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Primárias nos EUA começam com campanha radicalizada e polarizada

Disputa pelo poder após a saída de Obama está acirrada nos EUA. | LSD/TY/LARRY DOWNING
Disputa pelo poder após a saída de Obama está acirrada nos EUA. (Foto: LSD/TY/LARRY DOWNING)

Começa nesta segunda-feira (1º) o processo de primárias dos Estados Unidos para as eleições presidenciais de 2016. Neste ano, chama atenção a polarização das campanhas: nos dois principais partidos, candidatos considerados mais radicais, à esquerda e à direita, vão bem nas pesquisas, enquanto os moderados encontram dificuldades de deslanchar. Trata-se do resultado do que cientistas políticos americanos chamam de “partisanship” – a divisão cada vez mais profunda da sociedade em dois campos políticos opostos que não dialogam.

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Os dois lados começam a campanha com fenômenos que, se não totalmente inesperados, fogem muito do espectro político tradicional do país. No lado democrata, o senador Bernie Sanders, identificado como um socialista e um defensor ferrenho da participação do Estado na redução das desigualdades sociais, disputa a indicação do partido com Hillary Clinton, escolha de continuísmo da gestão de Barack Obama – o moderado Martin O’Malley corre por fora.

Candidatos

Do lado republicano, o fenômeno é o bilionário Donald Trump. Apesar de não ser tão radical quanto o Tea Party nas questões econômicas (ele defende, entre outras coisas, a taxação dos mais ricos), seus posicionamentos radicais contra os muçulmanos e os imigrantes chama a atenção – até por seus flertes abertos com a xenofobia e com o preconceito religioso. Outros 11 candidatos estão na disputa.

Apesar de chamarem a atenção, não são apenas Sanders e Trump que radicalizaram seus discursos. No lado republicano, o principal oponente de Trump, Ted Cruz, defende abolir o imposto de renda e o departamento de educação. Já Marco Rubio considera que políticas para amenizar o aquecimento global vão destruir a economia americana.

Com o sucesso dos três (e do também radical Ben Carson, que perdeu força nas pesquisas, mas continua em quarto lugar), a ala moderada do partido tem dificuldades de emplacar um nome. Inicialmente, a aposta era em Jeb Bush, ex-governador da Florida e irmão do ex-presidente George W. Bush. Entretanto, mesmo tendo a campanha mais cara até agora, ele não consegue sair da quinta colocação, com apenas 5% dos votos republicanos.

Já no campo democrata, os posicionamentos de Sanders e as demandas dos eleitores têm puxado o debate para a esquerda. Temas antes delicados, como a adoção de um salário mínimo (algo trivial no Brasil e na Europa, mas fora do esquadro político dos Estados Unidos), a ampliação do chamado Obamacare e a legalização do casamento homoafetivo e do aborto viraram consensuais entre os candidatos.

Apesar dos pontos comuns, Sanders é crítico de políticas da gestão Obama, como o envolvimento militar no Oriente Médio e a falta de regulação de Wall Street – os republicanos reclamam que, pelo contrário, há regulação demais. Por causa disso, mesmo tendo opiniões que, há dez anos, seriam considerados radicais, Hillary é vista pelos democratas como uma opção moderada.

Chances

No campo democrata, a disputa está polarizada entre Sanders e Hillary. No quadro nacional, a ex-secretária de Estado aparece à frente, mas os dois estão empatados nas pesquisas em Iowa e Sanders lidera em New Hampshire. Como Sanders está crescendo nas pesquisas e Hillary caindo, uma eventual vitória em Iowa poderia ser o ponto de virada da campanha do senador de Vermont.

Não à toa, ele se reuniu com Obama na última quarta-feira. O encontro com o atual presidente, que se declara neutro, é uma forma de tirar a imagem de radical que Sanders tem entre grande parte do eleitorado americano – o que será essencial durante a campanha real, caso ele vença as primárias.

Já entre os republicanos, a disputa está embolada. Trump lidera com cerca de um terço dos votos e, nacionalmente, Cruz e Rubio estão na segunda e terceira posições. Entretanto, a rejeição de Trump entre minorias, especialmente no eleitorado latino, diminui as chances de ele efetivamente ser candidato.

Há outros 9 candidatos na disputa. Bush e Carson não podem ser consideradas cartas totalmente fora do baralho. Em New Hampshire, John Kasich aparece bem nas pesquisas e pode se cacifar como um candidato relevante, caso tenha um bom desempenho. Logo, a disputa republicana está aberta e imprevisível.

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