Pressionado para aceitar em território britânico crianças refugiadas sírias, o primeiro-ministro David Cameron sinalizou, nesta quarta (4), que está disposto a abrir as portas para os menores que entram na Europa desacompanhados.
“Já estamos recebendo crianças imigrantes com conexão familiar no Reino Unido e vamos acelerar esse processo. Estamos vendo o que podemos fazer mais”, disse Cameron, durante a sessão de perguntas que acontece semanalmente no Parlamento britânico.
A ideia é abrigar crianças desacompanhadas de pai, mãe ou outros parentes ainda este ano, apesar de não ter uma data tampouco um número de beneficiados definidos.
A proposta para receber os refugiados menores de 16 anos, apresentada pelo Partido Trabalhista, que faz oposição a Cameron no Parlamento, foi inicialmente barrada pelos conservadores por explicitar o número de 3.000 crianças a serem abrigadas pelo Reino Unido.
O número foi retirado do texto e, agora, Cameron sinaliza não ver objeções, apesar de afirmar que tirar essas crianças de onde estão -países como França, Itália e Alemanha, nações democráticas e seguras- pode representar um “insulto” a esses países.
Ele ressaltou que pretende continuar investindo para assegurar apoio nos campos de refugiados e nos países vizinhos. “O que não quero fazer é estimular essa viagem perigosa, que pode resultar em mais mortes ao invés de uma vida melhor aos imigrantes”, afirmou.
Disse também que pretende aceitar apenas os que chegaram à Europa antes do acordo firmado entre União Europeia e Turquia, que permite recusar a entrada de refugiados.
Integrantes do próprio partido de Cameron já demonstravam desconforto com a decisão de vetar a recepção de crianças desacompanhadas e ensaiavam votar contra o líder dos conservadores.
Entre o grupo que pressiona Cameron para aceitar os sírios desacompanhados está também judeus que chegaram crianças ao Reino Unido, ainda nos anos 1930, fugindo da guerra.
Troca de acusações de antissemitismo pautou o embate entre o primeiro ministro e o líder oposicionista Jeremy Corbyn, cujo Partido Trabalhista precisou afastar dois militantes por declarações contra judeus.
Cameron acusou Corbyn de ter dito ser amigo da milícia libanesa Hizbullah e da facção palestina Hamas que, segundo o primeiro-ministro, apoiam a morte de judeus.
Por mais de uma vez, Cameron provocou o adversário político, que disse não ser amigo de quem defende o antissemitismo, mas afirmou ter defendido o diálogo em busca da paz.
“Brexit”
O primeiro-ministro também foi questionado sobre se os salários podem aumentar caso o país opte pelo “Brexit” (saída do Reino Unido da União Europeia).
Cameron se limitou a dizer que as consequências econômicas serão negativas. “É o que os especialistas dizem.”
No dia 23 de junho, os britânicos decidem, por meio de um plebiscito, se querem permanecer ou deixar a União Europeia (UE).
Em fevereiro, Reino Unido e UE firmaram um acordo na tentativa de garantir um status especial aos britânicos dentro do bloco. Cameron conseguiu, por exemplo, autorização para limitar benefícios a imigrantes europeus recém chegados e garantia de que não haverá discriminação pelo fato de seu país estar fora da zona do euro.
Críticos, contudo, avaliam as medidas como insuficientes. De fato, pesquisas indicam empate técnico na disputa entre os defendem e os que são contra o “Brexit”.
Nesta quarta (4), a comissão da União Europeia composta por 19 lordes do Parlamento britânico divulgou um relatório afirmando que o processo de retirada do bloco será uma “tarefa complexa e difícil”.
Os lordes destacaram que 4 milhões de pessoas podem ficar numa espécie de “limbo”. Eles se referem aos direitos já adquiridos por aproximadamente 2 milhões de europeus que vivem no Reino Unido e por um número igual de britânicos que moram na Europa.
O relatório afirma ainda que o “Brexit” vai exigir um longo processo de negociação, que deve se estender por anos. Além disso, não há garantias de que seja possível reverter o processo de retirada caso se mude de ideia.
A comissão, contudo, evitou se posicionar em relação ao plebiscito. O governo de David Cameron será chamado a se posicionar sobre o texto de 26 páginas.
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