Abrams, também do Council, defende a ação militar. "A questão não é mais se o Irã busca uma arma, é o que fazer a respeito."
O governo americano evitou falar em reação, afirmando que examinará o relatório e aguardará até que ele seja oficialmente apresentado, o que deve ocorrer na semana que vem, para se pronunciar, mas os Estados Unidos lideram as pressões internacionais contra Teerã.
Impasse sobre apoio a Lula provoca racha na bancada evangélica
Símbolo da autonomia do BC, Campos Neto se despede com expectativa de aceleração nos juros
Copom aumenta taxa de juros para 12,25% ao ano e prevê mais duas altas no próximo ano
Eleição de novo líder divide a bancada evangélica; ouça o podcast