O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, sabia do acordo de contratação de energia da usina binacional de Itaipu e, inclusive, pediu que ele fosse mantido em segredo, segundo revelou o jornal ABC Color nesta terça-feira (6), com base em conversas privadas de Marito, como é conhecido o presidente, e Pedro Ferreira, então presidente da Ande, estatal de energia elétrica do Paraguai, em um aplicativo de mensagens. Na semana passada, quando foram revelados os termos do acordo, Marito esteve prestes a responder a um processo de impeachment, que perdeu força depois que Brasil e Paraguai anularam o documento.
Segundo estas conversas, que ocorreram de março a junho, Marito estava pressionando Ferreira a encontrar uma solução que colocasse fim ao impasse com o Brasil quanto ao acordo de Itaipu.
"PEDRO, apresse a solução da ANDE (e da) Electrobras. Está tudo parado. Temos que movimentar a economia, a Itaipu é uma ferramenta. Você não pode ganhar tudo em uma negociação”, diz uma das mensagens atribuídas a Marito, datada de 14 de fevereiro.
Ferreira alegava que estava fazendo todo o possível, já que todas as propostas apresentadas pelo lado brasileiro implicavam um gasto de US$ 400 milhões a mais em contratação de energia elétrica. Os relatos ainda apontam para uma pressão por parte dos diplomatas brasileiros para que o Paraguai aceitasse os termos do acordo.
Em abril, depois de o ABC Color publicar reportagem dizendo que o Brasil queria diminuir os benefícios que Assunção mantinha de negociações anteriores, Marito enviou duras mensagens para o então diretor da Ande. "(A reportagem) me preocupa. Isso afeta nosso governo. E muito. Aqui, ninguém vai ganhar se o governo for debilitado (...) e se chegarmos a um ponto em que a negociação seja sob pressão. É preciso resolver o quanto antes", escreveu.
Ferreira diz que colocará "todo o empenho" nas tratativas entre Ande e Eletrobras. Marito agradece. "Aqui temos que negociar. E, ao negociar, sacrificam-se posições e, algumas vezes, princípio. Mas essa é a responsabilidade que temos hoje", escreveu o presidente. "Não acredite que eu faço tudo que quero. Todos os dias tenho que engolir bebidas amargas, mas hoje o país está em nossas mãos e acredito que está nas melhores mãos. Força!".
Resposta do presidente
Em entrevista à rádio Monumental após a publicação das mensagens vazadas, Abdo manteve sua versão de que não conhecia o conteúdo do acordo e que confiou nas pessoas de seu governo que estavam à frente das negociações. "Confiei nas pessoas que lideravam a negociação, que na época era Luis Castiglioni. Do Ministério das Relações Exteriores, eles me disseram que o documento estava bom e sugeriram que eu assinasse", disse o presidente.
A oposição paraguaia promete apresentar um pedido de impeachment contra Abdo e seu vice, Hugo Velázquez, ainda nesta terça-feira. Na semana passada, o presidente evitou um "julgamento político" depois que os dissidentes da bancada colorada retiraram o apoio ao processo de impeachment.