Ouça este conteúdo
O presidente interino do Peru, Francisco Sagasti, classificou nesta sexta-feira (18) como "inaceitável" a carta de um grupo de oficiais militares aposentados que pediu ao alto comando das Forças Armadas para não reconhecer e eventual proclamação de Pedro Castillo como presidente eleito, sugerindo um golpe de Estado.
Em uma mensagem exibida em cadeia nacional de televisão junto com a primeira-ministra, Violeta Bermúdez, e a ministra da Defesa, Nuria Esparch, Sagasti anunciou que a carta, que foi divulgada na noite desta quinta-feira, foi enviada à Procuradoria Geral da República para que eles possam prosseguir com as investigações que considerarem apropriadas.
"É inaceitável que um grupo de membros aposentados das Forças Armadas tente incitar oficiais superiores a violar o Estado de Direito. Rejeito esse tipo de comunicações que não só são contrárias aos valores e à institucionalidade democrática, mas também são atos contra a Constituição e as leis", bradou Sagasti.
Com 100% das urnas apuradas, Castillo venceu, com 50,125% dos votos, a direitista Keiko Fujimori, que obteve 49,875%. Contudo, o representante do partido Peru Livre ainda não foi proclamado presidente eleito devido a uma série de recursos interpostos pela concorrente.
"Em uma democracia, as Forças Armadas não são deliberativas, são absolutamente neutras e escrupulosamente respeitosas da Constituição. Custou-nos muito tempo e esforço para construir nossa institucionalidade democrática ao longo de nossos turbulentos 200 anos de vida republicana. Não vamos colocá-lo em risco", frisou o presidente interino.
"Como chefe supremo das Forças Armadas e da Polícia Nacional, garanto neutralidade e exijo que ela seja respeitada. Convoco os cidadãos a permanecerem calmos e serenos nestes tempos difíceis que estamos vivendo alguns dias antes do bicentenário de nossa independência", finalizou.
Longa lista e pedido ilegal de novas eleições
A carta dos soldados aposentados foi endereçada ao chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas e aos generais de comando do Exército, da Marinha e da Força Aérea.
Segundo Sagasti, o documento tinha apenas uma assinatura, seguida por uma lista de nomes supostamente apoiando a comunicação, embora vários deles fossem ex-militares mortos, de acordo com a imprensa local.
A carta convoca a hierarquia militar a não reconhecer a vitória eleitoral de Pedro Castillo devido às acusações de fraude sistemática feitas por Keiko e sua equipe, embora prova alguma tenha sido apresentada.
"Teríamos um presidente ilegal e ilegitimamente proclamado", diz a carta, que também aconselha que o Congresso deveria ser chamado "a fornecer uma solução democrática".
A mesma tese é mantida pelo congressista eleito Jorge Montoya, do partido ultraconservador Renovação Popular. Ele é um almirante aposentado da Marinha, que sugeriu esta semana que o novo Congresso, que toma posse em 28 de julho, deveria convocar novas eleições se um novo presidente não tiver sido proclamado até aquela data. A sugestão é ilegal e não é apoiada por lei alguma.
Se isso acontecesse, esse oficial militar aposentado assumiria pelo menos temporariamente o papel de presidente interino, já que foi o parlamentar mais votado.