La Paz (das agências) – O socialista Juan Evo Morales Aima, de 46 anos, tomou posse ontem como o 65.º presidente da Bolívia durante uma cerimônia realizada no Congresso da Nação, em La Paz. Sob os gritos de "Evo, Evo, Evo", o primeiro presidente indígena da história da Bolívia recebeu, com o punho erguido e a mão direita no coração, os símbolos pátrios, a faixa e medalhas presidenciais, antes de o hino da Bolívia soar no Palácio Legislativo. Depois, Morales tomou a palavra e pediu um minuto de silêncio em memória aos diferentes líderes que tombaram ao longo da história. Ele citou Manco Inca, Tupac Katari, Ernesto Che Guevara e "muitos outros".

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Visivelmente emocionado, o novo governante também incluiu na homenagem "os milhares de cocaleiros mortos da região central de Chapare, os cidadãos da cidade de El Alto, os mineradores e os milhões de seres humanos mortos em toda a América".

O vice-presidente García Linera tomou posse pouco antes. Ele também o fez com a mão no coração e não da forma tradicional, que consiste em fazer um sinal da cruz com os dedos da mão direita. Os parlamentares aplaudiram muito e, mais tarde, pôde-se ouvir música do barroco colonial, acompanhada por cantos em língua quíchua.

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Presença

Dez presidentes sul-americanos estiveram na posse de Evo Morales, o que demonstra o apoio que o novo presidente boliviano tem na região, onde vários de seus aliados já se comprometeram com ofertas de ajuda dos mais variados tipos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saudou a evolução da democracia na América Latina, destacou a origem indígena de Morales, eleito num país de maioria indígena, e reafirmou a parceria entre os dois países. Mesmo disposto a "nacionalizar" os recursos naturais do País, incluindo gás e petróleo, Morales sugeriu que as empresas estrangeiras – como a Petrobras, que é o maior investidor do setor na Bolívia – poderiam manter parcerias com o Estado boliviano.

Além de Lula, Morales também tem fortes laços ideológicos com os presidentes da Argentina, Néstor Kirchner; da Venezuela, Hugo Chávez, e do Uruguai, Tabaré Vázquez, que não esteve presente à cerimônia de posse. Outros presidentes, distantes ideologicamente de Morales, como o peruano Alejandro Toledo, e o paraguaio Nicanor Duarte, também anunciaram sua decisão de cooperar com o novo governo.

O maior dos apoios foi, no entanto, oferecido pelo presidente Chávez, que prometeu cooperação gasífera, petroleira, tecnológica e agrícola. "Estamos começando uma nova era na América Latina", declarou Chávez, acrescentando que o grande Gasoduto do Sul, um projeto promovido com a Argentina e o Brasil, "não pode deixar a Bolívia de lado". Chávez e os presidentes da Argentina e do Brasil acertaram, na quinta-feira, em Brasília, a construção de um Gasoduto do Sul que visa unir a Venezuela com a Argentina, passando pelo Brasil e pelo Uruguai, para interconectar estes países.

O presidente venezuelano definiu o gasoduto como um projeto "de vital importância" para o futuro dos povos e a união sul-americana.

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Em recente visita a Buenos Aires, Morales encontrou também a solidariedade de Kirchner para desenvolver projetos de cooperação bilateral. "Viemos apoiar Morales", disse o argentino à imprensa em La Paz, antes de romper o protocolo e saudar a população e beijar crianças na Praça das Armas de La Paz.

Toledo manifestou que continuará cooperando com a Bolívia, apesar das críticas internas causadas por esta atitude no Peru, onde é questionada uma doação de um milhão de dólares para reabilitar a cidade de El Alto depois de uma rebelião popular que provocou a morte de 60 civis em choques com o Exército, assim como a renúncia do presidente liberal Gonzalo Sánchez de Lozada, em outubro de 2003. Em El Alto vivem cerca de 50 mil peruanos, segundo Toledo, mas dados extra-oficiais apontam 200 mil.

Muito significativa também foi a presença de Ricardo Lagos na posse de Morales por se tratar do primeiro presidente do Chile a visitar oficialmente nos últimos 50 anos a Bolívia, país com o qual Santiago não tem relações diplomáticas desde 1978 por causa de divergências marítimas.