O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, renunciou, segundo noticiou a imprensa peruana. A decisão veio depois que a crise do governo se agravou com a divulgação de vídeos de uma suposta negociação de compra de votos em favor de Kuczynski durante o processo de impeachment no ano passado, no qual o Congresso decidiu por mantê-lo no cargo. O jornal La Republica informou que a decisão foi tomada em uma reunião do Conselho de Ministros realizada nesta quarta-feira (21).
Um pronunciamento oficial está sendo esperado para as próximas horas.
Os vídeos foram divulgados pelo partido de oposição, liderado por Keiko Fujimori, e mostram Kenji Fujimori (irmão de Keiko) poucos dias antes da votação do impeachment negociando o seu voto e de seus aliados em troca do indulto do ex-presidente Alberto Fujimori, condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade.
No dia 15 o Congresso do Peru havia aceitado um novo pedido de impeachment contra Kuczynski. Foram 87 votos a favor, 15 contra e 15 abstenções. Até últimos dias, ele tinha dito que não renunciaria. "Minha consciência está limpa, não fiz nada de mal". O placar da votação, até então, dava uma vantagem apertada, de apenas dois votos, em favor de que Kuczynski permanecesse no cargo, ainda que com mais de 30 votos em aberto (entre indecisos e abstenções).
Mas o cenário mudou depois da divulgação dos vídeos. As imagens de Kenji negociando dinheiro público em troca de apoio ao mandatário fizeram com que vários congressistas e líderes políticos mudassem de postura. Pela manhã, já se falava em 100 parlamentares aderindo à moção.
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"Ou ele renuncia hoje [nesta quarta-feira], ou votaremos sua vacância amanhã", disse o ex-presidente Alan García, líder do Apra (Aliança Popular Revolucionária Americana).
Três dos 18 parlamentares do partido de Kuczynski (Peruanos por el Kambio) também defenderam a renúncia, por meio de um comunicado. "Diante dos graves fatos recém-conhecidos [a divulgação dos vídeos], nos vemos na obrigação de mudar nossa posição institucionalista. O presidente deve renunciar e dar espaço para a sucessão constitucional", diz o texto.
Kuczynski num primeiro momento se defendeu, tentando descolar sua imagem das ações de Kenji Fujimori, que anseia ser candidato a presidente, caso sejam convocadas eleições. A primeira-ministra Mercedes Araóz declarou que "o governo não compra congressistas. Não há nenhum alto funcionário que possa fazer esse tipo de ofertas".
Os processo de impeachment
A sessão marcada para quinta-feira (22) seria a segunda em três meses em que Kuczynski teria de entregar seu destino às mãos do Congresso. Em dezembro, por meio de uma barganha com Kenji, que incluía um indulto a seu pai, o ex-presidente Alberto Fujimori, então preso, Kuczynski conseguiu os votos de que precisava para seguir no cargo.
A ação, porém, causou repúdio entre os partidos de centro-esquerda e de esquerda, que tiveram a iniciativa de reabrir, também por conta do que consideraram ser uma "traição política", o processo de moção de vacância por "incapacidade moral permanente", iniciado após as acusações sobre supostos privilégios e propinas relacionados ao escândalo de corrupção da Odebrecht, ocorridos na época em que Kuczynski era ministro da gestão de Alejandro Toledo (2001-2006).
"A corrupção ficou para um segundo plano. Não é tirando um homem que o país deixará de ser corrupto. Mas Kuczynski mentiu para nós. Votamos nele porque afirmou que nunca liberaria Fujimori. Ele não tem mais nenhuma moral para governar", diz Enrique Armero, 48, que, no início da tarde de quarta-feira (21), protestava na praça diante do Palácio de Governo.
Também ali havia agrupações anti e pró-Kuczynski. "Nós viemos de Arequipa para apoiar o presidente. Não queremos esse ataque às instituições do Peru, que custaram tanto para ser reerguidas após o fujimorismo", disse o estudante Héctor Araóz, 21.
Por conta da aglomeração, que ia crescendo desde o fim da manhã, a polícia reforçou a segurança, cercando a praça e mantendo os manifestantes longe do Palácio de Governo e do Congresso.
Quem assume?
Caso a renúncia se confirme, o primeiro na linha de sucessão é o vice-presidente Martín Vizcarra. Também embaixador no Canadá, Vizcarra vinha se mantendo longe dos holofotes e não deu declarações nos últimos dias. Porém, teria tomado um avião na última madrugada para chegar nas próximas horas ao Peru.
Depois dele, a sucessora constitucional seria Araóz, que é também a segunda vice-presidente. Se nenhum dos dois aceitar assumir, o cargo ficaria com Luis Galarreta, que é o atual líder do Congresso e pertence ao Força Popular.
Desde que iniciou o seu mandato, há um ano e sete meses, o governo de Kuczynski foi marcado por denúncias de corrupção, que envolveram, por exemplo, a construtora brasileira Odebrecht. Em dezembro, documentos mostraram pagamentos de US$ 782 mil da Odebrecht à Westfield Capital, consultoria privada de Kuczynski há mais de uma década, por assessorias financeiras.
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