Impedida de sair da Venezuela desde 2014, por ordem do regime ditatorial de Nicolás Maduro, e proibida de pegar voos domésticos, a ex-deputada opositora María Corina Machado, 50, do partido Venha Venezuela (direita liberal), viaja por terra para protestos contra o chavista.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo na sede de seu partido em Caracas, ela afirma que a população do interior do país vive uma emergência humanitária, mas não tem como ser ouvida.
"Há um apagão informativo em grande parte do país, porque não há mais cobertura da imprensa nacional ou internacional, as estradas são interditadas por horas impedindo a população de ir comprar comida ou remédios em outra cidade. E falta eletricidade, portanto não se pode divulgar nada pelas redes sociais."
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Sobre as eleições presidenciais do próximo dia 20, Corina diz: "Não é que estou pregando a abstenção, e sim afirmando que isso não será uma eleição, e sim uma nova fraude, não podemos ir às urnas, pois não adiantará nada e seremos cúmplices da ditadura".
Nem mesmo sabendo que um opositor está adiante nas pesquisas de intenção de voto? "Não, porque Henri Falcón é parte do jogo do governo, é de interesse do regime que haja um opositor como ele, enquanto os outros estão impedidos de concorrer."
Corina conta que voltou da fronteira com a Colômbia sem esperanças ao ver o esquema de contrabandistas de mercadorias e pessoas, ao qual chamou de máfia, e conversar com refugiados.
"Ninguém vai embora feliz, é muita tristeza ver pessoas deixando para trás os pais idosos, ou as crianças pequenas, que ficam com os avós."
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Para ela, o êxodo atual é só o começo de uma situação que deve se agravar com a hiperinflação projetada para este ano -13.800%, segundo o FMI. "Aí sim teremos a tragédia completa, haverá campos de refugiados com milhares de venezuelanos nos países vizinhos."
Solução
A ex-deputada diz acreditar que não há saída da crise por meio das urnas. "Não se trata só de uma ditadura, e sim do crime organizado no poder, um narcoestado que entregou seu território para que aqui encontrassem refúgio as dissidências das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do ELN (Exército de Libertação Nacional), cartéis mexicanos e células de grupos terroristas islâmicos."
A solução, para a líder opositora, é continuar a pressão, dentro e fora do país. Crê que os universitários "estão de pé, e com muita valentia para enfrentar essa situação", embora as manifestações de rua tenham se reduzido, "porque existe também o medo generalizado da repressão".
Corina também considera relevante o fato de os juristas escolhidos pela Assembleia Nacional opositora para compor o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) e deixaram a Venezuela terem juntado provas para processar Maduro no exterior.
E defende as sanções aplicadas contra o governo na Suíça, no Panamá, nos EUA e na União Europeia. "Gostaria muito de ver o Brasil e a Argentina colocando sanções também, assim como o Chile e o Peru."
Para a opositora, as posições firmes de presidentes da região e as sanções existentes provocaram divisões no regime. "Nas Forças Armadas já há camadas, principalmente as que não se beneficiam tanto do sistema, que estão contra o governo, na Justiça, na PDVSA [petrolífera estatal], há muita divisão. É uma questão de persistência", afirma.
Indagada sobre se não considerou brando o documento do Grupo de Lima na última Cúpula das Américas, que não fez menção direta a não reconhecer o pleito do dia 20, Corina afirmou: "O Grupo de Lima já se posicionou contra a Assembleia Constituinte e as decisões que dela emanam. E essa eleição vem daí."
E, sobre o fato de presidentes como Mauricio Macri (Argentina) e Juan Manuel Santos (Colômbia) terem dito abertamente que não reconhecerão os resultados, mas o Brasil não ter afirmado isso, a opositora disse que o país deveria ter consciência de reconhecer o que chamou de narcofraude.
"O Brasil vem respaldando nossa posição e nos ajudado muito, espero que atue assim também no dia 20 de maio. Pedimos ao Brasil e à comunidade internacional um não reconhecimento da eleição."
E conclui: "A única maneira de fazer Maduro sair é que o barulho internacional e as dificuldades para ele sejam maiores que o que está ganhando ao ficar."
*María Corina Machado, 50, é engenheira industrial, começou na política coordenando a coleta de assinaturas para o referendo revogatório do mandato de Hugo Chávez, em 2004; eleita deputada em 2010 e cassada cinco anos depois, liderou os protestos contra Maduro em 2014 e 2017.
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